Capítulo 9 - Desde que esses tempos começaram

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Nora e Viviene colocam frutas e legumes numa das geladeiras do mercado improvisado que conseguiram montar. Elas acertam a posição de maçãs, bananas, dentre outras frutas, enquanto a fila do lado de fora, já começa a se formar. Bia, passa na frente das pessoas e se prontifica para ajudar, entrando na loja, que parece ter sido até mesmo uma venda, mas tem ganhado uma organização de mini mercado, com características de lojinhas de conveniências americanas, com prateleiras baixas, e alguns poucos produtos sendo colocados, em meio a poeira que ainda reina sobre a maior parte do lugar.

- Era uma farmácia. – diz, Viviene, do nada.

- Aqui ? – questiona, Nora.

- Isso. Nós sabíamos que não podíamos deixar remédios aqui. Comida, tudo bem, por mais que fossemos saqueados, plantamos frutas, legumes, e outras coisas. Mas e remédios ? Onde deixaríamos, Tim sugeriu aquele lugar como enfermaria...

- Mas lá parece já ter sido. Aquela marca de sangue, no chão...

- David conta que Lily disse a eles que tinha sido do Governador.

- Governador ?

- Sim... longa história. – diz, sorrindo, mas claramente, entendendo tão pouco quanto Nora sobre a história do tal governador.

Nora acerta alguns legumes na prateleira da geladeira, e se detém ao perceber que tem tempos que não abre uma geladeira ligada, com tantos legumes e verduras, alimentos em conservas, sopas das Campbell's, que parece uma marca de família, mas é apenas uma coincidência que sempre fez sorrir os meninos, por mais enfurecidos que estivessem, bem na hora as refeições. Owen sempre abria as sopas dizendo algo do tipo: "Será que vamos encontrar um pedaço desse bico do Don nessa lata, Harry ?", ou "Eu acho que felizmente, eu sinto que alguns pedaços da vovó vieram nessa latinha milagrosa... hum...", os meninos riam. Nora, mesmo tendo a mãe mal falada, também ria. Viver com Owen era divertido. Sempre foi. Cada dia. Desde o baile em Norfolk. Nunca mais quis ficar longe dele, e Don e Harry era a prova de que ela tinha a família dos seus sonhos.

Só não era o mundo dos seus sonhos.

- Nora ? – disse, Bia. Despertando a mulher dos seus pensamentos, e a fazendo enfim fechar a geladeira. – Tudo bem ?

- Sim. – disse, sorrindo.

As duas caminham até uma das prateleiras, enquanto Viviene já faz as primeiras entregas com as bolsas de frutas e legumes para um dos moradores.

- E John ? – diz, Nora.

- Ele está irredutível. – diz, respirando fundo.

Beatrice Richmond era uma daquelas mulheres que aparentavam ser da fina sociedade americana. Quem olhava para ela, apostava logo que falava no mínimo três idiomas, além do inglês e que frequentava as melhores festas, sempre com uma taça de cristal e uma bebida cara na mesma. Nora olhava para ela, e conseguia lembrar vagamente de Cate Blanchett, em "Carol", filme que Nora achou promissor quando viu, com Owen, em um cinema depois de deixar as crianças com os avós.

- John é um bom homem, sabe, Nora. As vezes perde o controle... Mas costuma ser muito amável com as crianças.

- Jura ? Nunca vi, nada de ambas as partes.

- Não em público ! Você não entenderia. – diz, convencida.

- Bia, eu já passei por tanta coisa desde que esses tempos começaram, que não duvidaria de mais nada que você me dissesse.

- Você viveu muito tempo ai fora, é ?

- Muito.

- Eu não posso nem imaginar. – diz, Bia, colocando as mãos nos ombros de Nora.

Os Exilados de WoodburyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora