Capítulo 1 - Marcas do Apocalipse

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O vento seco varre a longa estrada repleta de detritos. O Sol queima as plantações, que agora já avançam sobre a pista, esburacada, vazia e suja. Os orvalhos estão altos. O capim tomou conta de tudo e já começa a brotar das rachaduras do asfalto. A estrada é longa, mas não mais perdida no horizonte do que o olhar de uma cansada Nora. Ela observa pela janela do carro, os mesmos lugares um dia descampados que ela já passou duas ou três vezes na vida. O carro segue constante, à uns 60 km/h. Do seu lado, dirige um sério Owen, seu marido divertido, mas que só tem andado com os olhos tristes. O charme do seu queixo cerrado e da barba por fazer agora fica encoberto pelo suor constante e a pouca oportunidade de manter a higiene. No banco de trás, apertados em um único cinto de segurança, Harry e Don, 11 e 13 anos, respectivamente, dormindo o sono de crianças que jamais deveriam passar por isso tudo. Eles deviam estar agora com Marie, em Oklahoma, com seus chapéus de caubói, tomando banho de rio, ou brincando nas dunas.


"Querida, Marie,

Eu não a vejo desde que nos encontramos há uns 5 anos, e juramos não nos separarmos no meio disso tudo. Os meninos sentem sua falta. E cada vez que perguntam, eu não sei dizer se vão estar vivos para vê-la mais uma vez. Se eu estarei. Se você está. Cuide bem de Felt, por que os meninos adoram sair com ele, simplesmente para colocarem seus chapéus e parecerem nativos. Owen fica enciumado, mas nada como seu café para acalmá-lo. E aquelas longas conversas no fim de tarde, fazendo cada dia de nossas férias valerem a pena. Porra, que saudade... Está cuidando do cabelo ? E Ely já tem conversado com você sobre o namoradinho ? Não a condene demais. De nós duas, você sempre foi a que mais deu trabalho a adolescência inteira. Estou rindo. Lembrando do dia que...


Os pensamentos de Nora são interrompidos quando a Owen para o carro.

- Tem uma barricada.- diz, e repetindo, olhando para Nora - Tem um tronco na estrada.

- E você acha que é uma armadilha ?

- Eu não duvido mais de nada. - diz, desconfiado.

Owen engata a marcha ré e começa a voltar.

- Não ! Vamos continuar. Eu vigio as crianças. Você olha e volta pro carro, se não tiver como passar.

- Nora...

- Por favor, Ow. - diz, sem entusiasmo, mas procurando olhar ele nos olhos - Eu estou cansada de voltar. Perdemos o nosso grupo. Dooley, Meredith, Kevin, Jessica... Eu não vou voltar pra lá, nem pra perto de lá.

- E quem garante que passando por esse tronco, vamos encontrar algo diferente ? - ele diz, sensato.


Ele estava certo.

Há menos de 36 horas, Nora e Owen saíram para encontrar suprimentos. O portão foi trancado como sempre, e o caminhão empurrado para frente dele, formando um bloqueio quase perfeito. O acampamento era aberto, mas era reforçado por uma cerca de arame e sinos em pontos estratégicos, e se por acaso algum zumbi passasse pela cerca, alguns metros à frente, uma vala de mais de 3 metros de profundidade e quase 2 de largura os esperava. Owen e os outros levaram 2 meses para terminar tudo. O grupo de 12 pessoas dormia nos seus carros e em um trailer velho, que foi reforçado. Alguém vigiava de cima do trailer durante a noite. Mas aquilo foi bem no meio da tarde... Alguém empurrou o caminhão e o portão estava misteriosamente aberto. "Não foram zumbis", Nora pensou imediatamente assim que viu. Owen correu na frente, e por mais que ela tivesse pensado nos filhos logo em seguida, levou 3 segundos ou mais para reagir, e correr logo atrás de Owen, passou pelo portão sem olhar os 3 cadeados arrebentados e seguiu pela trilha de terra até chegar à clareira onde ficavam os carros.

Os Exilados de WoodburyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora