Não é Não!

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—mas papai...

—Lottie, não!

Suspiro e fico emburrada, papai não tira os olhos do note, ele digita enquanto fala comigo, mamãe está sentada na mesa ao lado da dele, ambos usam social, acabo de entrar na BCLT pra tentar conversar com papai, quando acordei hoje eles dois já haviam vindo pra empresa, então peguei o jipinho e vim.

Papai é bem desses que só dá o prazo de escutar e depois logo em seguida fala a palavra que ele adora usar pra deixar todo mundo no tédio:

Não.

Proibição não combina comigo, mas bem sei que tem hora em que posso ser persuasiva.

—papai é só uma viajem.

—não, não e não.

Olho pra mamãe em suplica, ela suspira, depois olha pra porta, e aqui eu sei que acabou a minha tentativa frustrada de conseguir permissão pra viajar com Dominic.

Eu sei do que papai tem medo, ele tem medo de que eu entregue a minha virgindade a qualquer um de qualquer forma, meu namoro com Henry foi super conturbado no começo, nós nunca tivemos privacidade e nos momentos em que tentávamos ficar a sós, o tio Olaf dava um jeito de aparecer do nada.

Acho que essa viajem vai ser bem tipo a da Índia.

Papai me pediu um mês pra pensar, e já está pensando a mais de meses, desde que eles foram pra Turquia antes da Maddie e o Aidan mudarem lá pra casa.

Confesso que estou bem mais preocupada com a vida amorosa do Nando do que com a minha, o Antônio é mais tranquilo, eu acho que na verdade ele ainda nem perdeu a virgindade dele, o que pra muitas pessoas—principalmente homens—é muito antiquado, diria ridículo, mas acho que pra nós é bem comum.

Cecília e Luísa são bem reservadas, acho que nunca nem sonharam em ter namorados, no fundo bem lá no fundo, eu sei que nossos pais sempre foram bem presentes em todos os momentos das nossas vidas, não somos crianças carentes—olha eu, me referindo a mim mesma como "criança"—e temos tido momentos muito bons com eles.

Todo ano viajamos pra Disney, papai e mamãe nos leva pra viagens uma vez no meio do ano desde que me adotaram, lembro que só deixamos de viajar uma vez, e esta vez foi quando o Emanuel nasceu, meus dias depois que encontrei meus pais são os melhores dias da minha vida, tenho muito a ser grata, mas sempre tem o outro lado.

O lado que Dominic me expôs antes de ontem, um lado em meu pai é super protetor demais, um lado em que muitas vezes ele nos priva de muitas coisas, mas eu acho que nem eu e nem os meus irmãos nos importamos muito com isso.

Aprendi cedo que talvez nem sempre ter o que as outras pessoas tem é o que nos torna feliz.

Fui abandonada ainda muito pequena nos braços de um irmão por um pai que eu não me lembro se quer da fisionomia, não conheci minha mãe, meus pais me disseram que ela morreu quando eu nasci, e fui criada até fazer quatro anos nas ruas de Uttarakhand nas margens de um rio Santo e antigo, bebendo água que não era potável e sobrevivendo com os restos que pessoas davam pro Antônio.

Aprendemos a sobreviver com o que tínhamos.

Saio da BCLT, olho os pilares da empresa na qual papai construiu a anos, vejo pessoas entrando e saindo enquanto me despeço de Boris e Blanca, Tio Olaf me espera encostado no Jipinho, suspiro infeliz, ele sempre está por perto.

—e ai?

—nada!

Meus ombros caem e eu abraço o tio Olaf, desde que entrei na família tenho lembranças dele, este homem me leva pra todos os lugares e me traz, ele está sempre a minha disposição e a disposição de todos da família, com o tempo o tio Olaf acabou se tornando membro importante da família Carsson, todos nós o respeitamos e amamos muito ele, apesar dele já ter quase seus sessenta, ainda está inteiro e a cara de mal intacta, mas o coração...

—você tem que saber entender o seu pai Charlie.

—impossível entender Jack Carsson tio.

—ele vai deixar, deixa que a sua mãe dobra ele.

Eu espero que sim.

Mamãe dobra o papai sempre, na maioria das vezes ele apresenta resistência, mas quem sempre dá a última palavra lá em casa é ela, ao menos nas decisões referentes a nós, claro que tem momentos que papai manda, e sempre chego a conclusão de que não é bem assim como se mamãe mandasse e sim como se eles dois chegassem a um consenso juntos.

Até por que se fosse assim, eu estaria na Índia, o Nando teria voltado pro Brasil pra conhecer o pai dele de perto—papai morre de ciúmes do sujeito—e o Antônio teria estudado artes em Oklahoma, mas acho que no fundo, bem lá no fundo, nossa família vem, se entendendo muito bem, não por que nossos pais mandam em nós, mas por que eles nos orientam e nos mostram como devemos proceder diante de muitas decisões.

—Cosmos vai te seguir a distância, preciso comprar umas coisas com o seu avô.

O vô Vã é vidrado por esportes, enquanto o vô Gerald é bem daqueles que adora nos ensinar sobre cirurgias, eu amo os meus avós, minha vó Fran é ótima na cozinha, e a minha vó Mirna é ótima em contar estórias, me sinto muito bem em estar sempre cercada por toda família.

—suplemento?

—pesos.

O Tio Olaf é um quebra galho, ele deveria se chamar assim como mamãe o chama as vezes de "Severino", ele é um faz tudo.

—não fique triste Charlie, tudo tem uma hora certa filha.

—quero que o Nando seja feliz.

—Nando tem que aprender a ser feliz por si próprio.

—ele tem trauma tio, da perninha dele.

Tio Olaf sabe dos meus planos, eu diria que ele e a Maddie são as pessoas com quem não tenho segredos, eu sei que ele não contará pra ninguém, ele é o meu guardião em todos os sentidos.

—ele vai melhorar, o Nando é um rapaz forte e normal, ele vai ter que entender que aquela mulher não o ama.

—aquela vagabunda desgraçada...

—Charlie, olha a língua.

Tampo a boca e pego as chaves do jipinho na minha bolsa, me despeço do tio Olaf e vejo Cosmos no outro carro da família a distância, entro no Jipinho e tio Olaf fecha a porta.

—mantenha-se longe de Dominic, não gostei dele ter te beijado no bosque.

Minhas bochechas estão quentes.

—tio, sem invasão de privacidade.

—eu só estava dando uma vigiada no local, você está muito machucada Charlie, essa viajem talvez não te faça bem.

—fará bem pro Nando.

Ele me conhece, sabe que sou teimosa, ligo o Jipinho e coloco o cinto, depois estou dando tchau pro tio Olaf, não estou confiante nem nada mas desistir é que eu não vou.

—eu sou uma Carsson, e nós nunca desistimos do que queremos, isso é que não.



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Lottie  - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora