Capítulo 11 - Isabel

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Eu coloco o celular na bancada e vou para meu atelier. Fico concentrada no retrato do pai de Laura. Estou inspirada e vejo que meu trabalho está fluindo bem.

Desde nova eu demonstrei talento para pintura. Minha avó materna, ou seja, a mãe de Júlia sempre me incentivou. Ela também pintava muito bem. Aprendi muito com ela. Depois fiz alguns cursos para aprimorar meu talento e então hoje posso dizer que realmente sou uma artista, porém, raramente aceito encomendas. Gosto de pintar por prazer, não por dinheiro. Já até fiz algumas exposições, mas não gosto muito dos holofotes.

Por um momento me vem uma lembrança da minha infância. Eu paro e fico absorta naquela lembrança.

Amanda veio correndo com um coelho na mão. Eu peço para ela colocá-lo no chão, e imediatamente ela obedece. Então corremos atrás dele. Nós duas sorríamos muito. O coelho passou por debaixo de uma cerca de arame farpado. Alguns pelos dele ficaram agarrados no arame. Eu me abaixei para passar e Amanda me empurrou rapidamente. Meu vestido se agarrou no arame e acabou rasgando. Amanda atravessou logo atrás e continuamos a correr atrás do coelho. Ele estava cansado e se escondeu atrás de uma moita de capim. Eu peguei uma pedra e joguei para assustá-lo, mas a pedra caiu na cabeça dele e o matou.

Amanda começou a chorar. Eu disse pra ela calar a boca. Mamãe iria bater em mim se descobrisse. Então combinamos que se ela descobrisse, falaríamos que era Amanda, pois nela minha mãe não ira bater.

Ao voltarmos pra casa meu pai veio me encontrar na escada e me abraçou. Ele me cobriu de beijos e alisou meus cabelos.

Amanda passou correndo por nós e foi se encontrar com minha mãe.

Quando cheguei na cozinha eu a ouvi contando que eu tinha matado o coelho. "Não diz que eu contei", ela disse.

Logo que o meu pai saiu para o campo, minha mãe me deu uma surra e me colocou de castigo no quarto. Meu bumbum ficou doendo muitos dias.

Mas quando meu castigo acabou eu encurralei Amanda em um canto e mandei ela colocar a língua pra fora. Eu segurei a língua dela com força e disse que iria corta com as unhas, mas não consegui. Falei que se ela fofocasse de novo eu pegaria uma faca e cortaria a língua dela.

Ouço Roberta me chamando e volto ao presente.

Ela está com uma bandeja nas mãos. Coloca sobre uma mesinha encostada na parede e diz que é meu lanche da tarde.

Eu limpo minhas mãos no avental e sento num banquinho próximo à mesinha. Peço para ela me servir um pouco de suco. Ela trouxe de limão.

― Fiz o bolo de laranja que você gosta. Está uma delícia. Come um pedaço.

Eu aceito.

― Senta aí, Roberta. Toma um pouco de suco comigo também.

Ela hesita um pouco.

― Estou mandando ― digo isso porque só assim ela toma café comigo.

Roberta é uma mulher muito prendada e discreta. Ela deve ter uns quarenta e poucos anos e vive com o pai. Casou-se muito jovem e depois o marido foi para os Estados Unidos tentar uma vida melhor para os dois. Nos primeiros anos mandava dinheiro para ela, alimentando o sonho da casa própria, mas com o tempo o sonho foi se acabando e ele parou de mandar dinheiro e de ligar para ela, até que um dia ligou para falar o que ela já esperava. Disse que ela poderia seguir adiante com a vida dela que ele não voltaria mais para o Brasil. Ele já estava com outra mulher.

Mar de rosas e de espinhosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora