Lottie - DEGUSTAÇÃO

Os Segredos Dos King

Observo o homem loiro em pé perto do lago, ele parece bem reflexivo e pensativo demais, as vezes eu realmente gostaria de conseguir entrar na mente das pessoas pra saber sobre o que elas estão pensando, no que elas estão pensando, Dominic King é uma delas. Apesar de eu não ter pensado nele nesses últimos meses agora me indago dezenas e dezenas de vezes sobre quem é ele, ele é tão... misterioso.

Me endireito, troquei as roupas de banho por um conjunto de moletom quente, já está entardecendo, essa hora começa a fazer bastante frio, morar perto de um lago também não ajuda, principalmente no inverno, teve um inverno que o lago até congelou de tanto frio que fez.

Me aproximo de Dominic, ele mal se move quando eu fico parada ao seu lado, seu olhar é mórbido, triste, tão diferente do cara que conheci a alguns meses, confesso que ele é um cara lindo e tal, mas naquele dia—um dos dias mais assustadores da minha vida—um pouco antes da Maddie levar um tiro e quase morrer por aquilo, ele parecia um pouco mais normal, não tão pálido, não tão distante.

Ele me lança um olhar extremamente sério, mas olha apenas pelo canto do olho, depois volta pro lago, enfio as mãos nos bolsos do meu moletom, eu nunca fui de meias palavras nem de dar voltas, sou direta, não sei se por conta dos meus pais, mas acho que desde muito pequena fui assim, quando quero algo vou direto ao ponto.

—sua irmã é solteira?

Dominic pisca, assim muito devagar se vira pra mim, os olhos azuis mais claros, depois vagarosamente os lábios vermelhos se curvam num sorriso contido, mas isso não parece ser de algum traço de felicidade e sim algum tipo de zombeteria.

—pra que quer saber Charlotte?

—é que ela é bem bonita.

Uma sobrancelha loira se ergue e ele cruza os braços, seus gestos são lentos mas não possui grosseria, percebo o real tamanho de Dominic com nossa proximidade, ele é bem mais alto que eu... se bem que eu acho que qualquer pessoa é mais alta que eu, até as gêmeas estão quase maiores que eu, não dei sorte, não cresci.

—a resposta é não—Dominic fala baixo—ela não tem namorado.

Ótimo.

—Lucinda é uma garota de família.

—o Nando também é um cara de família.

—sabia que a queda não havia sido acidente!

Quero tampar a minha boca e cavar um buraco bem fundo mas Dominic não parece surpreso nem irritado, ele só me olha de uma forma que me deixa assustadoramente constrangida, confesso, ele sabe me intimidar, parece até o meu pai quando eu faço alguma merda e fica me olhando.

Claro que não é como quando minha mãe me olha, papai me olha bravo, mamãe me olha como se estivesse decepcionada, isso é bem pior.

—isso não vai dar certo Charlotte—sua voz tem tom de aviso.

—por que não?—questiono na defensiva.

—conheço minha irmã, ela não é tão fácil quanto parece.

—você acha o Nando feio pra ela?

Eu acho o meu irmão lindo, não por ser meu irmão, mas por que ele é realmente lindo, um cara de bem, um desses que realmente é pra casar, ter filhos, uma família, coisa que aquela vagaranha não quis.

—eu não tenho que achar ele feio Charlotte, eu sou homem.

Isso é meio ultrapassado, mas não questiono.