#6 -Sol Escarlate

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Quando retornamos da viagem, meus planos de ter Frida, muito além de como amiga, já estava bem adiantado. Tivemos ótimos momentos juntos, e ela estava decidida a honrar a vida, e os desejos de seu pai, então acho que me namorar era uma das coisas que estavam em sua lista. Embora eu sempre percebesse que desde a pré adolescência ela parecia mais empolgada com essas ideias dos nossos pais, do que eu. Tudo parecia estar entrando nos eixos para nossa familia, mas eu ainda tinha segredos demais para esconder, e deixar que alguém se aproximasse tanto, com certeza era um risco enorme.

Meu pai estava ainda mais focado nos negócios, agora que não tinha mais seu principal parceiro, mas também tentava demonstrar que estava com a família, incluindo a tia Lena, e a Frida. De certa forma eu gostava mais dessa versão solo do meu pai, apesar de mais ocupado. Ele ficou eufórico quando ao retornar da viagem informei que tinha sido aceito na universidade estadual, era um sonho para ele que eu estudasse na mesma instituição que ele.

Os dias passavam rapidamente, e mesmo estando bem ocupado, ainda tinha vontade de encontrar alguém que precisasse de ajuda para deixar esse mundo. O risco de ser pego, nunca foi algo que me intimida, e após a morte de Maurice, eu estava ainda mais seguro, pois se tinha conseguido matar meu próprio tio, e me safar, então não desconfiariam de mim porque algum ser insignificante morreu. Era hora de voltar a ativa, antes de partir para a universidade.

Estar em São João de Maraca sempre era estranho para mim, com todas aquelas pessoas andando de um lado para o outro, muitas vezes sem qualquer propósito de vida. Gastando tempo em compras e conversas inúteis. Vaguear pela cidade não tinha muita serventia para mim, já que caçar vítimas ali, vinha se tornando cada vez mais arriscado, dada a investigação da morte de Maurice, que demoraria a ser dada como encerrada. Não havia qualquer evidência que levasse a mim, ou a qualquer pessoa da cidade, porém ele era importante demais para a polícia simplesmente deixar para lá, e arquivar o caso, sem fazer tudo que fosse possível para encontrar seu algoz. Porém Frida adorava estar naquela cidade, fazer compras para levar a universidade, já que alugamos um apartamento próximo a instituição de ensino. Não adiantava de nada eu argumentar que ela poderia comprar coisas melhores quando chegássemos lá, ela queria passar seu tempo com o povo do lugar onde nascera. Um povo medíocre e totalmente provinciano. Quando me enchi dessa rotina absurda que ela estava levando, passei a deixar que ela fosse sozinha em suas incursões pela cidade, enquanto eu ia rodar pela rodovia, a procura de uma boa vítima, infelizmente não era tão fácil como imaginei, e raramente encontrava alguém vagueando pela rodovia, e quando encontrava era algum grupo de peregrinos, ou duplas de adoradores de esportes. Num ambiente tão aberto, sem controle, eu seria facilmente subjugado por eles, e esse não era o objetivo. Demorou alguns dias para eu encontrar a oportunidade perfeita, havia acabado de entrar na rodovia, quando a avistei um pouco a frente, sentada sobre uma mala no acostamento, pedido carona para carros que não paravam, quando passei devagar por ela notei que era uma garota um pouco mais nova que eu, por volta dos dezesseis anos, tinha um estilo um pouco hip, e sorriu abertamente quando notou que eu estava parando. Deixei que ela me alcançasse, e ela foi logo falando:

- Pra onde você está indo? - disse sorrindo

-Não tenho um rumo certo, e você?

-Eu estou indo para onde o vento me levar - Ela disse abrindo os braços, e eu pude ver um sol escarlate tatuado na parte interna de seu antebraço.

-Então vamos ver aonde o vento nos leva juntos - Ela entrou no carro, após eu destravar a porta.

