Capítulo 17 - Marcelo

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Ontem eu pensei que ficaria bem com Isabel. Pensei que finalmente nos reconciliaríamos. Tentei de todas as formas. Ela parece irredutível e está tendo um comportamento muito estranho.

Quando eu sai do banho (o meu segundo banho, por sinal) ela não estava no quarto. Eu a procurei pela casa e a encontrei na varanda lendo um livro. Ao me aproximar ela apenas sinalizou com a mão pedindo para eu me afastar. Tratou-me com tanto desprezo como se eu fosse um desconhecido. Eu não estava a fim de discussão. Não queria piorar as coisas ainda mais.

Então eu sai e fui para a sala ver TV. Fiquei horas ali e nada de Isabel entrar. Por fim, voltei até a varanda e ela não estava mais lá. Fiquei preocupado. Os carros estavam na garagem. Caminhei em direção ao portão e percebi que ele estava aberto. Fui até lá e olhei a rua.

Sai em direção a praça.

Já era tarde e o condomínio estava tomado pelo silêncio. Eu ouvia somente o som dos meus passos sobre o asfalto.

Aproximei do lago, mas não a encontrei por ali.

Fiquei um pouco e depois retornei. Tranquei o portão e entrei em casa.

Fui direto para o quarto.

Isabel dormia serenamente em nossa cama.

Fiquei aliviado.

Deitei ao seu lado e a abracei calorosamente, mas ela nem se mexeu.

Foi uma noite longa. Demorei a pegar no sono, mas o simples fato de dormir agarradinho nela já me reconfortou.

Não sei o que será de nós dois. Tudo o que quero é fazer as pazes. Cansei de esperar uma iniciativa dela. Agora sei que isso não vai acontecer e eu não quero mais perder meu tempo. Assim que ela acordar eu vou dar o primeiro passo como sempre faço. Não importa se é humilhante ou não. Eu sou assim, eu a amo e a quero feliz ao meu lado. Sei que ela tem certas limitações. Não adianta forçar, tenho que entender isso, mas seria tão bom se ela me procurasse.

Acho que ela é assim por causa de tudo o que passou. Deve ter muitos traumas escondidos em seu íntimo que nem ela mesma conhece. Posso entender como se sente. Posso imaginar como está sua cabeça. Sou um imbecil mesmo. Não deveria ter ido tão longe com tudo isso. A pobrezinha está sofrendo muito. Que tipo de homem eu sou? Eu prometi cuidar dela até o resto de nossas vidas, e agora que ela mais precisa de mim eu virei as costas pra ela.

Eu preparo um café da manhã especial, com frutas frescas, suco natural, bolo, pão, queijo... e fico esperando Isabel aparecer.

Quero surpreendê-la. Sei que isso agrada a toda mulher. Até poderia levar o café na cama, mas ela não gosta. Acha desconfortável. Então fico aguardando ansioso como um adolescente no seu primeiro encontro.

Pego o meu celular e começo a navegar nas redes sociais. Vejo um convite de amizade de Laura no Facebook. Confirmo e continuo navegando.

Vejo algumas postagens idiotas e depois saio do aplicativo. Levanto e olho pela janela. O sol está quente, mas vejo uma nuvem escura perto do Ibituruna.

Ouço passos na escada. Volto-me para a mesa e fico esperando. O coração parece que vai sair pela boca.

Isabel surge à minha frente. Está tão maravilhosamente linda com o cabelo caído na testa. Ela veste uma camiseta de malha rosa sem manga e uma bermuda preta de moletom. Está de tênis, já preparada para sua caminhada.

― Bom dia! ― digo tentando expressar naturalidade. Ela me olha inexpressiva. ― Preparei este café para tomarmos juntos antes da sua caminhada.

Mar de rosas e de espinhosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora