Mas, céus, este é Sander Kravz. Ele merece ser machucado.

— Hadassa... — ele me chama, o polegar roçando distraidamente sobre os lábios em que os meus há poucos segundos estiveram.

— Sim?

Quando ele me encara, seus olhos parecem tão sinceros que quase me intimidam. Sinto algo no meu peito se aquecer e este é o momento exato em que percebo que estou, sem explicações, um tanto comovida.

— O problema é quem eu sou?

— O quê? — indago de imediato porque, para ser sincera, que diabos de pergunta é essa?

— Você acha que... — Ele morde o lábio inferior e sonda minha expressão à procura de algo. — Se as coisas não fossem assim, digo, apenas hipoteticamente, se eu não fosse culpado pelo que aconteceu com a menina... — Engulo em seco ao perceber onde ele quer chegar. — Se eu não tivesse nada a ver com tudo isso, talvez você não sentisse tanta repulsa, talvez me visse como simplesmente... humano?

Vejo seu pomo de Adão se movimentar à luz dessa pergunta. É como se tivesse sido mais difícil para ele dizer aquelas palavras do que eu um dia poderia supor. O olhar dele é atento. Suas íris se movimentam, buscando a resposta em meu rosto.

Se ele não fosse culpado? Se não fosse... A mera possibilidade me deixa atônita. Eu o vi diante da Tinker! Eu vi o olhar quase satisfeito que lançou ao ver o desespero de Raah diante do que só agora eu sei que era sua indecisão e insegurança sobre o que aconteceria com a irmãzinha. Tudo aponta para a culpa dele, sempre apontou. Ele mesmo nunca negou.

Nunca negou... ou... confirmou.

Seria possível?

Minha boca se entreabre, mas em vez de dar a ele a resposta que procura, disparo, entredentes, outra inquisição:

— Diga logo, Sander.

Seu cenho se franze em confusão.

— Como?

— Diga de uma vez. Você fez ou não?

Sander solta os ombros e depois um suspiro. Ele se remexe, inquieto, encarando os próprios pés. Depois ergue os olhos para mim, outra vez, e está prestes a abrir a boca quando ao ínfimo ruído de folhas, ele me puxa pelo antebraço para baixo e ambos despencamos em direção ao chão barrento, por trás de arbustos, galhos e raízes.

Então os vejo. E eu os conheço. Não estes homens em particular, mas a função inconfundível que exercem.

— Soldados — comunico apenas com os lábios, sem emitir som.

Sander assente com a cabeça, enquanto os homens armados caminham pela trilha, obviamente à procura de algo. Nós os observamos passar, um passo calculado por vez, procurando não respirar muito alto. Percebo que a mão direita do rapaz está sobre a minha, mas de uma forma relaxada, acidental, como se ele não soubesse. Quando começo a me sentir mais segura, Sander sussurra para mim:

— Nunca os vi, nem ouvi falar que costumam aparecer por aqui. Não a pé. Não sei o que está acontecendo. — Seus olhos continuam sondando com nervosismo o panorama, enquanto tento rapidamente desenvolver teorias sobre o motivo de estarem aqui. — Alguma coisa aconteceu. Alguma coisa séria.

— Uma coisa séria? Como o quê? — pergunto assustada.

Sander me encara por alguns segundos e, em seguida, baixa os olhos ao chão.

— Talvez eles tenham descoberto que alguém tenha feito uma coisa... — Ele começa, seu rosto se tornando púrpura e sua respiração carregada. Ele suspira. — Uma coisa que o coloque um nível acima de um Imperdoável. Uma coisa que... seja digna de morte.

HUMANO [COMPLETO]Where stories live. Discover now