Capítulo 37 - Marcelo

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Isabel para de se mexer, mas ainda está respirando. Eu fico observando como um gato quando brinca com sua presa. Espero que ela tente se reerguer e se isso acontecer não dará um passo sequer porque não deixarei.

Levanto do chão e vou até o porta-malas do carro dela. Ao abrir vejo Iolanda lá dentro. Meu coração dói, minha carne treme. Viro-me para Isabel e tenho vontade de terminar de matá-la. Fecho as mãos instintivamente e abaixo perto dela.

Ela está tão vulnerável, tão entregue, parece que desistiu de viver. Um filme me passa pela cabeça.

Nós dois na lua de mel.

Nós dois dando o primeiro mergulho em nossa piscina.

Fazendo amor pela primeira vez...

Assusto-me com o celular dela tocando. Abro o carro e pego-o no banco do carona.

Vejo na tela o nome de Roberta.

― Alô!

― Sr. Marcelo?

― Sim. Pode falar, Roberta ― Olho para Isabel desfalecida no chão. ― Isabel está tomando banho. Vai sair daqui a pouco.

― Sabe o que sr. Marcelo? É que eu queria saber se posso voltar a trabalhar amanhã... Ela me deu quinze dias, mas não vou poder fazer a viagem mais, então...

― Pode sim. Ela ficará feliz com sua volta. Vou pedir para ele te mandar uma mensagem depois.

― Obrigada.

Ela desliga o telefone e eu o coloco no bolso da minha calça. Olho para Isabel de novo. Ela continua do mesmo jeito.

Nossos sentimentos são estranhos. Eu daria a minha vida por esta mulher, juro que daria. De repente tudo se transformou dentro de mim e o que vi à minha frente foi apenas um monstro frio e impiedoso. Onde foi parar todo o amor que eu sentia por ela? Onde foi parar?

Como pode acabar assim num piscar de olhos? Como o amor pode se transformar em ódio? Será que nunca foi amor?

Eu pego Isabel e a jogo no porta-malas do carro dela.

― Marcelo!

Ouça a voz de Laura no portão. Droga!

Entro rapidamente no carro e saio da garagem. Paro perto dela. Meu coração está acelerado. E presumo que estou com cara de cansado, pois sinto o suor escorrendo em meu rosto.

― Oi, Laura.

― Está saindo?

― Sim. E não posso me atrasar. Vou buscar Isabel.

― Mas este não é o carro dela?

O olhar dela é de suspeita. Ela sabe que tem algo errado comigo. Todo mundo vai saber quando me ver. Esta é a sensação que tenho. Mas é claro que é só uma sensação. Laura não sabe e nem suspeita de nada. Eu e Isabel sempre fomos um casal feliz e eu nunca cedi aos seus encantos e nem às suas cantadas sutis. Sempre fingi que não entendia e continuamos convivendo bem.

― Sim. Ela foi... Quer dizer, eu fui com ela e voltei para buscá-la depois, pois não tenho paciência de esperar no salão.

― Eu sei. Tudo bem. Vá logo buscar sua esposa, aquela sortuda.

Eu finjo que não escuto e saio. Olho pelo retrovisor e a vejo olhando a traseira do carro.

Será que tem uma perna ou braço pendurado para o lado de fora?

Mar de rosas e de espinhosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora