Portadora da morte

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Ao chegarem ao alpendre, Lorena a convida a assentar-se e logo após pede a Olga que traga um café para sua estranha visita.
- Realmente sua fazenda é muito bonita.
- Agradeço-lhe o elogio, senhora.
- Deves estar achando minha visita incomum, peço perdão pela inconveniência de aqui estar sem anúncio prévio.
- Estou no mínimo curiosa. É-me um prazer traçar novos conhecimentos. Como ouvintes falar de mim?
- Deveras as notícias correm rápido por essas bandas. A senhorita possui algo que é de meu interesse adquirir, então, desloquei-me até aqui para que possamos negociar tal objeto.
- Dexaste-me mais curiosa ainda! O que possuo que seja de seu interesse?
- Algo que pertenceu a minha amada irmã e gostaria de recuperar.
- Se puder ajudá-la, com certeza o farei, mas me diga o que seria?
- A Senhorinha é uma mulher de fibra, pelo que soube não se intimida por nada. Atirou nós miolos de seu mal feitor, cuida de sua fazenda sozinha. Eu tive uma grande vontade de ver se tudo o que diziam é realmente verdade.
- Até o devido momento tudo o que dizes é a mais pura verdade, não me deixo abater por menores. Diga-me sem rodeios o que queres realmente de mim!
- ... É isso o que me interessa!
Pago o preço que for para obte-lo, peço lhe que não me négues, por favor!
Dizendo isso, contou a Lorena o motivo que a levou a ir até Ouro Negro, das angústias sofridas por sua falecida irmã. Enquanto ela lhe contava, os olhos da dama de ferro jorraram lágrimas, ela nunca imaginou que pudesse haver tanta crueldade no mundo, apesar de lutar contra o racismo vê que a cor da pele não é evidência de bondade ou maldade, que atos horrendos emanam de pessoas de ambos os tons de pele.
- Dona Perpétua, nesse momento não está em minhas mãos o poder de satisfazer seu desejo, porém farei de um tudo para acalentar seu coração. Abrirei mão para que possas amenizar sua dor, deveras sinto muito pelo ocorrido em sua família.
- Agradeço-lhe Senhorinha, parto para minha fazenda com o coração aliviado por sua compreensão.
- Não partirás antes do almoço, faço questão.
- Aceito e agradeço.
Após um longo dedo de prosa as duas mulheres teceram uma futura amizade e puderam puderam ver que tinham muito em comum, ambas cuidavam sozinhas de suas propriedades e a inveja tivera tentado tirar lhes a felicidade. Lorena com seu jeito carinhoso mostrou a maneira que lidava com tudo. Dona Perpétua ficou estupefata com tanto zelo e astúcia.
- Senhora, gostaria que fosses comigo pelos arredores de minha fazenda e observasse o que venho fazendo aqui, tem me custado muitas lutas, mas tudo fica mais prazeroso com uma boa batalha.
- Concordo! Nada mais saboroso que colhermos os frutos daquilo que plantamos.
- Deveras dona Perpétua, deveras...
E Lorena mostrou lhe Ouro Negro ao redor da casa grande, dona Perpétua a admirou por tudo que ela construiu com sua jovens mãos.

Augusto sai ao encontro de seu pai, e o encontrasse prosas com Onofre.
- Papai eu o estava procurando. Bons dias Onofre!
- Bons dias senhorzinho.
- Depois retomaremos esse assunto Onofre.
-Tudo se resolverá senhor Barão, muito em breve!
Onofre se retira.
- Papai a senhorita Lorena disse-me sobre a proposta que lhe fez. O senhor está disposto a lhe vender parte de Santa Lucia?!
- Realmente meu filho, essa noite não pude dormir pensando em tal assunto. Pude ver que não me resta alternativa, venderei para sua noivinha parte de minha fazenda.
- Estais certo Papai, antes um pássaro nas mãos do que vários voando! Reerguerem os  Santa Lucia e lutaremos juntos para que isso aconteça rápido.
- Tu dizes isso porque para ti está tudo bem, você seu palerma, estará de posse de Ouro Negro e da fortuna daquela sinhazinha, porém sua família estará na lama!
- Não digas isso papai! Sempre serei seu filho e Lorena será como uma filha para o senhor.
- Bulhufas! O desejo daquela dama de coração de ferro é me arruinar.
- nunca digas tal coisa papai, ela quer nosso bem.
- Se ela quisesse nosso bem, emprestaria o dinheiro para eu me reerguer, ela quer me humilhar e o pior de tudo, libertar os negros malditos da minha fazenda!!!
Pois bem, ela conseguiu!
Pensando bem, não tenhas por conta os arroubos de seu  velho pai, estou em frangalhos, perdoe-me.

Augusto vê naquela revolta o que seus olhos sempre viram, o Barão sendo o que ele sempre foi. Nem por um instante lhe passou pela cabeça que seu próprio pai intentava contra a vida de sua amada.

O dia passa rapidamente. Lorena despede -se de sua visita.
Os trabalhadores cuidam de tudo, como sempre com muito zelo.

Os escravos do Barão chegam exaustos da lida, seus corpos magros cheios de feridas mal saradas, são empurrados senzala a dentro como animais, ou pior, os animais eram melhor tratados na fazenda do Barão. Eles ainda não sabem, mas uma bela jovem com um coração de anjo, já havia se compadecido de suas dores e brevemente o livramento os alcançariam, muito em breve.
A noite chega e o Barão vai a casa de Onofre para terminar a prosa que foi interrompida de manhã.
- Me digas qual sua ideia Onofre?
- Primeiro quero saber o que ganharei com essa impreita?
- Tenho que pensar...
Terá que ser algo que ninguém desconfie. Não quero que fique nenhuma ponta sem o devido nó.
- Eu quero terras e alguns escravos para o trabalho, se assim for, garanto que vai tudo dar certo no plano.
- Está muito bem, lhe darei as tais terras e os escravos, afinal de contas, eles irão aumentar muito os da minha norinha ainda não tem cartas de alforria, são somente promessas que de modo algum cumprirei.
- Procedermos desse modo, infiltaremos uma neguinha na cozinha da Senhorita, depois que ela tiver se amansado bem por lá, se tornando de confiança, nós daremos a ordem. Mande logo a neguinha pra lá, dê ela de presente pra sua nora. Vou fazer os acertos com a macaquinha.
- Ela é de confiança, não vai dar com as línguas nós dentes?
- Deixe comigo, essa neguinha faz tudo pra ter um trapinho novo, um perfuminho, sei doma a fera.
Toda noite eu a busco pra me satisfazer, ela e cria minha desde os onze anos, faz tudo o que quero.
- Hoje mesmo do um jeito de colocar ela na casa daquela víbora.

Ao chegar na hora do jantar o Barão começou colocar seu plano em prática.

- Cândida, que lavagem é essa?! Essa nega cozinheira virou uma porca?
Essa comida está intragável!
- Papai, não vejo diferença alguma.
- Não me contrarie. Troque de mucama Cândida, essa vai para o tronco!
- Não meu marido, por favor, eu a trocarei.
- Augusto, amanhã quando for para Ouro Negro, vais levar uma neguinha bem jovem para aprender a cozinhar com a negra cozinheira de sua noiva, ela sim, sabe cozinhar!
Você fará isso!
- Claro papai. Ana é uma excelente cozinheira e Lorena não a de se importar dela ensinar uma neguinha aqui de casa.
- Feito! Onofre te apontará a negrinha amanhã sem falta.

E o senhor Barão usa sua astúcia e consegue o que quer mais uma vez.

A BELA DE OURO NEGRO Onde as histórias ganham vida. Descobre agora