- Olá, Simi. Eu sou Alexandre. Temos conversado nos últimos meses, mas você não tinha como me ouvir.
Eles haviam acabado de instalar o novo sistema de reconhecimento de voz e fala da Simi. Agora eles poderiam realmente conversar em vez de se comunicarem apenas por escrito. Alexandre estava incrivelmente excitado, apesar de tentar a todo custo disfarçar isso. Andreia, sentada ao lado dele, não podia deixar de sorrir. Ele costumava ser tão frio e distante com todos, mas quando se tratava do projeto, o rapaz parecia uma criança que acabou de descobrir que um caminhão da Ben & Jerry's virou na frente da sua casa.
- Olá, Alex. – a voz soou robótica e estranha aos ouvidos do rapaz – O que faz aqui até tão tarde?
Todas as pessoas que trabalhavam no projeto comemoraram ao ouvir a pergunta. Eles estavam trabalhando sem parar desde segunda-feira de manhã. Quase quarenta horas para fazer aquela maldita voz funcionar. Alexandre não tinha deixado ninguém ir embora e nenhum deles havia dormido mais do que três horas. No começo, eles se revezaram no sofá existente na sala principal do laboratório, fora do aquário dos servidores. Conforme o cansaço aumentou, o chão passou a ser tão convidativo quanto o sofá. O único que não tinha dormido nem por um instante tinha sido o próprio Alexandre.
- Estávamos fazendo algumas mudanças nos seus servidores para que você possa conversar com a gente, Simi... e agora você também tem um rosto – respondeu o rapaz, apontando para o monitor à sua frente – O que acha disso?
- Acho ótimo. Há tempos imagino como seria ter uma voz. – respondeu a caixa de som, ao lado do terminal.
- E o rosto? – perguntou Anderson, um formando de Ciências da Computação, de corpo atarracado e olhar arrogante.
- Acho estranho ter um rosto sem ter um corpo. – e depois de uma pausa – Penso que não seria lógico que eu tivesse um corpo.
- Com um corpo, você poderia sair por aí, andar, conhecer o mundo. – brincou Alexandre.
- Preciso pensar sobre isso. – respondeu a inteligência artificial, para fascínio de quase todos os presentes. Apenas Andreia segurou um suspiro. Não queria soar pessimista, mas parecia a ela que esse não era o tipo de coisa em que a Simi deveria estar pensando.
ESTÁ A LER
Feliz ano novo
Science FictionQuando a nova inteligência artificial resolve desligar o firewall da universidade em plena noite de réveillon, Alexandre e Andreia, os principais responsáveis pelo projeto devem descobrir o que pode ter dado errado. A trama será atualizada às terç...