Fui dirigindo enquanto ela ia falando sobre suas aventuras com amigos que conhecia na estrada, a maioria mais velhos, e com quem mantinha relações muito íntimas. Em dado momento disse que precisava pegar o retorno, e passar numa propriedade que minha família tinha por ali, ela disse algo sobre nada na Terra ser propriedade de ninguém, que tudo era parte da natureza, ou do cosmos, não lembro bem, mas a verdade é que ela não estava nenhum pouco preocupada com seu destino, desde que tivesse algo para ser contado depois. Quase invejei seu espírito livre, estar sempre a mercê de cumprir uma missão, como eu, é muita pressão. Quando chegamos ao chalé, ela não se mostrou nenhum pouco impressionada com a construção, mas ficou maravilhada com o lago, e com a natureza em redor, ao ponto de dizer que seria ideal se montar uma barraca a beira do lago, e ficarmos ali por alguns dias. Eu disse que no chalé teríamos mais conforto, ainda estando perto do lago,aceitou um tanto contrariada. Seu nome era Lívia, e segundo suas histórias seu corpo era livre para viver qualquer coisa que fosse natural, isso desde muito cedo, seus pais hips sempre a ensinaram que o sexo, é algo natural da vida, então aos doze anos, ela já gozava dos prazeres que seu corpo em formação poderia lhe dar, algumas vezes com outros hips muito mais velhos, conforme lhe desse vontade, ou neles, ninguém era de ninguém no grupo deles. O amor era livre, assim como o corpo. Quando lhe ofereci uísque, ela recusou, dizendo que não fazia uso de bebidas destiladas, mas que aceitava algo mais natural, como erva, e como eu não tinha isso, ela disse que aceitava um suco, ou água. Optei pelo suco, que disfarçaria o gosto do sonífero, escolhi uva que tem o gosto mais forte, e pra falar a verdade era o único que tinha por ali, agradeci mentalmente por Frida ter ido dias antes ali, e deixado o suco na geladeira. Sol Escarlate falava muito, e tinha uma história para cada coisa que olhava, ou que eu falava, era uma matraca ambulante, e tive que suportar seu falatório até que a substância no succo fizesse efeito, demorou um pouco mais, devido a ausência do álcool na bebida, mas ela acabou apagando, e eu pude levá-la para meu amado porão, onde mesmo que minha namorada chegasse, não seria possível me surpreender no que estava fazendo.

Com Maurice eu simulei, mas com aquela garota eu queria testar se era possível retirar as pernas de alguém, e ela não perceber, então preparei cada instrumento que achei necessário, e parti para a empreitada, anestesiei ela, e comecei o trabalho que foi bem mais difícil do que se parecia em minha mente, é muito complicado desmembrar um ser humano, ainda mais se você desejar que a pessoa continue viva após isso. O maior desafio foi desconectar o fêmur da pelvis, mas após ter conseguido fazer um, o outro foi bem mais fácil. É claro que não ficou um trabalho digno de um cirurgião, mas ela não ia precisar daqueles membros mesmo, não importava, desde que ela ficasse viva para eu me divertir um pouco. Tive que esperar que ela acordasse da anestesia para que continuasse, não se pode dar um show sem que a atração principal esteja presente. Assim como todos, ela acordou desorientada, e desejando saber onde estava, e eu disse que ainda estava em meu chalé, e se ela não acreditava poderia ir lá fora ver por si mesma. É claro que ela tentou, e assim como Maurice disse que não sentia as pernas. Talvez tenha sido um pouco de maldade da minha parte, mas não resisti, pois havia me divertido tanto fazendo isso com meu tio, que tive que repeti. Peguei a perna direita dela, e ergui dizendo:

-É porque você não tem mais essa coisinha aqui - Não consegui conter o riso.

A garota começou a gritar, chorar, e perguntar o que eu havia feito, e eu sempre respondia que havia tirado suas pernas, mas ela repetia a pergunta pouco depois. Quando joguei sua perna do outro lado da sala, e me aproximei dela, ela gritou mais fortemente, tentando se erguer, o que era impossível naquele estado, mas creio que no desespero, ela não pensava nisso. Amordacei ela, e com um bisturi fui calmamente abrindo sulcos em seu braço, enquanto assobiava minha música favorita: Let it Be, dos Beatles. Infelizmente ela não era a pessoa mais forte que já conheci, e partiu rapidamente. Quando estava a levando ao cemitério particular de minha família, percebi novamente a necessidade de ter túneis que ligassem o chalé ao cemitério, pois do modo que estava, era arriscado encontrar caçadores inoportunos. Para isso eu teria que estudar, e depois convencer papai a financiar um projeto meu.

A noite já estava alta quando retornei a casa dos meus pais, para pernoitar ali, embora eu gostasse muito de estar no meu recanto de paz, após dar um devido destino a uma suposta vítima, eu sempre me sentia melhor dormindo na casa principal, perto de minha mãe, e do papai. Lá encontrei Frida a me esperar, como a boa moça que era estava preocupada com minha demora em dar notícias, mas se acalmou quando lhe convidei para ficar ali comigo aquela noite, e juro que notei uma expressão de contentamento no rosto de Ludovic Bahn quando ouviu meu convite, diante disso foi impossível não deixar escapar um risinho de lado, por saber que estava fazendo exatamente o que ele esperava de mim, apesar de ele desconhecer os reais motivos para isso. O mais importante é que ele feliz, deixava as rédeas com as quais tentava me manter longe do passado familiar considerado infame, embora oficialmente apenas os três residentes daquela casa soubessem de tal passado.

Histórias do Chalé - Relatos de Um Sádico [Completa]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora