Chegada à Ouro Negro

472 47 44
                                    

Capitulo 1

A chuva caia escorrendo pela janela de vidro do trem de ferro que ziguezagueava pelas serras e morros. Pouco se podia ver do lado de fora, o vento assoprava balançando com uma impetuosa força, fazendo assim, Grandes arvores dançarem ao toque supremo de seu poder.

_Chegando a próxima estação, grita o bilheteiro!

Podia se ouvir o assoviar dos freios nos trilhos de ferro que arrancando faíscas de fogo ia desacelerando cada vez mais... com isso, acelerando o coração de uma jovem senhorita.

Aquele dia marcaria uma nova etapa na vida dessa senhorita. Até então uma delicada menina, que pelo capricho do destino havia vivido sua vida longe da presença de sua mãe e de seu pai, isso lhe havia moldado para o seu futuro na fazenda Ouro negro. Onde uma menina moça irá se transformar em uma mulher, senhora de seu próprio destino dona de sua vida e de muitas outras que dependeriam dela para sobreviverem em uma época selvagem e hostil.

De longe se ouvia o apito, e podia-se enxergar a fumaça preta que subia pela chaminé do trem, que vinha cada vez mais devagar até parar na pequena estação daquela cidadezinha do interior do Rio de janeiro.

Uma tarde chuvosa... sob olhares curiosos de homens e mulheres com suas vestes pouco luxuosas, as quais, aparentavam bem a localidade interiorana onde viviam, a não ser por um ou outro homem melhor trajado com seus ternos bem alinhados, os quais se cumprimentam sem se importar com as pessoas menos favorecidas que ali estavam.

Porém, todos se detêm de suas ocupações ao verem descer do trem com seu chapéu deslumbrante, seus sapatos muito bem engraxados, seu vestido bem talhado e uma sombrinha que ali não havia outra igual...

Lorena, uma jovem de traços belos com seus dezenove anos de idade, uma flor linda e bela que apesar de suas pétalas sedosas também trazia consigo espinhos.

Chegava àquela localidade tão longe de tudo que até então conhecera, que até então havia vivenciado. Seguida por olhares desconhecidos procurou por alguém que a estivesse aguardando, quando de repente, surgiu um senhor acima do peso, correndo todo encharcado pela chuva que não cessara de cair.

-Senhorita Lorena? Perguntou ele ofegante!

Abaixando levemente a cabeça em um breve cumprimento.

-Sim, sou eu!

Disse a jovem com um tom de superioridade deixando o senhor Antônio Tavares meio desconcertado. Naquela época não se via mulheres, ainda mais, tão jovens com tanta altivez e segura de si.

Senhor Antônio era advogado e amigo íntimo do coronel Jerônimo Carvalho de Nóbrega que falecera há alguns meses atrás, deixando assim todos os seus bens para Lorena sua única filha... que havia sido criada por uma prima do coronel após o falecimento de sua esposa, que falecera ao dar à luz a Lorena.

A prima, senhora Helena havia também a pouco falecido, restando a Lorena somente um primo. Hugo castro de Assis filho único de Helena que ficara na capital da província cuidando dos bens que sua falecida mãe lhe deixara.

Senhor Antônio Tavares apressou-se em pegar as bagagens da senhorinha e colocar em sua carruagem, como as bagagens eram muitas, ficou de mandar no outro dia as que ficaram guardadas no porta bagagens da estação.

Ao entrarem na carruagem, senhor Antônio logo tratou de pôr Lorena a par de tudo que seu pai  havia deixado lhe por herança.

-Senhorita Lorena, sinto muito pelo falecimento de seu pai, éramos muito amigos, homem muito bom, excelente pessoa...

Lorena ouvia tudo com um tom sério no rosto e um olhar distante, não conhecera seu pai a não ser por algumas pequenas visitas, e pelas cartas que de quando em vez lhes chegavam.

Sempre sua prima a qual lhe cuidara lhe contava histórias de quão bom era seu pai, ele havia amado sua mãe e o quanto ele a amava, mas na verdade, coronel Jerônimo lhe era um perfeito estranho.

Seguiram de carruagem por mais ou menos uma hora, já escurecia quando chegaram à fazenda:

-Senhorita Lorena esta é sua fazenda, como já se foi o pôr do sol, amanhã de manhã lerei o testamento de seu pai e mostrarei as dependências da propriedade.

Já quase não se podia ver pela noite que desabrochava na imensidão da fazenda, meio ao entardecer que se tornava turvo... observava-se um enorme terreirão para a secagem do café palmeiras majestosas dos dois lados do caminho que conduzia à casa grande. Uma escadaria que subia até o alpendre de madeira rústica, grandes portas entalhadas que se abriram e uma senhora negra com suas vestes rotas estendeu as mãos para pegar a maleta, a sombrinha e o casaco de Lorena. Ao entrar no salão principal, grandes velas em castiçais de prata clareavam o ambiente que deveras não era muito grande, todavia, muito bem mobiliado.

- Ana!

Disse o senhor Antônio:

- Esta é Lorena sua sinhá de hoje em diante.

Senhorita Lorena, esta é Ana sua mucama e cozinheira. Tudo o que você precisar peça a ela que ela o fará.

-Muito bem Ana, gostaria que você me preparasse um banho e algo para comermos, o senhor Antônio e eu estamos famintos.

-Sim sinhá Lorena, a janta está pronta.

A sinhá vai comer antes do banho?

-Sim Ana! Vamos comer antes do banho, e logo após o jantar arrume acomodações para o senhor Antônio também, ele irá pernoitar na fazenda.

-Sim sinhá!

Ana arrumou a mesa para o jantar.

Arroz, feijão, frango e polenta. Tudo muito bem preparado.

Senhor Antônio se fartou comendo, conversando e rindo.

Ana, sobre seus pés logo atrás da cadeira de Lorena, tremia que se podia ouvir, mesmo estando atrás de si Lorena sentia o medo que corria pelo corpo de Ana. Ela temia pela reprovação de sua nova sinhá, temia pelo tempero pelo jeito da toalha o jeito dela se portar. Enfim, temia não agradar e sofrer as consequências.

Logo após o jantar veio outra mucama para recolher as louças, Maria, mais nova, mas igualmente tremia e se encolhia de vergonha. Senhor Antônio disse:

-Agora, prepare o banho Ana!

Ana saiu às pressas e logo subiu as escadas com a água quente, para o banho de Lorena.

-Maria!

-Sim sinhá!

- Maria me conduza ao meu quarto e, por favor, logo após leve senhor Antônio ao seu, vamos nos recolher.
Senhor Antônio, me desculpe, mas estou exausta preciso de um banho e de dormir seguidamente. Amanhã nos falaremos. Tenhas uma ótima noite!

-Boas noites, Senhorita Lorena!

Maria sobe as escadas com uma mala enorme nas mãos e Lorena à acompanha, sentindo-se como se estivesse subindo para a forca. Os pensamentos queimavam lhe o cérebro, ela pronunciava em seu íntimo: _Vou vencer, vou conseguir, vou vencer...

Ao abrir a porta de seu quarto, pouco iluminado, no entanto, se podia ver uma enorme cama com lençóis limpos, cortinas lindas de cetim nas janelas, uma grande poltrona, uma escrivaninha e um roupeiro que tomava toda parede. Um quarto elegante que fora preparado para uma princesa. Lorena pode sentir que seu pai havia feito aquele quarto somente para ela.

Após o banho, senta se sobre a cama frente à janela.

Olha para o vazio de seu íntimo...

E chora...

A BELA DE OURO NEGRO Where stories live. Discover now