Capítulo 4

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A menos de um dia de caminhada de Greenhills os irmãos Havenblade caminhavam ofegantemente pela densa floresta de grandes carvalhos centenários. Após o grande urso desistir de tentar caçá-los eles finalmente desceram das árvores e começaram a caminhar.

Clarke não estava se sentindo bem. Desde que acordou ela se sentia zonza e confusa, sentia uma dormência no braço esquerdo. A náusea a perturbava, ela decidiu não contar ao irmão, pois não queria atrapalhar a viajem e ela acreditava serem apenas sintomas do cansaço.

Keeran andava. As pernas doíam e latejavam devido ao cansaço e das várias horas correndo com Cerridwen aos braços na noite anterior. A pequenina, com a maioria dos ferimentos cicatrizados caminhava sem reclamar. Uma benção. Keeran olhou a posição do Sol e sorriu para as irmãs.

- Chegaremos ao anoitecer se continuarmos caminhando, mas, aqui por perto tem um caçador que era amigo do nosso pai, nossa comida está acabando, talvez ele até nos dê estadia. – Keeran falou para as irmãs.

- Acho que não é uma boa ideia Keeran. Teríamos que responder a perguntas demais. Pode ser perigoso também. – Respondeu Clarke.

- Estamos realmente cansados, pode ser muito mais difícil chegar até Greenhills assim, principalmente sem comida e Cerridwen precisa se alimentar, mais que nós.

- Não sei Keeran... pode dar errado.

- Também pode dar certo. Precisaremos nos arriscar em algum momento. Irmos até a cabana pode facilitar as coisas. – Keeran suspirou – Estou muito cansado.

Clarke não respondeu nada. A cabeça girava, a visão estava começando a ficar turva. Ela apenas assentiu para o irmão e eles voltaram a caminhar.

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Keeran bateu na porta da pequena cabana do caçador e esperou. Não houve respostas.

- Alguém em casa? – Perguntou Keeran.

Ele empurrou a porta. A cabana estava arrumada, um assento ficava no meio da sala, junto à uma pequena estante de livros e, ao canto, uma cama. Havia uma mesa com pêssegos maduros e ao lado da fornalha, carne de javali assado.

Ele olhou uma vez para Clarke e, sem dizer nada, começou a colocar os pêssegos e a carne assada na mochila. Eles saíram o mais rápido possível e correram de volta para a floresta densa.

Os irmãos terminaram a refeição e voltaram a caminhar. Cerridwen pegou duas flores azuis no caminho e colocou uma na cabeça.

- Mamãe gostava dessas flores azuis, ela gostava de coloca-las na minha cabeça quando saíamos. – disse Cerridwen

Os olhos de Clarke se encheram de lágrimas com a lembrança da mãe. Ela e Keeran deram sorrisos tristes para a irmã. Cerridwen caminhou até a irmã e lhe colocou a outra flor na cabeça da irmã.

- Ficou linda em você Clarke. – disse Cerridwen sorrindo para a irmã.

- Obrigada Cer.- Clarke sorriu de volta, os olhos cheios d'água.

Os irmãos voltaram a caminhar após a refeição, Keeran estava se sentindo culpado pelo furto ao caçador, Clarke tentou consolá-lo, colocou a mão no ombro do irmão.

- Sei que não foi certo, mas... precisávamos... para sobreviver, era a única chance que tínhamos. Pela sobrevivência.

O irmão mais velho não disse nada, apenas continuou caminhando.

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Ao final da tarde os irmãos Havenblade saíram da grande floresta e avistaram os grandes portões de Greenhills. Algumas carruagens e pessoas ainda entravam. Keeran observou o movimento por alguns minutos e olhou apreensivo para Clarke.

- Você está com uma aparência horrível. – Keeran avaliou. – Vamos entrar atrás daquela carroça com melancias, talvez nem sejamos notados.

Clarke apenas assentiu, cansada demais para falar, a cabeça latejava e o enjoo se tornou mais presente nas últimas horas. Keeran a olhou novamente e disse:

- Procuraremos ajuda para você. Assim que entrarmos, talvez não seja nada grave...

O irmão mais velho ajudou Clarke a se levantar e ofereceu o ombro como apoio para a irmã. Eles seguiram por trás da carroça, passaram pelos portões e finalmente chegaram à Greenhills.

Assim que os passaram, Clarke desabou. Keeran correu para ajudá-la a se levantar, mas ela já estava desacordada.

- Clarke! Clarke acorde! Fale comigo! – Keeran gritou.

Ele não teve resposta. Cerridwen começou a gritar e a chorar por ajuda, eles eram ignorados. Até que uma mulher de meia idade se aproximou.

- O que está acontecendo? – Indagou a mulher.

- Ela... desmaiou. – Respondeu Keeran.

- Ajude ela p-por f-favor. – Implorou Cerridwen.

A mulher olhou para Clarke, pálida, olhou para Cerridwen, depois para Keeran e falou:

- Markus, ajude a carregar esta garota até nossa casa. Ela precisa de ajuda.

Markus, o marido da mulher se aproximou e pegou Clarke nos braços. Ele a carregou até uma casa pequena, ao lado de um templo dos deuses.

- Qual seu nome moça? – perguntou Cerridwen.

- Dianna. E o de vocês? – perguntou de volta a mulher.

- Eu sou a Cerridwen, ele é Keeran e aquela é minha irmã Clarke. – Cerridwen olhou para Clarke, depois para Dianna e perguntou enquanto a mulher examinava o braço da irmã. – O que aconteceu com ela? Ela vai ficar bem?

- Provavelmente ela foi envenenada por algum animal ou planta. Talvez uma cobra ou algum inseto da floresta. – Ela gesticulou com a mão para Markus – Acho que foi uma picada Nitffela, uma aranha vermelha como rubi que costuma ficar em árvores. Ao invés de fazerem teias, elas espalham um líquido grudento que prende as formigas. Com sorte temos o antídoto. É muito comum este tipo de envenenamento.

Dianna limpou o ferimento em Clarke. Markus foi até a dispensa pegar o antídoto. A mulher olhou os irmãos com curiosidade.

- Vocês não são daqui. O que aconteceu?

Keeran não disse nada. Apenas observou a sala com os olhos vazios. Cerridwen começou a chorar baixinho. Dianna ficou em silêncio por alguns minutos. Foi ela mesma quem quebrou o silêncio.

- Nos fundos tem uma banheira. Vocês podem tomar banho lá. Estão precisando. Vou fazer ensopado. Vocês podem passar a noite aqui.

- E Clarke? Ela vai ficar bem? – Perguntou Keeran.

- Vai sim. O antídoto está fazendo efeito. Ela vai melhorar em algumas horas. – Avaliou Dianna

- Por que... estão nos ajudando tanto? – Perguntou Cerridwen.

Keeran beliscou Cerridwen pela pergunta mal-educada, mas Dianna passou as mãos pelos cabelos castanhos de Cerridwen e respondeu.

- Porque já estive na situação de vocês. Não tinha família e precisava de ajuda com minha irmã mais nova... – Os olhos de Dianna ficaram sombrios e tristes, como se estivesse lembrando da cena. – Todos ignoraram minhas súplicas por ajuda.

Espero que gostem. Obrigado por lerem. FelipeTheWriter & Midoky.

A Cidade da EscuridãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora