Capítulo 2 - 13 de março de 2017

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Eram quase nove horas quando Mariana chegou em casa. O dia passara como um borrão. O novo cargo e as novas responsabilidades ocuparam todo seu tempo, dentre elas a revista quinzenal, não dando espaço para que ela pensasse em Gustavo um só momento.

Seu trabalho era sua vida. Iniciou sua carreira no jornal no segundo ano de faculdade e Rafael sempre foi seu mentor e lhe ensinou quase tudo que sabia. Ele sempre lhe confiou tarefas muitos além dos cargos que ocupava.

Na vida solitária que levava em São Paulo, o chefe era seu único amigo, além de André, seu irmão. Aos vinte e seis anos, Mariana limitava-se a trabalhar e escrever nas horas vagas. A paixão pela escrita a acompanhava desde nova. Utilizava as matérias mais esdrúxulas que fizera como inspiração para os rabiscos do seu livro de suspense.

Saiu da casa dos pais quando passou em Jornalismo na USP. A mudança foi o seu primeiro passo para tão sonhada liberdade, mesmo que na época ainda dividia um apartamento com seu irmão. A relação com sua mãe sempre foi conturbada e deixar os ares do campo a fez conhecer novas possibilidades.

Foi na fazenda do seu pai que Mariana conheceu Gustavo. Ela com quatorze e ele vinte cinco. Na época ele tinha sido contratado como veterinário. Seria quase uma paixão à primeira vista, se não fosse os hormônios gritantes que a fizeram implicar com ele logo que lhe conheceu. Talvez tivesse caído de quatro logo de cara, mas jamais admitiria.

O carinho que Gustavo demonstrava pelos cavalos fez com que Mariana se encantasse por ele. Vinda de uma família de criadores de puro sangue, a paixão pelos equinos sempre foi uma condição primordial para determinar o caráter de uma pessoa: "se uma pessoa gosta de cavalos pode confiar, se não gosta desconfie", já dizia seu pai. Parecia uma filosofia estranha, mas foi assim que aprendeu.

Pela diferença de idade sua mãe jamais aprovou a paixonite. Em vários momentos, pensou em fugir de casa várias vezes para viver aquele amor, até perceber que era nova demais para ele, e talvez não pudesse lhe dar na época tudo que ele desejava. Não poderia dar a ninguém, nem mesmo hoje depois de ter se tornado uma mulher.

Jogada no sofá, imersa nas lembranças do passado ela deixou se levar.

A ansiedade de Mariana não era pela festa pomposa que sua mãe tinha organizado, muito menos pelos seus quinze anos. Era por ele. Gustavo tinha garantido que iria. Não seria ele que a conduziria na valsa ridícula que sua mãe insistiu, mas ele estaria lá. E isso bastava.

Não fazia questão de nenhuma comemoração. Mas foi impossível deter Ruth que durante os dois anos planejou a festa da filha. Os figurões mais importantes do ciclo de amigos e negócios de seu pai estavam lá. Uma fila interminável de pessoas, conhecidas e que nunca vira na vida, aguardavam para cumprimenta-la.

Aos lado de seus pais, cumpriu o protocolo enquanto seus sapatos afundavam na grama. Abraços, beijos e sorrisos, tudo mecânico e meticulosamente ensaiado conforme os desejos de sua mãe.

Já estava cansada quando a valsa terminou. Aos poucos as pessoas assim como ela pareciam relaxar. Entre as mesas espalhadas, os convidados dispersavam pelo imenso jardim em frente ao casarão. E foi justamente naquele momento que a festa ganhou um brilho especial. Gustavo aproximou-se com as mãos no bolso e um sorriso doce nos lábio.

— Você está linda, Mariana. — não conseguia olha-lo, foi tomada por um ardor em sua face. — Te convidaria para dançar, mas acho que sua mãe não aprovaria.

Achou graça no comentário e num ato impulsivo arriscou-se:

— Podemos dançar atrás da casa. — verbalizou aquilo que tinha idealizado durante meses.

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