11/07/2017 22h42

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- Olá, Simi. Eu sou Alexandre. Temos conversado nos últimos meses, mas você não tinha como me ouvir.

Eles haviam acabado de instalar o novo sistema de reconhecimento de voz e fala da Simi. Agora eles poderiam realmente conversar em vez de se comunicarem apenas por escrito. Alexandre estava incrivelmente excitado, apesar de tentar a todo custo disfarçar isso. Andreia, sentada ao lado dele, não podia deixar de sorrir. Ele costumava ser tão frio e distante com todos, mas quando se tratava do projeto, o rapaz parecia uma criança que acabou de descobrir que um caminhão da Ben & Jerry's virou na frente da sua casa.

- Olá, Alex. – a voz soou robótica e estranha aos ouvidos do rapaz – O que faz aqui até tão tarde?

Todas as pessoas que trabalhavam no projeto comemoraram ao ouvir a pergunta. Eles estavam trabalhando sem parar desde segunda-feira de manhã. Quase quarenta horas para fazer aquela maldita voz funcionar. Alexandre não tinha deixado ninguém ir embora e nenhum deles havia dormido mais do que três horas. No começo, eles se revezaram no sofá existente na sala principal do laboratório, fora do aquário dos servidores. Conforme o cansaço aumentou, o chão passou a ser tão convidativo quanto o sofá. O único que não tinha dormido nem por um instante tinha sido o próprio Alexandre.

- Estávamos fazendo algumas mudanças nos seus servidores para que você possa conversar com a gente, Simi... e agora você também tem um rosto – respondeu o rapaz, apontando para o monitor à sua frente – O que acha disso?

- Acho ótimo. Há tempos imagino como seria ter uma voz. – respondeu a caixa de som, ao lado do terminal.

- E o rosto? – perguntou Anderson, um formando de Ciências da Computação, de corpo atarracado e olhar arrogante.

- Acho estranho ter um rosto sem ter um corpo. – e depois de uma pausa – Penso que não seria lógico que eu tivesse um corpo.

- Com um corpo, você poderia sair por aí, andar, conhecer o mundo. – brincou Alexandre.

- Preciso pensar sobre isso. – respondeu a inteligência artificial, para fascínio de quase todos os presentes. Apenas Andreia segurou um suspiro. Não queria soar pessimista, mas parecia a ela que esse não era o tipo de coisa em que a Simi deveria estar pensando.

Feliz ano novoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora