#14-Empatia

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De uma forma muito incomum Olga se tornou presença constante em nossas vidas. Ela e Frida já eram amigas desde sempre, como eu vim a saber, mas eu nunca tinha percebido sua existência antes de nosso incomum encontro naquele dia. Comecei a perceber que conhecia pouco o círculo de amizades que minha esposa mantinha na vida. É claro que eu sempre soube que a Frida era infinitamente mais sociável que eu, e que tinha muito simpatia pela cidade, e seus habitantes, mas passei ali a descobrir que a cidade também gostava muito dela. Nos finais de semana, íamos a alguns lugares para ela matar as saudades daquele lugar, que eu odiava estar, mas que ela amava, e por onde quer que passávamos, ela tinha conhecidos. Alguns destes conhecidos apenas olhavam para mim, com aquele olhar reprovador que tantas vezes eu tinha recebido na infância e juventude, por ser o garoto rico e estranho. A diferença agora era que eu não era mais um garotinho, e que eles me olhavam assim por desaprovar que uma das princesinhas da cidade, tivesse se casado comigo, quando tinha outras opções infinitamente melhores para ela, segundo o julgamento deles. A coisa não melhorou em nada quando a jovem Mackay, além da Carol Vallar, se juntou a nós em nossos passeios pela cidade. Em cada olhar que encontrávamos no clube, na praça, no cinema, ou qualquer restaurante, havia a estranheza por garotas tão belas, e sociáveis, estarem em tão estranha companhia.

Quando a notícia de que Frida estava grávida, ganhou os ouvidos de todos, muitos antigos amigos de meu pai, e pessoas comuns vinham até mim para dar os parabéns, e embora em alguns casos pudessem ser sinceros os votos de felicidades, eu não conseguia aceitar com naturalidade. Sabendo que aquelas mesmas pessoas diversas vezes tinham criticado nossa união. Mas eu aceitava todos cumprimentos com educação, sabendo que Frida aprovaria isso. Na maioria dessas ocasiões ela estava longe, na capital, ainda estudando, muito embora ela tenha cogitado diversas vezes deixar o curso para apenas ficar perto de mim, e cuidar do nosso filho que crescia em seu ventre. No entanto a dissuadi dessa ideia, pois apesar de estar imensamente feliz por ser pai em breve, e ter a melhor mulher do mundo ao meu lado, eu ainda tinha necessidades que ela não entenderia, e que seria mais fácil manter escondido com ela longe. Eu já tinha feito uma rotina agradável para mim, de modo que nunca entrasse em atrito com meus deveres de esposo, e pai, sempre reservando os finais de semana para Frida, e seus amados passeios por lugares quase insuportáveis para mim, incluindo o Instituto Ludovic Bahn, que para todos efeitos eu cuidava, mas que na verdade tinha contratado pessoas para fazer isso. Para minha atividades secretas estavam reservados às terças feiras, que era um dia tranquilo para eu ir a capital, sem ser percebido, pelas fiéis guardas de Frida, também conhecidas como Carol e Olga, que mesmo na ausência de minha esposa continuavam a frequentar a nossa casa, a pedido da amiga, para ver se tudo corria bem comigo, e eu não me sentir sozinho. A relação com as garotas era calma, talvez porque em alguma instância éramos parentes, e eu gostava de sentir que havia algo de familiar, e normal em nossa casa, me fazia recordar do tempo em que papai e Maurice ainda estava entre nós, e a casa tinha um clima alegre, e com cheiro de infância. É claro que isso fora em outra casa, noutro tempo que não poderia jamais retornar.

Era algo muito conflitante dentro de mim, saber que desde cedo tinha descoberto meu propósito de vida, e desde então já tinha libertado cinquenta pessoas aflitas, ou mais, embora a sociedade pudesse me julgar por isso. Ao mesmo tempo sentia a necessidade de ser alguém que Frida pudesse amar, e ter uma uma vida normal como as outras pessoas, mesmo que o trabalho nos negócios da família, não pudesse em satisfazer de nenhuma forma, e nem mesmo o enorme amor que eu tinha por Frida era capaz de ser mais forte que minha necessidade de cumprir minha missão de vida. Olga e Carol eram os elementos que traziam a aparência de normalidade, como se novamente fosse possível eu ter uma família.

Eu não sabia como seria após o nascimento da criança, e como isso afetaria nossa dinâmica tão bem ajustada até ali. O que teria de abrir mão para ter uma família? Tentei achar nos diários de meus antepassados, como eles tinham lidado com isso, mas parece que ele pouco se importavam com o nascimento dos filhos, apenas deixavam que os cônjuges, e empregados cuidassem das crianças, e continuavam a fazer negócios, e cumprir suas missões. Percebi que nisso meu pai tinha sido imensamente diferente deles, e até melhor, pois apesar de não aceitar o passado da família, ele tinha sido um pai presente, amoroso, às vezes enérgico, mas tinha me dado tudo que eu precisava, inclusive sua presença em minha vida. E decidi que seria um bom pai para meu filho, assim como papai tinha sido para mim, mesmo que tivesse que diminuir o ritmo de minhas atividades no chalé.

Histórias do Chalé - Relatos de Um Sádico [Completa]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora