"Basta dar o melhor de si"

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Enquanto as crianças estavam na escola, Alayne me mostrou o resto da casa, como preparar a comida das crianças e em que horário dar suas vitaminas. Alayne disse que, apesar de muito gentis, Sr. e Sra. Kellan eram muito exigentes em relação a criação das crianças, e isso me deixou tensa.
Curiosamente, a parte que mais gostei do apartamento foram os banheiros. Ao todo quatro, se contarmos com o quartos. Às 11h30, minha nova companheira de trabalho me levou ao estacionamento e quando ela apontou qual era o meu carro, pude jurar que minha alma saiu do corpo e voltou em questão de milésimos. O carro é um Civic 2017 prateado.
Santo Deus! Eu quase chorei de emoção. Alayne morreu de rir com minha reação! Tá, legal, não era de fato meu carro, mas Alayne disse que enquanto eu trabalhasse para os Kellan, seria totalmente meu.

ㅡ Eles têm tipo, zilhões de dólares! Sophie vem de uma família rica de doutores, e a família de Jamie não era tão rica antes de ele ficar de "fato" rico, mas ele sempre teve dinheiro. O que é um carro pra quem pode comprar um praticamente toda semana?

Alayne disse com tanta naturalidade. Acho que já está acostumada à viver com ricos. Depois de olhar todos os detalhes do meu sonho em forma de carro, Alayne sugeriu que fôssemos nele buscar as crianças na escola, para se adaptar logo, ela disse com um risinho nos lábios. Ela foi praticamente me guiando o trajeto todo durante a viagem.

Graças a Deus o caminho era reto e à quatro quadras do prédio deles. Alayne me observava o tempo todo, minhas mãos não paravam de suar e comecei a ficar um pouco tensa. As crianças riam o tempo todo no banco de trás, apesar de não falarem alto. Fiquei com medo de me desconcentrar e causar um desastre. Mas não aconteceu nada. Amém.

Apesar de tudo, eu definitivamente gostava de Alayne, ela falava como se fôssemos íntimas e sem arrogância nenhuma por eu estar sujeito à sua "superioridade". Ela é simples, não fala coisas difíceis e me trata como uma pessoa normal.
Curiosamente, Alayne mora no limite que fica entre meu bairro e outro, com sua mãe que é dona de uma pequena farmácia. O pai falecera à quase 10 anos e desde então, eram só as duas. Tenho quase certeza que já fui a farmácia delas comprar aspirinas.

                        ***                          

Perto do relógio marcar 18h, agradeço por tudo ter saído bem. Rennie acabou de sair do banho e está colocando pijamas enquanto Ryan lê algo em um gibi qualquer. Devo confessar que estou louca por um banho quente e minha cama...

ㅡ Srta. Skylar, quantos anos tem? ㅡ pergunta Rennie entrando na cozinha. Estou preparando suco de maracujá e cookies para ela e Ryan.

ㅡ Dezenove, e você?

ㅡ Seis, e Ryan oito.

ㅡ Nossa, quase adultos... ㅡ brinco. Faço Rennie sorrir e duas covinhas aparecem.

ㅡ Você está cansada?

ㅡ Um pouco. ㅡ bastante, na verdade.

ㅡ Por que não está na faculdade?

Ok. Essa pergunta me pega de surpresa. Não sei como responder.
Pego a jarra na geladeira e despejo um pouco de suco em casa um dos dois copos de vidro.

ㅡ Ah... então... nem todo mundo precisa ir para a faculdade, sabe?

ㅡ Meu pai diz que se não estudarmos em uma boa faculdade nunca vamos comseguir ser alguém importante.

ㅡ Seu pai está certo, por isso você e seu irmão terão que estudar muito. ㅡ tento terminar a conversa.

ㅡ Se você não está na faculdade, o quê vai fazer da vida?

A garota parece não ter interesse em encerrar esse assunto.

