Capítulo 31: Arcadianos não são confiáveis

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- Nossa! Eles serem mortos, tudo bem. Mas serem crucificados publicamente? Isso era realmente necessário? – falou Peter.

- Claro que foi. Eles serviram de exemplo para qualquer um que resolvesse se vender para os coronéis. A liberdade não tem preço e ainda por cima estamos em guerra. Foi um julgamento justo.

Peter ficou nervoso com a resposta da mulher.

-  Olhando por esse lado a senhora está certa. Em Arcádia nós costumávamos a lidar com coisas do tipo de forma diferente.

- E olha como está a cidade agora? Ela foi destruída. 

Nesse momento Peter pensou em sua família e em todos que amava. Pensou em sua mãe e em sua irmã. Será que elas estariam seguras? De certa forma, o modo extremista de lidar com as questões naquela aldeia talvez não fosse errado...

- A senhora está certa. Talvez se nós Arcadianos tivéssemos tomado medidas extremas, nossa cidade não estaria destruída.

- Isso será algo que nós nunca iremos descobrir. Mas enfim, eu estou morrendo de fome agora. Como que é o almoço aqui?

- Os homens vão caçar. Você aguarda aqui Emma. Peter e Raymond podem ajudar na caça. 

A ideia de ficar a sós com Maria não agradava muito Emma. Por mais que a mulher tentasse passar a imagem de que ela confiava nos três, Emma sabia que isso não era verdade. Não era paranoia pensar  que Maria tinha algo em mente, algum plano de confirmar se o que os três tinham dito até agora era verdade.

Foi nesse momento que o filho de João ou João Júnior chegou para guiar Raymond e Peter para a caça.

- Vamos! Tomem aqui a lança de vocês. Vocês vão precisar!

Os dois pegaram as lanças e foram com o rapaz para a floresta. Eles alcançaram um  grupo de homens que estavam mais a frente. Pelo visto naquela aldeia eles tinham o costume de caçar juntos. 

- Pelo visto nós teremos um bom tempo para nos conhecer. Eles não devem voltar tão cedo.

- Será? - falou uma Emma nada animada com a notícia.

- Eu acredito que sim. Ultimamente tem ficado mais difícil de conseguir alimento para todos. Mas enquanto isso nós iremos preparar a fogueira. Ela precisa estar pronta para quando eles chegarem.

- Eu não sou boa nisso. Não devo poder ajudar muito. 

Emma ainda tinha esperança de que a mulher a dispensaria de uma conversa. Mas ela não perderia a oportunidade de fazer um interrogatório.

- Sem problemas! Sempre há uma oportunidade de se aprender. Eu sou uma pessoa muito paciente. 

- Tudo bem, então. 

O que ela deveria esperar ao lado daquela mulher? Uma chuva de perguntas? Um interrogatório indecente ou uma conversa aparentemente normal em que uma das pessoas contava o seu passado apenas para que pudesse arrancar informações do passado da outra? Parece que Maria tinha optado pela última opção.

- Certo! Vou pegar meu machado para prepararmos a lenha. 

O fato de Maria dizer que pegaria seu machado já era um pouco intimidador. Agora Emma ser alvo de um interrogatório enquanto ela segurava um machado seria mais intimidador ainda. Aquilo poderia ser comparado a um ritual de inquisição disfarçado. Emma estaria sendo paranoica? Talvez sim, talvez não. 

Enquanto ela sofria de nervosismo por estar ali com Maria, imaginava como os rapazes estariam se saindo. Será que o treinamento militar de Arcádia tinha lhes ensinado a usar uma lança? Contanto que eles não falassem nada comprometedor durante a caçada, eles estariam a salvo de uma execução pública. Afinal, seria isso que Angelina queria deles esse tempo todo? Que eles fossem executados publicamente por escravos fugitivos?  Não seria difícil para ela tramar um destino desses.

- Você está muito pensativa, Emma... O que está te perturbando? Os rapazes vão conseguir o almoço. Tenha um pouco de fé. O nosso papel é preparar a fogueira.

- Não. Eu não estou preocupada com eles. Eu acredito que eles consigam fazer uma bela caçada, na verdade. 

- Então com o que você está preocupada?

"Maldição. Por que eu fui dar com a língua nos dentes?"

- Nada demais. 

A mulher a olhou com reprovação. 

- Emma, eu lembro muito bem do que você revelou no interrogatório. Você foi prisioneira durante doze anos do Império Vermelho. É algo que marca a sua vida. Aqui nós compreendemos isso. Todos os aldeões viveram sua vidas inteiras com o sonho da liberdade. E agora nós estamos perto de consegui-la. Não podemos nos encher de preocupações e medo. 

- Eu sei. Mas e se nós não tivermos chances? Eu lutei anos para me libertar do Império Vermelho e justo quando achei que estava livre agora estou aqui com vocês lutando pela minha liberdade de novo. Será que algum dia eu realmente vou poder ser realmente livre? 

- Invasores! Invasores! - gritava um homem ferido que vinha da floresta.

Maria correu com seu machado em mãos para saber o que estava acontecendo. Emma foi logo atrás. 

Todas as mulheres da aldeia estavam desesperadas. Elas foram até o homem para saber o que estava acontecendo.

- O que está acontecendo rapaz?

- Os capachos do Coronel Epitácio e os soldados da província estão invadindo. Eles estão matando todos. 

- Meu Deus! O que faremos? Onde está Zumbi? - falava uma das mulheres

Emma olhou para Maria esperando uma resposta. 

- Ele não está aqui. Mas fugir não é uma opção. Temos que lutar.

A pergunta na verdade deveria ser como elas iriam lutar. Talvez Emma tivesse a resposta.


***

Até o próximo capítulo. Demorou, mas ressuscitei! ;)




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