Capítulo 2 - Marcelo

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Eu estou preocupado com Isabel. Parece que a cada dia que passa ela fica pior em relação ao luto. Eu sei que ela está sofrendo muito, mas às vezes eu acho que ela não quer sair do luto, parece que ela está gostando desse sofrimento porque tem atraído a atenção das pessoas, mas esse é um caminho complicado. Já tentei falar sobre isso, mas ela não aceita, disse que eu não sei o que é perder alguém. Disse que tudo o que mais quer é superar a perda do pai, mas sinceramente eu não estou vendo muito esforço.

Às vezes me sinto impotente diante da situação, mas fico ao lado dela. Sempre. Ela mudou muito depois da morte do pai. Nosso relacionamento esfriou, quase não fazemos sexo mais. Ela está sempre indisposta, e quando transamos parece que ela está em outra dimensão, não por sentir muito prazer, mas por estar alheia ao que acontece ao seu redor.

Hoje acordei cedo, preparei o café e fiquei esperando Isabel acordar. Liguei a TV e fiquei assistindo um documentário sobre a Índia. Mas se me perguntar qualquer coisa sobre o documentário eu não saberei responder. Às vezes isso acontece comigo quando estou muito tenso ou preocupado.

― Bom dia!

Eu me viro e lá está ela vestida para sua caminhada matinal. Ela tem esse hábito saudável e eu a admiro por isso. De vez em quando eu vou junto, mas sou meio preguiçoso para caminhadas. Ela é persistente. Nem nos dias mais tristes deixou de seguir essa rotina.

― Está um lindo dia hoje, meu amor! – digo me levantando e indo em direção a ela. Dou-lhe um beijo nos lábios e a conduzo até a mesa do café.

― Prefiro caminhar primeiro. Vou comer apenas uma banana antes. Pode ser?

Eu pego a banana, descasco e a entrego. Ela dá uma mordida, sorri pra mim, mas não diz nada e sai. Eu fico olhando seu bumbum se requebrando dentro daquela calça justa e fico excitado. Eu penso em gritar pra ela voltar, mas desisto. Sei que não voltaria para fazer amor comigo naquela hora. Aliás...

Volto para a frente da TV de novo e fico de canal em canal procurando não sei o que. E a excitação não para. Minha cabeça começa imaginar mil coisas, me traz boas memórias de nós dois fazendo sexo. Sinto meu corpo quente. Tenho vontade de ir para o banheiro, mas não sou mais um adolescente. Corro para o quarto, visto um calção de náilon, calço tênis e saio para caminhar.

Quando abro o portão me deparo com Amanda estacionando seu carro diante da minha garagem. Eu fico parado por um momento. Ela está me olhando de um jeito estranho. Eu passo a mão no meu calção para ver se tem algo errado, mas está tudo tranquilo, então me aproximo dela e digo:

― Oi.

Ela abre a porta do carro e desce devagar. Não pude deixar de reparar nas pernas dela. Tão lindas e bem torneadas...

― Que saudade Marcelo! – ela diz e me beija suavemente no rosto.

Eu a abraço impetuoso e percebo que ela fica um pouco desconcertada, mas não faz o menor esforço para se soltar. Ou talvez seja eu que a apertei demais. Neste momento outro filme me vem à cabeça. Lembro-me de quando a conheci. Estava linda. Usava um vestido rosa tomara que caia, cabelos soltos... Eu fiquei encantado e me aproximei dela. Ela retribuiu o olhar e depois de poucos minutos de conversa estávamos nos beijando afoitos.

― A Isabel saiu para caminhar – digo desfazendo o abraço. – Vamos entrar. Por que João Victor não veio?

― Está viajando com o pai dele para o Mato Grosso. Acho que o velho está querendo vender uma das fazendas que tem lá. João Victor disse que iria sozinho, mas você acha que meu sogro aceita isso? Não confia em ninguém, acha que só ele sabe negociar. Sabe como é esse tipo de gente.

Mar de rosas e de espinhosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora