O luau

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Semanas se passaram rapidamente, e a novata foi se acostumando com os costumes e a rotina da faculdade de seus sonhos. Realmente era tudo o que ela esperava e muito mais. Entre o quarteto de amigas, as aulas com prodígios musicais e os luaus organizados pelos veteranos, nada podia estar melhor, e era fácil manter sua promessa de não ficar se lamentando por ter saudades de casa.
O Natal se aproximava, fazendo com que o campus ficasse todo iluminado com luzes pisca-pisca, inclusive nos grandes Cedros e Pinheiros vermelhos que preenchiam os arredores. Miniaturas de Papai Noel e renas preenchiam cada sala comum ou de entretenimento do campus, além das músicas natalinas de fundo que deixavam todos de bom humor.
Em Dallas, Maddy e seu irmão Ian tinham o costume de decorar tudo na semana anterior ao natal. Sendo o feriado preferido de ambos, sempre adoravam elaborar os preparativos juntos e convidavam Bonnie, a prima Callie, Ethan e Jenny, sua amiga e vizinha para cozinharem delícias de doces e salgados natalinos. Só de pensar nos cookies da receita da avó de Jenny, Maddy já começava a salivar.
Ian era o único que a vencia na fixação por aqueles docinhos maravilhosos. Sendo três anos mais velho do que ela, ele tinha o famoso complexo de irmão mais velho, mas ao mesmo tempo, compartilhava do mesmo grupo de amigos que a irmã, o que os tornava quase inseparáveis. Pensar em seu irmão trouxe um sorriso no rosto da loira, mas infelizmente, atrapalhou e muito sua concentração na tarefa que deveria concluir.
Sentada ao pé de sua janela, Meredith observava o céu nublado tirando sua mente por alguns instantes da tarefa de teoria musical. Estudava fazia pouco tempo, mas o cansaço a abatia de tal forma que as notas começavam a flutuar da página e se tornavam um vulto incompreensível.
Assustou-se com o quarto suspiro de Poppy e se virou para a amiga que tentava ler o roteiro a decorar para sua peça e pintar suas unhas do pé ao mesmo tempo em sua cama. Porém parecia que em um malabarismo para pintar o dedinho ela havia derramado um pouco de esmalte vermelho nas folhas que deveria estar decorando.
— Você levou ao pé da letra a tarefa de decorar esse roteiro, hein, Poppy girl? Quer um pouco de esmalte azul e verde também?! Assim você pode terminar a decoração natalina das suas falas.
Poppy lhe mostrou a língua fingindo-se de ofendida fazendo-a rir. Algo que a ruiva realmente era incapaz de fazer era parecer brava. Não devia haver nada no mundo que pudesse transformar suas feições que sempre transmitiam um ar de simpatia, menos quando estava atuando, claro. Exprimia uma versão hiperativa, muito falante e animada de simpatia.
— Bem, não pode me acusar de não ter um espírito natalino, não é?
Poppy sorriu como resposta e levantou-se exasperada começando a caminhar de um lado para o outro do quarto. Isso era tão comum que Maddy já havia chegado a cogitar se algum dia sua amiga chegaria a cavar um buraco no chão até o andar inferior. A frustração da ruiva parecia só aumentar o nível de sua hiperatividade.
— Chega, Maddy, nós vamos ao luau de hoje à noite sem discussão! Faltamos os dois últimos com a loucura das provas, mas agora que já está quase na pausa para o natal, acho que deveríamos estar tendo ao menos um pouco de diversão!
A loira ergueu uma sobrancelha com uma expressão de dúvida já que mal havia começado a tarefa do professor Stein, quem dirá terminar o exercício que tinha em mãos e o prazo de entrega estava se esgotando.
— Por favorzinho? — perguntou a ruiva fazendo um biquinho que claramente entregava suas próximas palavras: — Nunca te pedi nada...
— Ok, ok. Vamos nos arrumar, não quero perder quando eles acenderem a fogueira! — cedendo ao apelo da amiga, Maddy levantou-se e começou a escanear o seu armário por algo bonito. Claro que a menina sabia que Caleb estaria lá, ele nunca perdia uma festa.
Acabou que o doce menino dos olhos azuis e ela foram fortalecendo seu afeto com o passar do semestre. Afinal, passavam um bom tempo juntos treinando canções. Já que Meredith havia se destacado em suas aulas práticas, a Professora Martha Vivaldi havia decidido lhe arranjar uma espécie de tutor que já estaria em classes mais avançadas e por sorte, ou destino, esse cara havia sido Caleb.
No começo foi esquisito. Momentos de silêncio constrangedor, timidez e olhares furtivos. Porém, foram se acostumando com o ritmo um do outro até que em uma tarde resolveram almoçar juntos em seu refúgio recém-descoberto: a sala de música do segundo andar que apesar de não ser tão grande quanto a sala principal no primeiro andar, a menor contava com elenco reduzido de visitantes que raramente divergiam dos dois e da equipe de limpeza.
Neste dia, porém, haviam se passado três semanas que treinavam no refúgio musical e haviam combinado de adiantar o ensaio para pouco antes do almoço já que o menino teria provas no turno da tarde que impossibilitariam seu encontro usual.
Após uma lição, Maddy, ou Hazel como ele a apelidara já que seus olhos tinham uma coloração avelã, buscou a comida rapidamente no refeitório e enquanto se aproximava da porta da sala admirava o talento puro da voz e musicalidade de Caleb.
Entrou silenciosamente enquanto ele terminava de tocar a bela canção do DeathCab for Cutie, Transatlanticism*. Ele virou-se para ela sorrindo e flexionando os braços malhados - provavelmente do surfe - juntou-se a ela no pequeno sofá da sala. Conversaram por um tempo de amenidades rindo compulsivamente.

Hazel's SerendipityWhere stories live. Discover now