ㅡ Bom, vou cuidar de duas crianças  muito lindas e inteligentes. Sabe, conheço uma garotinha que faz muitas perguntas, como posso dizer... Interessantes para a idade dela. ㅡ Rennie solta uma gargalhada gostosa que ecoa por toda a cozinha. ㅡ Bom, mas nada de faculdades agora. O mais importante no momento é o lanchinho.

Vamos para a sala e dou o lanche para as crianças. Ryan come calado, parece estar com cabeça em outro lugar. Rennie me olha de um jeito estranho, parece estar pronta para mais perguntas que não estou afim de responder.

ㅡ Você tem filhos, srta. Skylar...?

Não. Mas um dia tive.

ㅡ Não. ㅡ respondo rapidamente.

ㅡ Entendo... você jovem demais, não é? Mamãe disse que só podemos ter filhos depois dos vinte e cinco.

ㅡ Ok, Rennie, apenas coma.

Ela me lança um olhar tristonho. Era o que me faltava... Depois de dez minutos, a porta se abre e todos olhamos ansiosos para ela.

ㅡ Oi. Chegamos...

Sophie e Jamie entram juntos.
Jamie passa direto por nós e vai em direção aos quartos. Sophie deixa seu sobretudo, pasta e a bolsa no sofá.

Mamãe! ㅡ as crianças gritam em unissom.

ㅡ Ai, que saudades dos meus filhinhos... ㅡ ela deixa um caixa quadrada, que parece ser de pizza na mesinha de centro e os abraça.
As crianças começam a falar ao mesmo tempo. Sophie fecha os olhos e sorri impaciente.

ㅡ Okay, okay... Depois conversamos sobre as novidades. ㅡ ela suspira.

ㅡ Precisa de alguma coisa, senhora? ㅡ me manifesto.

ㅡ Não. Ah... trouxe pizza para comemorarmos.

Percebo que que a mulher parecer animada, mas sua expressão corporal diz totalmente o contrário. Sophie  ainda está como de manhã. Impecável.

ㅡ Então, vamos comer!

As crianças e eu pegamos os talheres e pratos na cozinha enquanto Sophie descansa no sofá. Posso vê-la daqui, realmente parece preocupada. Ela tira os sapatos e massageia a lateral da cabeça. Talvez esteja com problemas...
Quase no final da pizza e depois dos meninos falarem pelos cotovelos, Sophie me pergunta o que achei do carro.

ㅡ Maravilhoso, senhora. Eu nem sei como agradecer. Vai ser muito útil. Prometo tomar muito cuidado. Pode acreditar.

Ela apenas dá um sorriso cansado.

ㅡ É seu, Skylar. Não sei preocupe com isso.

Olho o celular. Quase 18:30.

ㅡ Então, espero ter feito tudo certo, senhora. Não quero decepciona-lá... se me permitir, posso ir?

ㅡ Claro.

ㅡ Quer que eu faça algo antes de ir?

ㅡ Não, querida. Podemos nos virar daqui pra frente.

ㅡ Obrigada pela pizza.

ㅡTudo bem. ㅡ Sophie me olha e dá meio sorriso cansado.

Pensei em agradecer mais uma vez e dizer o quanto precisava daquele emprego, mas parecia um pouco desesperado demais. Resolvi deixar para outro dia. Sem mais delongas, peguei minha bolsa, me despedi das crianças com um abraço e saí.
                                  
A sensação de dirigir meu próprio carro foi insano! Ele ainda tem cheiro de novo, é limpo, espaçoso e apenas meu! Devo confessar que estou com medo. Não medo de dirigir. Medo de tudo que está acontecendo. As coisas estão boas demais para ser real.
Tudo está indo bem e tenho receio que tudo acabe em um piscar de olhos.
Me repreendo instantaneamente. Não quero pensar assim, afinal, ninguém vive na pior para sempre, não é? Acho que depois de tudo o que passei, talvez eu mereça algo que se compare a alegria.

Mil Noites Sem Ela (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now