Lottie - DEGUSTAÇÃO

Tentativas

—cuidado Lottie, estamos no quarto ao lado.

Eu também não gosto disso, mas Dominic reservou uma suíte dupla no Hotel Shangri-La Paris, onde ficaremos os quatro hospedados, contudo, eu terei que dividir o quarto com ele, as minhas irmãs dividiram o quarto entre elas duas, eu nem sei porque pensei que seria diferente, afinal de contas, estamos namorando... certo?

Me sinto aborrecida desde que ele me falou aquelas coisas, mas prefiro não me desgastar com nenhum tipo de discussão, entro na suíte seguida por ele e olho envolta, todo o lugar tem uma decoração mais voltada ao clássico, cores em tons de pastel e branco, quadros da era medieval, mas algo bem chique, claro que não é algo que eu já não tenha visto nas viagens que fiz com a minha família, mas ainda sim, não deixo de me impressionar.

Dominic dispensou o funcionário do hotel assim que entramos no lugar, um carro com um motorista nos aguardava no aeroporto, logo eu concluí que o estilo de vida do meu tão novo namorado é bem mais chique do que eu imaginei, claro que Dominic parece um desses milionários mimados, a cara dele nem nega, mas como antes eu nunca havia visto todo o luxo que o cercava, ainda sim, me senti surpresa.

—gostou?—pergunta ele e deixa as malas num canto perto da cama.

—sim, é um lugar bem bonito e requintado.

Dominic se aproxima tirando o casaco, fico me perguntando como não percebi que ele passou por todo o processo de um tratamento de câncer, acho tão errado que ele tenha me escondido isso, que tenha me omitido o fato de ter sido casado, e acima de tudo que ele tenha contado para os meus pais e não para mim, se vamos fazer isso pelos nossos irmãos temos que ser sinceros um com o outro.

Odeio mentira.

Aprendi isso com os meus pais, não sei explicar exatamente o que leva as pessoas a mentirem, mas é o que mais acontece na vida da gente, confiar em alguém alguma coisa, e de repente, a pessoa mente para você, se há alguma sensação pior do que a de traição eu desconheço, por isso, ainda que eu seja uma cabeça dura, eu sempre procuro ser o máximo sincera com todos que eu conheço.

Isso não é tão legal, porque afasta as pessoas, ninguém gosta de ouvir a verdade, por incrível que pareça, as pessoas se doem com isso, e no final das contas, sempre quem fala a verdade é o errado, e quem omite, paga de coitado, mas meus pais me ensinaram que acima de tudo, eu devo ser quem eu sou, e eu sou assim, ponto.

Me aproximo da janela, observo a Torre Eiffel, a distância é considerável mas ainda sim, daqui posso ver o cartão postal de Paris, a cidade Luz.

—eu não quero brigar tá?—Dominic me abraça por trás—Charlotte essa viagem é para nos conhecermos e não para que briguemos.

—você quer me conhecer?—estou mais que surpresa.

—claro que quero—afirma ele calmamente.

É bom ser abraçada por Dominic King, ser tocada por ele, acho que ando mais carente do que deveria, porque mesmo que irritada, permito que ele me toque, que me abrace, no avião eu acabei dormindo durante a viagem, quando acordei, estava deitada com a cabeça em seu colo, fiquei sem graça mas não me afastei, contudo, me calei, e não havia nenhuma distância maior que aquela entre nós dois. Passamos a viagem inteira sem conversar, foram seis horas de sono e duas de silêncio absoluto, acho que uma discussão afasta muito as pessoas, mas o silêncio... o silêncio separa as pessoas.