Amigo fiel

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Jordão faz mil planos em sua mente durante o trajeto de Santa Lucia à Ouro Negro.

- Tenho que contá para a senhorita Lorena e pra o senhorzinho Augusto, eles vão acreditá nas minhas palavras e na Rita, eles tem que acreditá!
Meu Deus! Num sei o que fazer!
Sou um nego desgraçado, ninguém vai acreditá ni mim.
Devo contá tudo, não tem jeito.

Ao chegar à fazenda vê o sultão amarrado em frente à casa grande.
Ele sobe as escadarias pronto para contar tudo para Lorena e Augusto.

- Boas noites pra vocês!
- Boas noites, Jordão.
- Tenho algo pra fala pra vocês, agora!
- Claro! pois fale Jordão.
Antes de você falar, eu quero lhe dar uma notícia explêndida.
Meu sogro conseguiu que eu participe das reuniões da câmara, ele pleiteou junto aos membros e conseguiu!
Estou tão agradecida a ele que não sei como irei paga-lo por esse presente maravilhoso que ele deu-me.
- Não precisa de agradecimentos, meu amor. Tenho certeza que papai fez isso de todo coração, pois de agora em diante somos família, e família faz tudo o que puder uns pelos outros.
Você não acha isso, meu amigo Jordão?!
- Sim, tenho certeza que sim!
- Agora fale o que queria nos dizer.

Jordão vê naquela hora que suas palavras somente causariam a desgraça para aquele casal de amigos seus.
Ele ainda se pôs a imaginar que Augusto não creria em suas palavras, pois ele sabia do amor que ele nutriu por Lorena, poderia supor serem ciúmes pelo pouco tempo que falta para o casamento. O melhor é se calar e pensar em algo que a possa salvar das garras do maléfico Barão Inácio Munhoz.

- Então, fui ver Rita e resolvi que vou me casar com ela. Ela é uma pessoa muito boa e sei que me fará feliz.

Lorena abre um imenso sorriso, afinal, o que ela mais almeja na vida é ver a felicidade de seus amados amigos.

- Fico deveras feliz por vocês, desejo toda a alegria e felicidade do mundo aos dois.
Vocês são minha família e vou dar-lhes um belo presente.
Que alegria, Jordão!

E assim, os planos de Jordão se frustam. Ele desce as escadas e vai para seu quarto com seus pensamentos conturbados, sentindo-se em um beco sem saída.
A noite se torna imensamente longa para Jordão e Rita.
E repleta de desespero e aflição para a pacata baronesa Cândida.

O dia está quase amanhecendo, o galo canta o vermelhidão vem rompendo a alva.
O cheiro de café recém coado exala por toda a casa grande.
Lorena desce as escadas e logo atrás vem seu amigo Dionísio, hoje será o primeiro dia de aula para rodas as crianças da fazenda. Sua dona faz questão que Pitu assista às aulas, todos os adultos que quiserem aprender a ler aos sábados à tarde e aos domingos o professor Dionísio dará aulas na cozinha grande, onde há bancos e mesas para todos.

- Meu amigo, hoje começa a minha mais almejada empreitada, que todos aprendam a ler e escrever. Eu sei que você foi mandado por Deus para que mais esse sonho se torne realidade.
Boa sorte meu amigo!
- Sou eu quem agradeço pela confiança e pela chance de por em prática esse sonho seu.
Irei dar meu melhor!

Jordão se aproxima.

- Senhorita, posso ir à vila agora de manhã? Já deixei alguém em meu lugar, Constâncio está ciente e está tudo bem vigiado.

- Pode ir, e aproveite e faça- me um favor, veja se chegou à estação algum telegrama para mim.
- Sim Senhorita, pode deixar que eu vejo.

O dia segue com perfeição.
Constâncio vai com alguns trabalhadores para a fazenda do Barão e Sebastião cuida de todos os afazeres em Ouro Negro.

Jordão chega à vila São Gabriel montando um lindo cavalo, carrega em seu coldre uma pistola visível a todos chamando a atenção por onde passa, pois aquele escravo rebelde outrora acorrentado, transformou-se em um homem altivo e dono de seus atos. Ele desmonta frente à delegacia e entra apressado.

A BELA DE OURO NEGRO Onde as histórias ganham vida. Descobre agora