Capítulo 1

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Keeran e Clarke os irmãos gêmeos, filhos de Juan e Yohanna Havenblade voltavam para casa após saírem para brincar com os amigos no grande Lago de Ouro. Cerridwen, a irmã mais nova, havia ficado em casa, pois era muito jovem para ir nadar no lago.

    No caminho de volta para casa os irmãos caminhavam calmamente pelas ruas da cidade, uma leve brisa primaveril fez as folhas verdes das árvores balançarem à sua volta. Eles estavam cansados de um longo e divertido dia. Clarke sempre gostou de dias divertidos como este fora, não se importava muito com bens materiais, o que mais a alegrava era a presença das pessoas que amava. Ela adorava ler, pintar, nadar no lago e conversar com os amigos. Keeran sempre foi alegre, ele e Clarke eram amigos inseparáveis desde o nascimento, porém Keeran estava silencioso naquela volta para a casa.
Talvez ele estivesse contemplando a bela paisagem do bosque na primavera.
- É um belo lugar, há 14 anos vivendo aqui e eu não me acostumo com a beleza exuberante daqui.- disse Clarke para tentar quebrar um pouco do silêncio.

- Sim, mas hoje está diferente, silencioso demais. - Keeran respondeu tenso.

    De fato, estava realmente silencioso, não haviam criados dos pais dos gêmeos do lado de fora, colhendo frutos da primavera. Clarke sentiu então que algo não estava certo, mas para acalmar o irmão apenas disse:

- Eles devem ter entrado para alguma reunião de nosso pai com os criados.

- Parece que algo está errado, que tem alguma coisa fora do lugar, tudo está silencioso demais e isso está me deixando em pânico! - Keeran falou com os olhos assustados.

    Eles caminharam mais rapidamente. A respiração de ambos estava descontrolada, o coração acelerado até que chegaram à porta da grande casa. As janelas estavam destruídas, a porta de madeira estava aos pedaços e com estranhos arranhões. Eles se entreolharam por um longo minuto e perceberam que estavam completamente trêmulos quando empurraram os restos da porta e entraram. Os móveis estavam em sua maioria, destruídos e jogados por todo o lado. Havia ocorrido uma grande briga ali. Eles estavam paralisados, olharam todo o cenário aterrorizante à sua volta, a casa estava escura ao anoitecer, havia sangue por toda a parte, nos corredores até o escritório do pai, onde havia sangue escorrendo para fora... eles caminharam lentamente para o escritório de Juan Havenblade e empurraram a porta. Os irmãos congelaram ao ver o corpo do pai, semidevorado e pela metade jogado vulgarmente no chão. Clarke gritou

    Keeran não acreditava no que estava vendo, sabia que era um sonho, tinha de ser um sonho. Logo acordaria com as risadas de Cerridwen e com a mãe o chamando para tomar café da manhã, ele sorriria para a irmã então brincariam com Cerridwen no bosque. Mas não estava. A irmã gêmea gritou e o instinto o fez abraçar e pedir calma à irmã que agora chorava.

- Temos que procurar se tem alguém vivo por aqui. - falou levando a irmã para fora do escritório.

    Eles seguiam para o quarto da mãe lentamente, hesitando a cada passo com medo do que sabiam que era inevitável encontrar. Os irmãos Keeran e Clarke arquejaram e gritaram quando encontraram a mãe brutalmente assassinada aos pés de sua cama. Yohanna Havenblade estava aos pés de sua cama com o pescoço virado e contorcido em várias posições diferentes, os braços estavam distantes do corpo e as pernas estavam completamente dilaceradas. Clarke vomitou. Keeran caminhou até o corpo da mãe e abraçou os restos mortais tão brutalmente assassinados, olhou para a irmã e chorou. Ficaram cinco minutos simplesmente olhando um para o outro e chorando.

- P-precisamos saber se Cerridwen o-ou mais alguém está vivo. - Gaguejou Clarke.

