Capítulo 3

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Começava a escurecer e a floresta já estava encoberta de sombras. Os poucos raios de sol que passavam entre as copas das árvores faziam com que as sombras parecessem mais vivas. O medo de que as criaturas que atacaram seus pais saíssem das sombras era tanto que Cerridwen começou a chorar.

Eles corriam, pois, a noite na floresta era perigosa e precisavam evitar a trilha até Greenhills, eles não queriam falar sobre o que aconteceu. Não sabiam . Mas de uma coisa tinham certeza, o que fez aquilo não era humano e muito menos animal.

- Cer, pare de chorar, se algum animal nos encontrar a culpa será sua! – disse Keeran já irritado.

- Keeran! – a irritação no tom de voz de Clarke assustou os dois – Você está assustando ela! – Clarke abraçou Cerridwen para tentar acalmá-la

- Eu prefiro assustar ela do que morrer para os lobos ou as coisas asquerosas que mataram nossos pais. – Keeran não suportava mais escutar o choro da pequena irmãzinha. Cerridwen havia engolido o choro e agora olhava para o irmão.

- Eu quero a mamãe e o papai – sussurrou Cerridwen – Quero ir para casa. Quero ver a mamãe e o papai. Quero saber como eles estão – Cerridwen voltou a chorar e parou de correr. – Estou cansada e com fome.

Keeran e Clarke quando percebem param de correr e olham para Cerridwen. Ele caminha lentamente até a pequenina e coloca a mão o ombro dela.

- A mamãe e o papai – o coração de Keeran entrou em descompasso. Ele não queria falar o que aconteceu e muito menos o que viu, mas precisava falar – Eles se foram e não vão voltar. Agora precisamos ser fortes, eles iriam querer que fôssemos fortes, vamos correr para tentar uma vida em Greenhills. Eles iriam gostar se tentássemos.

Ele pegou Cerridwen nos braços e olhou para Clarke. Como um comando silencioso os dois voltam a correr.

...

Com o peso a mais nos braços Keeran se cansava mais rápido e ainda faltava muito para chegar onde queria. Keeran calculara que ainda faltavam 2 quilômetros até a nascente na base da montanha e ele já estava exausto por estar carregando Cerridwen. A noite caia e eles ficavam mais tensos. Escutavam os uivos dos lobos e no ultimo quilômetro que percorreram escutaram galhos quebrando e arbustos farfalhando.

Clarke orava em silêncio e pedia mais força para seu irmão, proteção contra os animais que habitavam a floresta. A pobre Cerridwen tinha adormecido e sempre que Clarke se oferecia para leva-la Keeran dizia não. Eles permaneceram calados desde a última conversa, as únicas coisas que escutavam agora era o som da própria respiração e o vento que uivava junto com os lobos.

A floresta estava escura e fria e eles precisavam parar para comer e beber, mas sempre que Clarke criava coragem para falar alguma coisa Keeran balançava a cabeça em resposta.

...

Keeran estava cansado e mal conseguia ficar de pé, mas o irmão mais velho continuava andando. Clarke sabia que ele não pararia até chegar onde queria. E a sorte era que agora faltava pouco, mas a escuridão fazia eles andarem lentamente.

A escuridão fazia tudo ficar igual e Clarke já achava que estavam perdidos, as copas das árvores não deixavam a iluminação passar. