Capítulo 2

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"O medo corta mais profundamente do que as espadas"
George R. R. Martin

Nunca irei esquecer as chamas ao redor daquele homem, eu havia o matado. Como papai pôde fazer aquilo?

- Arrumem tudo. Não deixem vestígio algum - disse papai a um dos homens.

Estava desesperada, meu choro aumentava a cada segundo, mas papai não se importou. Este era frio e queria que eu me tornasse algo pior.  

Durante o caminho de volta tudo o que fiz foi encara-lo. As lágrimas não paravam de escorrer e aquele monstro mantinha um sorriso no rosto. Percebi que este me encarou de volta e logo desviei o olhar observando o caminho ao qual passávamos.

- Luna, agora você é oficialmente uma Salvatore e deve obediência a Cerca Potere. Tudo que aconteceu naquele local é totalmente secreto e em hipótese alguma você poderá contar para alguém. Esse segredo vale sua vida - permaneci de cabeça baixa enquanto ele disse - Entendido Luna?

Permaneci calada. Minha vontade era gritar e sair de perto daquele monstro, mas tinha medo de sofrer as mesmas crueldades que Matteo sofreu.

Ao chegarmos em casa saio o mais rápido possível do carro.

- ESPERE! Você escutou o que disse. Se contar algo será torturada da mesma forma, não importa sua idade – disse papai.

Só afirmei com a cabeça e sai correndo. Fui direto para meu quarto, fechando a porta em seguida, logo batidas foram ouvidas e escutei a voz de mamãe.

- Querida, você está bem? - disse.

Mamãe abriu a porta e me viu sentada em um canto escuro. Abracei minhas pernas, escondendo meu rosto. Pensei em contar tudo o que aconteceu, ela poderia me ajudar, mas o medo me impediu. Cenas do que aconteceu passaram pela minha mente e junto a elas a ameaça de papai.

- Lu, venha! Vamos tomar um banho – ela disse calmamente - Os convidados não irão demorar. Hoje é o seu dia, não se esqueça.

Não queria sair dali, nem queria uma festa, apenas queria ter salvado aquele homem, ninguém merecia tamanha crueldade, mas percebi que papai apareceu na porta, me observando em silêncio e resolvi ir com mamãe.

Após o banho, ela colocou um belo vestido rosa em meu corpo. Não demorou para os convidados começaram a chegar e fomos direto para o jardim, onde estava organizada a festa, mamãe se abaixou e me olha nos olhos.

- Sorria, querida.

Vi em seus olhos sua preocupação, até mesmo seu medo. Será que sabia o que havia acontecido naquela manhã? Não. Mamãe nunca permitiria algo assim.

Queria tanto contar a ela que papai era perigoso.

Morava em uma bela mansão e apesar de todo o espaço dentro da mesma preferiram realizar a festa no jardim, que se encontrava aos fundos. Assim que cheguei me deparei com várias mesas, algumas com alguns convidados, além de uma mesa de doces e a grandiosa mesa do bolo. Entretanto, nada daquilo me chamava a atenção.

Durante toda a festa evitei os convidados, ficava quieta pelos cantos. Mamãe parecia bem preocupada e sempre chegava até mim com algum docinho, tentando me alegrar.

Por um momento me senti sendo observada, virei-me mesmo com medo de que fosse papai. Percebi que era um menino parado ao lado de meu irmão Pietro, que tinha voltado de viagem naquele dia. O garoto veio até mim.

- Hoje é seu aniversário, devia pelo menos sorrir para os convidados - O menino disse - Meu nome é Lorenzo.

Saí de perto imediatamente, tinha medo de tudo e de todos depois daquela manhã.

- Espere.... - ele gritou, enquanto corria para longe. Até que esbarrei em alguém...

- Ahh, minha querida, estava lhe procurando. Está na hora de soprar as velinhas – reconheci aquela voz, era papai.

Todo meu corpo congelou e meu coração acelerou, não sabia o que fazer naquele momento. Papai me pegou no colo com um sorriso no rosto.

- Se acalme, garota - ele sussurrou em meu ouvido. Senti um aperto em meu braço, aquilo estava me machucando. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e papai a secou antes de começar a caminhar.

Chegamos até a mesa onde estava o bolo, com mamãe e Pietro nos esperando. Devido minha altura, colocam-me de pé em um banquinho. Nesse momento olhei para o meu braço e percebi que estava roxo.

Mamãe me olhou preocupada e pareceu perceber o machucado, mas continuou calada e agiu como se nada estivesse acontecendo. Pietro aproximou-se de papai com um sorriso no rosto. Será que havia presenciado cenas como aquelas?

Pietro aproximou-se me abraçando com um sorriso, mas logo qualquer dúvida se esvai ao escutá-lo sussurrar:

- Está apenas começando.

Ninguém notou o que estava acontecendo e assim a festa continuou. A desculpa usada para minha estranheza durante a mesma era que eu estava muito cansada, o que fez com que ninguém me fizesse perguntas. Após a longa festa fui até meu quarto, deitei-me em minha cama e as lágrimas recomeçaram.

...

Estou naquele cômodo escuro e o está chão repleto de sangue. Sinto um líquido cair em meu vestido branco. É sangue, aquele líquido vermelho também estava espalhado até pelas paredes.

No canto daquele cômodo há um pouco de luz. Um homem aparentava estar morto naquele local e ao chegar mais perto o reconheço, Matteo.

De repente o corpo se endireita e abre seus olhos e com uma voz aterrorizante ele diz:

- Eu vou atrás de você! Isso é apenas o começo.

- MÃEEEEEEE.... - Gritei desesperadamente, acordando após o pesadelo.

Rapidamente mamãe apareceu na porta, vindo até mim.

- Calma filha, foi só um pesadelo - ela me abraçou - Você está quente, deve estar com febre. Vou pegar um remédio.

- ANTONELLA! deixa-a aí - gritou papai, assustando-me.

- Mas ela está ardendo em febre...

- Isso é só emocional. Ela vai ter que aprender a controlar seus sentimentos sozinha ou todo o treinamento será um desperdício.

- Ela é só uma criança – percebi que mamãe já estava chorando.

- Ela é uma Salvatore, vai saber suportar. Agora saia daí.

Mamãe me abraçou ainda se recusando a sair de meu quarto, papai logo se irritou e caminhou até nós e a segurou pelo braço. Comecei a chorar, sabia do que ele era capaz.

- Não me faça perder a paciência com você, Antonella. Levante antes que Luna tenha que pagar as consequências de seus atos.

Mamãe levantou-se ainda chorando e me olhou antes de passar pela porta. Tudo o que vi é o sorriso sombrio de papai antes de me deixarem sozinha no escuro novamente.

É através de pesadelos que sou perseguida ainda nos dias de hoje, por um homem que um dia ousei chamar de pai. Naquele dia aprendi a primeira lei da Cerca Potere: O Código de Silêncio, a lealdade a nossa máfia.

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Bjs

VendettaWhere stories live. Discover now