Capítulo 7

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Os irmãos Havenblade saíram da casa de Dianna ao alvorecer. Não tinham para onde ir. Não tinham o que comer também. Tudo o que tinham eram seus poucos pertences e algumas moedas de prata e uma de ouro. Eles cruzaram os subúrbios de Greenhills em direção à rua principal, todos quietos, cautelosos. Eles pararam em frente ao mercado principal, Clarke olhou para a grande construção, depois para Keeran e falou:

- Para onde vamos?

- Não sei. – Respondeu Keeran. – Fiquem exatamente aqui. Eu volto logo.

- Aonde vai? – Perguntou Cerridwen.

- Vou ver algumas coisas.

Keeran entrou dentro do mercado principal. Clarke e Cerridwen ficaram esperando do lado de fora, um pouco tensas por não ter o irmão as protegendo.

Keeran entrou no mercado para procurar emprego. No dia anterior ele saíra da casa de Dianna para o mesmo motivo. Tudo o que encontrava era que não precisavam de mais empregados, ou que não tinham interesse em contratar. Ele ficou completamente decepcionado ao sair do mercado principal. Não sabia como encarar as irmãs e dizer que não tinham para onde ir ou o que comer. Clarke e Cerridwen estavam exatamente no mesmo lugar quando Keeran se aproximou.

- Estou com fome. Aonde vamos comer? – resmungou Cerridwen.

Keeran e Clarke não responderam. Não tinham a menor ideia de como responder a irmãzinha. Já eram quase duas horas da tarde e não tinham o que almoçar. Keeran cutucou Clarke e os irmãos começaram a andar.

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Eles não tinham um rumo, então apenas andavam pelas ruas, como os outros órfãos e mendigos da região. Os irmãos se dirigiam aos cortiços passando pelas ruas de pedra e observando as pequenas casas de madeira e algumas de pedra. As casas abandonadas e em ruínas eram mais frequentes conforme eles adentravam a zona pobre da cidade. Keeran parou em frente à uma casa de pedra aparentemente abandonada. O irmão mais velho abriu cuidadosamente a porta da casa e averiguou dentro. Não tinham móveis, ou armários, estantes. As únicas coisas que havia dentro da pequena casa eram uma lareira e dois colchões que milagrosamente estavam em boas condições de uso em cima de uma cama de pedra.

A casa estava completamente empoeirada. Com sorte, nos fundos também haviam vassouras nos quais eles começaram a limpar imediatamente.

- Precisamos comer Keeran. Não temos nada. Nem dinheiro. – disse Clarke.

- Temos algum dinheiro que peguei no escritório do nosso pai. Não vamos usar agora. Apenas para emergência. – respondeu Keeran.

- Então como vamos comer? Alguma ideia melhor?

- Sim. Vamos pegar. – sorriu Keeran.

- Isso é roubo! Podemos ser presos. – retrucou Clarke.

- Não é roubo. É sobrevivência. Se não pegarmos, vamos morrer de fome. Não consegui nenhum trabalho por aqui, e aqueles comerciantes não precisam realmente de toda aquela comida que têm. Venha comigo. Vou precisar de uma distração.

- Ok. Então foi realmente bom aquele banho que tomamos na casa da Dianna. Precisamos de roupas novas. Começaremos por elas. Porém desaprovo a atitude. Assim que tivermos alternativas melhores, a faremos. – respondeu Clarke.

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Keeran e Clarke foram aos mercados com a intenção de roubar. Após o primeiro trabalho milagrosamente bem-sucedido na loja de roupas eles buscavam suprimentos e comida. Na padaria Clarke fingiu se passar por filha de um lorde de uma cidade próxima e começou a conversar com o padeiro sobre a estrada e a cidade, enquanto Keeran colocava sorrateiramente alguns pães e um pedaço de queijo na sacola. Depois ele saiu da loja sem ser notado

- Aquele rapaz se parecia muito com você. São irmãos? – perguntou o padeiro.

- Nunca o vi na minha vida. – respondeu Clarke. – Ela olhou para trás e disse – Desculpe senhor Jokkin, tenho que ir. Vou pedir aos meus criados comprarem seus pães. – Sorriu Clarke.

- Adeus jovem dama. É uma honra vender pães para a senhorita. – Despediu o padeiro.

Clarke saiu e andou dois quarteirões onde encontrou Keeran encostado em um poste a esperando.

- Dois roubos surpreendentemente bem-sucedidos hoje. Para um começo, estamos bem. – disse Keeran.

- É muito arriscado. Ele quase te viu, tive que me virar. – respondeu Clarke. – Vamos deixar isso em casa, se formos pegos vamos perder tudo.

- Certo. Vamos comer. Depois iremos ao mercado comprar suprimentos.

Keeran começou a andar. Ao chegar na casa nos cortiços ele abriu a porta e encontrou Cerridwen lendo alguns livros que Keeran pegou do escritório do pai. Ela ficou extremamente feliz ao saber que os irmãos tinham voltado com comida e roupas novas para ela. Clarke já havia colocado as roupas novas para enganar o padeiro. Mas as antigas também estavam em bom estado.

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Após furtos malsucedidos nos bairros mais ricos de Greenhills eles tentaram o Mercado Principal de Greenhills. Já era fim de tarde e a maioria das pessoas saíam dos comércios. Com sorte o movimento estava alto. Talvez conseguiriam sair sem serem pegos.

A maioria dos comerciantes estavam fechando as lojas, por isso eles não conseguiram furtar nada além de um pouco de carne assada, mangas e algumas ervas medicinais. Na volta à casa eles passaram próximos à muralha da cidade e ouviram alguns cidadãos conversando sobre os animais da floresta.

Perto dos cortiços Clarke disse:

- Podemos caçar!

- Não temos equipamento nem habilidade para isso. – respondeu Keeran.

- Podemos aprender. Vamos tentar. Aquele dinheiro que temos... podemos comprar armas com ele. Podemos roubar enquanto não aprendemos a caçar e temos Dianna... – retrucou Clarke.

- Certo... também é muito arriscado, porém melhor que roubar. Vamos comprar as coisas amanhã. – disse Keeran.

Os jovens ladrões, órfãos e irmãos caminharam de volta para casa. Pois no outro dia, iriam caçar.

FelipeTheWriter & Midoky

Tenham uma ótima experiência de leitura. Obrigado por lerem.

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