#5-Frida Vallar

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O relógio marcava um pouco mais que quatorze horas quando retornando para casa, fiz rápida parada em São João do Maraca. Se o corpo já tivesse sido achado, todos na cidade estariam falando nisso, e certamente alguém iria me contar dada a proximidade entre nossas famílias. Entretanto nada ali parecia fora do normal, poucas pessoas circulavam pelas ruas, e ninguém demonstrou especial interesse em falar comigo, nem mesmo o atendente do mercadinho, que todos sabiam que era uma fonte inesgotável de histórias e fofocas sobre os seus clientes. Minha conclusão foi então que Maurice Vallar ainda não tinha sido achado. Ou seja, meus cálculos tinham dado errado, e seu corpo não tinha aparecido na parte urbana do lago. Pensei em ir até as margens do Maninka, mas removi essa ideia estúpida da mente, afinal o que eu faria se desse de cara com o corpo do homem? De modo algum poderia ser o descobridor do corpo, isso seria a pior coisa acontecer. Sendo assim fui para casa.

Meus pais ainda demorariam a chegar, e eu não precisava me preocupar com eles. Mas queria falar com Frida, talvez ela pudesse me dar alguma informação, sem perceber. Felizmente não precisei telefonar para ela, pois talvez lendo meus pensamentos, o telefone tocou, e do outro lado ouvi a voz da garota.

-Alô! Floren?

-Sim, sou eu, está tudo bem?

-Sei que pode parecer loucura, você não esteve na cidade ontem, mas por acaso não viu meu pai?

-Não, na verdade não, mas porque pergunta?

- Ele saiu na noite de ontem, e não voltou ainda, isso é muito estranho. E estamos preocupadas.

-Nossa, realmente não faz o tipo dele... Mas como você mesma disse, eu não estive por aqui ontem.

-É, foi uma bobagem, só perguntei por desencargo de consciência. Um pouco antes dele sair disse que ia se encontrar com você, mas depois corrigiu, e disse que ia ver algumas coisas que precisava para próxima semana na transportadora. Algo do trabalho com seu pai. Talvez porque lembrou que você estava na capital

-Sinto muito Frida, não me encontrei com o tio Maurice - Tentei ser convincente- Posso fazer algo? Talvez ir ficar com vocês, ajudar na busca.

-Tudo bem, não precisa se preocupar, o papai não costuma fazer isso, mas está tudo bem... Tem que estar bem.

-Qualquer coisa estarei aqui, pode me ligar. Sabe como são especiais para nossa família.

-Obrigado Floren...

-Amigos são para ajudar, não é? Você me ensinou isso...

Frida pareceu convencida que eu não tinha me encontrado com seu pai, e isso me deu um alívio enorme. Não posso dizer que aprovava todas suas decisões, mas não queria ter que livrar ela dessa vida. Em minha mente tinha outros planos para ela. Eu tinha de certa forma tirado o seu pai, então pelo menos iria realizar o desejo dele, e me casaria com ela, se ela me quisesse. A tia Lenita com certeza adoraria a ideia, muitas vezes ouvi quando ela e minha mãe imaginavam como seria esse casamento. Seria realmente terrível ter que matar a única candidata aceitável a minha esposa.

Na manhã seguinte, acordei com o telefone tocando, logo um pequeno alvoroço de instalou pela casa. À princípio pensei ser pela chegada de meus pais, mas então me lembrei que eles haviam retornado na noite anterior. Ainda no meu quarto, no andar superior,  ouvi o primeiro soluço profundo e dolorido, era minha mãe chorando a perda de seu tão querido amigo. Aquele som tão íntimo e cheio de sentimentos era a expressão do que ela sentia por dentro, e eu sabia disso. Ela era toda sentimentos, se entregava voluntariamente a eles, e não se limitava na demonstração de seus efeitos em sua vida. 

Histórias do Chalé - Relatos de Um Sádico [Completa]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora