A Cidade Está de Luto

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Não havia uma única alma em toda aquela cidade que não estivesse sentindo o peso da morte de Audrey Knight

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Não havia uma única alma em toda aquela cidade que não estivesse sentindo o peso da morte de Audrey Knight. Hope sabia daquilo melhor do que ninguém. O demônio que a acompanhava desde sua infeliz tentativa de suicídio parecia extremamente satisfeito. Ele costumava se alimentar de situações ruins, deixando o clima de qualquer cômodo no qual estivesse presente mergulhado em hostilidade. Para Hope, era difícil lidar com a bipolaridade das tensões humanas e demoníacas misturadas em uma só realidade; ou ela se sentia triste por Audrey, ou irritava-se com a felicidade do demônio. Os dois juntos eram difíceis de controlar.

Por aquele motivo ela estava arisca na manhã seguinte ao descobrimento do corpo. Mal dormira após a invasão de Dylan em seu quarto, sempre acordando com barulhos estranhos e não conseguindo dormir quando a mente insistia em divagar sobre a circunstância na qual ele simplesmente escolhesse apertar um pouco mais o seu pescoço. Não era saudável; não era normal. Mas ela gostava. A ideia da morte pelas mãos de outra pessoa fazia com que a culpa do suicídio diminuísse drasticamente, deixando as preocupações sobre o céu e o inferno de lado.

Era uma ótima questão moral.

— Hope, querida, você precisa comer.

Os olhos de Abigail Christine Johnson encaravam os da filha insistentemente. Ela não estava acostumada a ver uma figura tão moribunda logo pela manhã. Hope tinha muitos defeitos, mas mau-humor matutino não era um deles. Se a filha estava quieta, então algo de errado havia acontecido. Abigail sabia o que era — impossível não saber, naquela altura do campeonato —, mas preferiu não forçar a situação e deixar que a adolescente nada rebelde à sua frente falasse. A morte era uma coisa delicada demais para se escolher como assunto principal no café da manhã em família.

— Estou sem fome, mãe.

— Tome o suco, então. Só isso. É natural, vai te fazer bem.

Hope engoliu o copo todo em dois goles. Então olhou para a mãe em busca de aprovação e recebeu um leve e tímido sorriso como reposta. Gostava de satisfazer as vontades de Abigail quando a recompensa era um gesto tão simples e proveitoso como aquele. Hope odiava ser paparicada com outras coisas além das que achava merecer — bens materiais, por exemplo, eram repugnantes.

— Seu pai quer te levar para a escola hoje — disse Abigail. — Ele está preocupado.

Ah, sim. Claro que o lado superprotetor de Robert Vincent Johnson iria aflorar. Ele sempre aparecia quando as coisas ficavam horríveis, tentando fazer com que elas melhorassem. Hope não odiava de todo aquela atitude, mas, de vez em quando, achava que aparecer um pouco antes da bomba explodir seria de maior ajuda. Evitar um desastre era bem melhor do que controlar o desastre, segundo a sua experiência.

Audrey Knight era a prova daquela filosofia.

— Tudo bem — Hope concordou, pegou a sua mochila e saiu da mesa.

Baby, Don't Go #1 (LIVRO FÍSICO)Where stories live. Discover now