    Keeran se levantou e caminhou até a porta, Clarke apenas o seguiu para o corredor já escuro. Os irmãos seguiram para a cozinha, trêmulos, andando lentamente pelo corredor repleto de quadros, antes lindos e agora destruídos, obras de arte perdidas. Antes de chegar na cozinha eles entraram no depósito escuro e destruído. Keeran acendeu uma vela e eles caminharam até a parede onde estava escrito com sangue: "não olhe para trás", eles olharam imediatamente para trás e gritaram de susto quando viram o corpo enforcado do melhor amigo e negociante de seu pai, as pernas estavam devoradas e a boca estava aberta, como se tivesse gritado enquanto o enforcavam e arrancavam suas pernas. Na cozinha, a cena foi torturante. Haviam corpos por todo lugar, todos os criados brutalmente assassinados, o pânico ainda estava em seus rostos destruídos, como o resto do corpo. Os gêmeos vomitaram. Correram do quarto da cozinha até o quarto da irmã onde sabiam que o que veriam os quebrariam em várias partes.

    Ao chegar no quarto de Cerridwen a porta estava aberta, a cama completamente destruída assim como os armários, mas o corpo da irmã mais nova não estava em lugar algum, a janela era um monte de cacos de vidro e madeira retorcida. Keeran e Clarke olharam para baixo, para um pequeno arbusto de rosas e outras flores, onde uma parte das flores estava amassada, como se alguém tivesse caído lá embaixo.   
            Eles não pensaram em outra coisa a não ser correr até o arbusto florido.

    O cheiro das rosas vermelhas os saudaram assim que chegaram ao arbusto. Keeran não hesitou, entrou dentro do arbusto repleto de espinhos. Ele voltou dois minutos depois carregando cuidadosamente o corpo pequeno de Cerridwen, completamente ensanguentado, mas ela estava respirando, apenas inconsciente. Clarke suspirou de alívio ao saber que a irmã mais nova estava viva. Keeran a pediu para ir até o jardim e pegar ervas medicinais para dar à Cerridwen. No caminho ela pegou algumas faixas de tecido em seu guarda roupa, fazendo um esforço tremendo para não vomitar com o cheiro de pessoas mortas que agora cobria a casa.

    Após enfaixar o pequeno braço de Cerridwen, Clarke olhou para Keeran e suspirou. Os olhos do irmão eram pura tristeza, havia dor e luto em seus olhos. Eles amavam muito os pais gentis e amorosos e agora eles se foram...
Clarke soluçou e voltou a chorar.

- Calma.- pediu Keeran.

- Não há maneira de eu ficar calma, nossos pais morreram, perdemos nossa casa, nossa família, nossas coisas! Não existe maneira de eu me acalmar! Não temos para onde ir, não temos família, não temos mais nada!

    Cerridwen acordou gritando. Ela estava completamente dolorida e ensanguentada. Ainda ouvia os gritos que a fizeram acordar assustada. Ainda ouvia passos fortes e barulhos ensurdecedores de coisas sendo destruídas. Ela levantou a janela e se jogou quando escutou passos subindo as escadas, chegando cada vez mais perto. Ainda sentia a dor de quando caiu no arbusto, os espinhos perfurando e rasgando a pele, sentia também uma forte dor no braço e na cabeça quando caiu e apagou.

- Cer, está tudo bem com você? Fale comigo! - diziam Keeran e Clarke a segurando firme.

- Não falem alto... eles podem voltar... - Cerridwen conseguiu dizer aterrorizada.

- Eles quem? - indagou Clarke.

Cerridwen chorou, abraçando os irmãos, trêmula, em choque.

- Não sei, me joguei antes que pudesse ver. - Cerridwen dizia hesitantemente e completamente trêmula.

- Temos que ir embora. Agora. - Keeran disse triste.- Nossos pais tinham muitos inimigos, pode ter sido algum deles, talvez todos, não sei. Nosso pai me levou uma vez para uma cidade próxima daqui, chamada Greenhills. Podemos tentar uma vida lá. Temos que ir.

    Clarke concordou com a cabeça, ajudou Cerridwen a se levantar, Keeran foi até a cozinha ensanguentada e pegou alguns alimentos, foi ao escritório do pai e pegou alguns poucos pequenos sacos de ouro que lá continham. Ele assentiu para Clarke, e os três caminharam naquele crepúsculo. Para Greenhills.

FelipeTheWriter e Midoky.

A Cidade da EscuridãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora