#10- Perto como a pele.

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Depois daquele dia descobri um meio de cumprir meus desejos, e continuar anônimo. A verdade é que ninguém se importava se aquele lixo humano desaparecia. Eu desconfio que as autoridades, até sentissem alguma gratidão por eles não estarem ocupando as ruas da cidade. Durante as primeiras quinze semanas, levei pelo menos um deles até o chalé, e os libertei da vida obscena que levavam. Apesar do ar de descolados, e espertos, eles eram como cordeirinhos enfileirados para o abate, não tinham qualquer chance de se livrar do que estava por vir. E eu estava adorando tudo aquilo, e sentia como se estivesse fazendo algo realmente bom para a sociedade, algo digno de alguma honraria. Por essas semanas pareciam que minha missão tinha enfim sido aceita pelas pessoas, mesmo que elas desconhecessem quem estava fazendo o trabalho. E então aconteceu, numa manhã sai de casa para comprar um jornal, e lá estava na primeira página à chamada para a matéria: "Exterminador de Prostitutas"! "O centro não é mais seguro para elas."

Num trecho da matéria dizia: "Uma das prostitutas, que prefere não se identificar na matéria, diz que nas últimas semanas, pelo menos sete de suas colegas desapareceram, após terem sido vistas entrando no mesmo carro marrom, da marca Ford. Ela não soube informar qual o modelo do carro, mas acrescentou que o motorista era um jovem, por volta dos vinte anos, caucasiano, e de boa aparência. Infelizmente os comerciantes, e moradores das ruas próximas não puderam confirmar, se um carro com tais vagas descrições costuma circular por ali...".

Claramente estavam falando de mim, e continuavam a demonstrar a ingratidão pelo meu trabalho, no restante da matéria. Eu havia retirado dezesseis seres repugnantes das ruas da cidade, e a sociedade ao invés de agradecer, estava os tornado vítimas martirizadas. Eles estrumes humanos eram mais valorizados, e eu taxado como o monstro que atacava seres inocentes. Meu desejo fazer o mesmo com cada jornalista daquele jornal inútil, mas isso seria uma idiotice. O certo era me afastar do centro, ir buscar vítimas nas periferias, onde chamaria menos atenção. Mas eu não tinha um plano para isso, e estava frustrado por não conseguir terminar o que tinha planejado.

Retornei para casa, peguei minhas coisas, e fui a aula, quase não prestei atenção em nada, apenas fiquei pensando em como tinham chegado tão perto de mim. No final das aulas, eu já sabia que para continuar, teria que deixar de mostrar meu rosto, ou a qualquer momento, eu seria reconhecido por alguém. Entretanto não sabia como fazer isso, nada que pensava parecia bom o suficiente, sempre havia uma falha a ser consertada. Assim cinco semanas se passaram, sem que eu tivesse feito nada mais. A repercussão da matéria foi esfriando, porque não ter ocorrido mais nenhum desaparecimento. Prostitutas não são a categoria mais confiável para a sociedade, e acredito que todos pensaram que elas estavam inventando as histórias. E logo perderam o interesse. Nesse meio tempo mudei de carro, e comecei a sentir um pouco mais de confiança, embora tivesse certeza que seria uma loucura retornar ao centro. Por esses dias, Frida quis dar umas voltas pelo parque, era uma tarde de muito sol, e ar seco, então logo sentimos sede, e a deixei no parque enquanto fui a procura de um lugar pra comprar soda. Caminhei um pouco até encontrar um pequeno e abafado café, pela aparência não era muito frequentado, mas resolvi entrar, atrás de um balcão de madeira crua, estava um homem gordo, com olhos negros, e cabelo ensebado. Quando me aproximei do balcão ele disse:

- Deve ter vindo por causa da lista – Soltou ar pelo nariz – É só pelo que vocês filhinhos de papai vêm aqui, ela está na primeira mesa a esquerda.

-Lista?

-Lista! Que diabo, será que é surdo? A lista... Basta colocar um nome, uma inicial, e onde quer se encontrar, e uma delas vai te achar na hora marcada.

-Elas... Você diz mulheres...

-Pode ser homens também, se é disso que gosta – Ele deu uma gargalhada seca – Só não me amole com isso.

Histórias do Chalé - Relatos de Um Sádico [Completa]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora