Capítulo 4 - A mensagem

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Mateus bate no quarto da irmã. Ela demora abrir a porta.

― Estava vendo um pornô, maninha?

― Que horror, Mateus!

Ela olha para ele e percebe uma certa aflição. Tranca a porta e manda-o se sentar em sua cama.

― O que está acontecendo?

― É sobre Priscila.

― Ah! Meu Deus! Acharam o corpo dela?

― Calma!

Mateus pega o celular do bolso.

― Recebi uma mensagem dela ontem, mas só vi hoje. Olha aqui ― diz entregando-lhe o celular.

"Desculpe-me, eu não queria fazer aquilo com você. Ainda está bravo comigo? Preciso te ver hoje ainda!"

Rebeca fica lendo e relendo a frase. Antes que ela diga alguma coisa, Mateus interrompe o silêncio:

― Eu não entendi nada. Não sei do que ela está falando. Talvez tenha mandado pra pessoa errada.

― Vocês dois chegaram a... você sabe...

― Nunca rolou nada entre nós, Rebeca. Ela me fez alguns elogios e eu também, mas não passou disso.

― O que ela te fez que te deixou bravo?

― Nada. Não aconteceu nada. Eu não entendi esta mensagem. Não é pra mim.

Rebeca devolve o celular para ele.

― Apaga isso. Agora!

― Vou copiar e salvar em algum lugar, depois apago. Isso pode ser útil na investigação.

― Deixa de ser burro, Mateus! Isso vai colocar você como principal suspeito pela morte dela.

― Morte? Quem disse que ela está morta?

Rebeca anda de um lado para o outro e para diante da janela. Depois vira-se para seu irmão e diz:

― Eu acredito que ela está morta. Lembra do Charles? Sumiu e depois o acharam morto lá embaixo da ponte.

― Ele suicidou.

― E se ela tiver feito o mesmo?

― Se ela tivesse esta intenção, acha que me mandaria esta mensagem?

= // =

Tomás desce apressado da bicicleta e coloca o cadeado nela, olha as horas no celular. Está atrasado cinco minutos. Sobe os quatro lances de escada com apenas duas pernadas e quando vai em direção à sua sala de aula vê os alunos todos reunidos no pátio.

Ele diminui os passos ao ver o diretor falando.

― Mais uma vez eu digo, estamos todos preocupados com o desaparecimento de Priscila, por isso hoje não haverá aula. Com exceção dos colegas de classe de Priscila, todos os alunos estão dispensados e já podem ir para casa. Vão direto para casa!

Os alunos começam sair um a um. Há muitas especulações e teorias para o sumiço da garota.

Alguns dizem que ela deve ter fugido de casa, pois tem os piores pais do mundo, outros dizem que deve ter saído para usar droga e ficou doidona demais e está dando um tempo para se recuperar.

Um rapaz alto e magro sai conversando com uma garota afro descendente. Alex o escuta dizer:

― Acho que ela foi assassinada igual o Charles.

― O Charles suicidou ― diz a garota.

― E você acreditou?

― Há um assassino à solta em nossa cidade, tenho certeza. Não vai parar por aí.

Alex abre um sorriso ao ouvir e se aproxima de Tomás.

― O que será que vão fazer com a gente?

Antes que Alex respondesse, o diretor chama a atenção de todos e diz:

― Vamos para a sala de vocês. Em silêncio, por favor.

Eles seguem em direção à sala, mas o silêncio não foi possível.

Sara entra e senta-se ao lado de Tomás. Fica roendo as unhas e percebe que ele está batendo os pés sem parar, o que lhe causa certa irritação.

― Bom, como é de praxe numa situação dessas, todos vocês serão interrogados pela polícia, mas não entrem em pânico, acredito que não há suspeitos entre nós. Eles devem fazer perguntas sobre o comportamento dela, se tinha inimigos, se houve alguma briga, então eu peço que sejam bem sinceros em suas respostas, pois precisamos descobrir o que aconteceu com nossa aluna.

"Blá, blá, blá... Quanta bobagem!", pensa Alex e enquanto faz um desenho invisível com a ponta dos dedos sobre a mesa.

O diretor olha para ele e parece curioso pra saber o que tanto ele faz com aquele dedo pra lá e pra cá na mesa.

A polícia chama um a um em uma sala que foi reservada especialmente para este fim, e assim que respondem às perguntas eles são liberados. Alguns entram e saem tremendo do interrogatório.

Alex entra, senta-se com as pernas abertas e se recosta na cadeira. Olha para o policial e diz:

― Pode perguntar.

― Você e Priscila se davam bem?

― Normal.

― O que é normal?

Alex sorri, pensa em dizer que normal é o que não é anormal, mas isso irritaria o policial. Então diz:

― Quero dizer que é uma pessoa que eu conheci há pouco tempo e que não tinha intimidade com ela ainda. Entende?

― Entendo. O que você acha dela?

― Como eu disse, eu não tinha intimidade com ela. Achava ela uma garota bonita, simpática.

― Achava?

― Sim. Achava. E não quero dizer que esteja morta. É maneira de dizer quando alguém desaparece.

― Tudo bem.

O policial anota alguma coisa no bloquinho que traz na mão e diz olhando nos olhos de Alex:

― Com pouco tempo aqui na cidade ela conseguiu conquistar muitas pessoas. Nota-se que aqui na escola ela já é muito querida. Você acha que isso pode ter incomodado alguém?

Alex se ajeita na cadeira, passa a mão no cabelo e tira uns fiapos da testa.

― Verdade. Em pouco tempo ela conseguiu chamar muita atenção mesmo. Olha, hoje as pessoas incomodam com tudo, até com o cabelo da gente, então acho que a popularidade dela pode ter incomodado alguém sim, com certeza. Principalmente alguém que às vezes tenta ser popular e não é.

O policial toma outra nota e olha pensativo para Alex por uns dez segundos. Alex pensa que as perguntas acabaram, mas ele continua:

― Você é o garoto mais popular da cidade, todos sabem disso. Como é ser popular?

Alex sorri encabulado, pensa em desmentir, mas prefere seguir a linha do bom menino:

― Eu só trato bem as pessoas, sem fazer distinção. Meus pais dizem que sou assim desde criança. Eu acho normal ser popular, isso não me sobe à cabeça, tanto que não fico esnobando ninguém.

― Não te incomoda esta situação?

― Por que me incomodaria?

Conto com você, papaiWhere stories live. Discover now