BÔNUS X - CAPA VOADORA narrando...

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Eu a vi ontem e estava linda como sempre. Prefiro-a com seu jeito natural, sem preocupação com batom ou se o sapato está combinando com o vestido. Não quero admitir que desejo revelar meu rosto a ela. Engraçado, nos últimos dias ela me fez ver o mundo de uma forma diferente e não estou mais me reconhecendo. Às vezes, quero abandonar tudo e não perseguir mais Gaby, mas não vou recuar, o plano está pronto e vou executá-lo.

Lisandra é apenas uma garota intrometida que vai aprender a não estragar os planos dos outros. Desta vez, as coisas vão ser de outro jeito e não vou recuar meus passos.

Gaby vai me pagar pela costela quebrada e pela humilhação ao sair de sua casa, esperando a aceitação de uma reconciliação. 

Ao sair da academia numa segunda-feira de manhã, recebi uma ligação da amiga de Gaby. Ela vinha com uma história de precisar dos meus trabalhos de ator e que seria uma oportunidade de resolver meus desentendimentos com Gaby.  

O encontro foi marcado num restaurante próximo de casa, onde justamente eu levava Gaby para almoçar. Quando eu estava sentado a mesa, tomando o segundo copo de suco natural, Miriam, a moça que marcara comigo, chegava com uma pasta fina entre as mãos.  Eu já tinha a visto antes, mas nunca conversávamos muito.

Ela me cumprimentou, estendendo uma de suas mãos. 

  —  Olá, Matheo. Posso me sentar? —  ela perguntou educadamente, esperando meu consentimento. Levantei-me e puxei a cadeira para ela. 

—  Obrigada —  agradeceu Miriam, abrindo a pasta e pouco se preocupando se iria fazer algum pedido ou não. Eu chamei o garçom e fiz meu pedido, sem me importar se a moça me acompanharia ou não. 

—  Vai pedir alguma coisa?    —  entreguei o cardápio a ela. Miriam aceitou e pediu um prato de macarrão integral. — Então, quer que eu faça papel de palhaço em qual circo? — toquei no assunto a qual viemos tratar. 

  —  Gosto desse seu toque de sarcasmo inteligente. Mas o assunto é um pouco mais sério e não poderá existir falhas —  disse Miriam, juntando as duas mãos e me encarando. 

Era uma moça muito atraente e seus cabelos  castanhos e longos nos dois lados do rosto acrescentava um charme a sua beleza. Loiras nunca foram minhas preferidas, mas Gaby me enfeitiçou de tal maneira a me derrubar. 

  — Gaby vai fazer um reality show na sua live do Instagram na próxima semana e ela vai precisar de um ator experiente que faça papel de um perseguidor obcecado, enfim, que tenha um comportamento de um psicopata igual a esses em filmes e histórias verídicas espalhadas pelo mundo. 

Estreitei meus olhos e quis me levantar num sobressaltado, sentindo-me ofendido e otário por ter comparecido a um tipo de encontro daqueles. Era como se eu estivesse fechando um acordo de criminoso. 

—  Não me olhe assim, diga alguma coisa. Aqui está o contrato e poderá decidir o valor que desejar, mas precisa manter em segredo esse papel e convencer as pessoas presentes.

Umedeci os lábios e apoiei os dois cotovelos sobre a mesa, permanecendo calado e sendo um ouvinte profissional. 

  — Então, vai continuar nesse suspense até quando? Diga, me dê uma resposta, se acha o trabalho difícil, já antecipo a presença de outro ator. 

O garçom, neste momento, trazia os pratos e a conversa só continuou quando nosso almoço estava diante de nós. Meu prato consistia de bife a molho de abacaxi, arroz e um pouco de alface e tomate. 

— Gaby gostava de comer aqui e sempre escolhia este prato —  falei, preparando-me para comer e dar a resposta depois. 

Miriam se ajeitou a cadeira e nem tocou em seu macarrão, ficou esperando e olhando o movimento de minhas mãos cortando o primeiro pedaço do prato principal. 

— Esse outro ator irá auxiliá-lo para facilitar o trabalho, vamos dizer assim. Vamos eliminar aos poucos os participantes e deixar uma quantidade razoável para que vocês dois possam estar em lugares diferente fazendo o mesmo papel — explicava Miriam, interessada no meu bife. 

—Quer um pedaço? — ofereci, empurrando delicadamente o prato para perto dela. 

Miriam aceitou e retirou um pequeno pedaço do bife e depois jogou um pouco do molho cítrico sobre ele. Experimentou e aprovou. 

— Realmente, é muito bom e então, posso aguardá-lo no próximo sábado? É só fecharmos o contrato e tenho certeza de que Gaby vai querer conversar com você e quem sabe vocês poderão voltar a se relacionar como antes. 

Aquilo era uma piada de mau gosto, e eu não sou tão tolo assim. Gaby quer me pintar como um vilão na história e se houver falhas, posso até me comprometer seriamente. 

— Isso não é perigoso? — perguntei, querendo saber sobre a garantia de segurança. - O que devo fazer  na verdade? Ferir alguém está incluído no contrato? - brinquei, tomando um gole do resto do suco. 

Miriam arqueou as sobrancelhas e limpou os lábios com guardanapo, querendo parecer muito educada e ligada em etiquetas de bom comportamento. 

— Não deve ferir ninguém, apenas assustar. Somente isso. Precisa parecer um sequestro e o script está aí, estude-o e saberá como um louco, apaixonado pela sua ídola deve se posicionar. 

— Por que Gaby teve essa ideia? Um pouco exagerada não acha? — continuei enrolando para confirmar. 

— Ela quer mais seguidores e como ninguém passou por isso antes, ela quer ver as pessoas preocupadas e interessadas nessa live. Só isso, não acha divertido? 

Tive de rir para não chorar e li o contrato, colocando o valor desejado e assinando meu nome abaixo, garantindo o silêncio daquele circo todo. 

—Aí está, ficou feliz agora? Vou ser o tal do louco —digo, atentando-me ao almoço e comendo, como se aquela conversa estranha tivesse acabado. 

— Estou sim e não vou embora enquanto não acabar este macarrão, por favor, converse comigo, posso lhe dar algumas instruções. E não se preocupe, porque a polícia local foi avisada, caso algo saísse do nosso controle, porque queremos convencer realmente os que estiverem dentro do casarão, onde acontecerá as filmagens.

Coçei o queixo e franzi as sobrancelhas, assustado com a tamanha audácia daquela invenção. E ao voltar em casa, iniciei a leitura dos textos e diante do meu espelho, comecei a interpretar, querendo adquirir a personalidade exigida. 

No dia da tal live, eu me preparei, tomando o cuidado de não ter o meu rosto revelado de forma alguma. Eu fiquei em um quarto e o outro rapaz ficava no outro. Ele seria o primeiro a fingir uma abordagem quando encontrasse Gaby. O problema é que os gritos dela se tornaram tão agudos e a minha interferência foi necessário, senão o cara ainda estaria estourando o rosto dela com os socos.  Acabamos lutando um contra o outro e para não pôr tudo a perder, aconselhei-o aos berros para sair antes de dar errado o plano. 

Gaby chorava e sentia muitas dores, então a segurei e pedi para que ela continuasse gritando. 

—Continue, não podemos parar agora, ninguém mais vai agredi-la, eu prometo, depois eu converso com aquele doido. 

Ela permanecia de joelhos até as outras pessoas surgirem. Mostrei a pequena faca a ela e garanti não usar, apenas fingiríamos. 

— Ele é um louco! — Gaby exclamava, tentando limpar o sangue do nariz. 

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