Capítulo 34

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"Pergunto-me se, no fim de contas, a vida não será pontuada por pequenos instantes preciosos, e tudo o resto não passará de intervalos entre esses instantes. "
Pintar ou fazer amor

Sinto algo me mobilizando. Estou meio zonza e não consigo perceber onde estou, um local com muita pouca iluminação. Ao olhar para baixo percebo que estou amarrada por fortes correntes em uma cadeira. Sinto dores em todo o meu corpo, entretanto tento me soltar inutilmente.

- Não se mexa, boneca. Preciso de você em perfeitas condições.

Olho rapidamente na direção ao qual vinha a voz. Na minha frente estava Fred em suas roupas de médico, cobertas de sangue. O mesmo se encontrava virado de costas para mim e parecia extremamente concentrado em algo na maca a sua frente.

- O que você pensa que está fazendo, seu maldito? Me tire daqui - grito.

O cheiro de carne podre exalava ao redor. Tento me soltar desesperadamente. Ele se vira e caminha em minha direção, colocando as mãos cobertas de sangue em meu rosto logo em seguida.

Viro meu rosto tentando me livrar de suas garras, porém nada adiantava.

- Calada, boneca. Você será a próxima, não precisará esperar muito. Vou adorar me divertir com você.

- Cala a boca, seu inútil! - grito - Eu não serei a próxima! Não haverá próxima.

Fred ri e começa a passar a mão por todo o meu rosto o sujando completamente de sangue. De repente ele para e coloca dois dedos cobertos de sangue em minha boca.

Neste exato momento mordo seus dedos com a maior força possível.

- Pare!! Para agora - ele grita.

A força que utilizo é tamanha que consigo quebrar seus dois dedos. Ao lhe soltar ele começa a gritar palavras impossíveis de entender. Fred volta para a maca, mas dessa vez fica de frente para a minha pessoa. Ele enfaixa seus dedos.

- Irei acabar com você. Você será a que mais sofrerá, até mais do que ela - diz ficando de costas novamente.

Sem entender suas palavras me concentro no corpo que estava sobre a maca. Não era possível. Aquilo não podia estar acontecendo de novo. Não podia ser ela.

- Mãeee! - grito.

Eu não podia vê-la ser morta daquela maneira.

- Não se preocupe, boneca. Você logo estará junto a ela.

O meu ódio por aquele homem e o amor por minha mãe garante que eu ganhe uma força surpreendente. Forço as correntes até que elas finalmente se soltem. Corro em direção a Fred impedindo que ele faça mais alguma coisa a minha mãe. Com o impacto o mesmo acaba indo parar ao chão, junto com todos os seus equipamentos.

- Sua pequena inútil - diz.

Aquela voz!

Olho em direção ao homem caído. Dom, o homem que destruiu minha vida completamente.

*****

Acordo assustada, olhando tudo a minha volta. Estava em meu quarto.

- Não aguento mais isso! - grito para mim mesma.

- Essas malditas lembranças, esse passado que me persegue - digo.

Decido tomar um banho, quem sabe assim que me livro dessas lembranças. Durante o banho me lembro tudo pelo o que passei: as lembranças, meu passado, minha mãe. Faço um lanche logo em seguida.

Resolvo ir para a agência, somente um treino na academia me faria esquecer tudo aquilo. Concentrar-me no caso seria a melhor forma de deixar o passado para trás.

Ainda me lembro do adolescente que interrogamos no dia anterior. Após ele dizer tudo que sabia saímos de sua casa. Dênis não passava de um menino assustado, nunca teria real envolvimento com aquilo. Na verdade, era apenas um jovem que foi seguido pelas más influências em busca de algo diferente. Ver sua mãe desesperada por conta do rumo que a sua vida estava tomando era algo deprimente.

Minutos se passaram até que eu chegue na agência. Ainda era muito cedo, dessa forma o número de funcionários ainda era pequeno. Vou direto para a academia e já começo meu treino. Lutar sempre me acalmava e essa era a hora perfeita. Vou em direção ao saco de pancadas e desconto todas minhas angústias no mesmo. Treino alguns golpes de forma ágil.

- Não sabia que lutava tão bem assim? - alguém diz.

Olho na direção em que veio a voz. Lorenzo se encontrava encostado na parede e me observava.

- Me vigiando? - digo séria.

- Apenas observando. Não sabia que treinavam tão bem aqui na agência - ele diz.

- Você quis dizer que nunca imaginou que uma mulher lutava aqui, não é? - digo.

- Mas você está aqui para me surpreender como sempre - diz se aproximando.

- Não estou afim de conversar agora - digo me afastando.

- Não vim aqui para conversar - sorri - O que acha de uma luta? Estou realmente precisando treinar.

- Não quero te machucar - digo séria.

- E não vai, vamos apenas treinar - ele diz - Prometo pegar leve, se não você é quem vai sair machucada.

- Se você pegar leve posso matar você, então lute como um homem - digo me aproximando.

Ele apenas sorri e se aproxima ainda mais. Nos encaramos enquanto estudamos um ao outro. Lorenzo tenta atingir meu rosto, desvio rapidamente e dou um soco em seu estômago. Ele dá um passo para trás com o golpe, mas logo tenta revidar.

- Você é realmente bem ágil - ele diz.

- Estou apenas me aquecendo - digo pegando em seu braço.

Começo torcer seu braço, mas sem fazer muita força. Rapidamente lhe dou um chute na perna o que o faz cair de joelhos no chão. Ele se levanta no mesmo instante.

- Não vai ser tão fácil assim - diz me acertando um golpe no estômago e outro em minhas pernas.

Com o impacto acabo caindo ao chão, porém o mesmo se desequilibra e cai sobre mim. Nossos rostos ficam extremamente próximos e pela primeira vez reparo em seus olhos castanhos. Ficamos nos encarando por alguns segundos, mas estes pareciam serem horas.

De repente escutamos o barulho da porta da academia sendo aberta. Tento levantar-me lhe jogando para o lado fortemente.

- Luna?

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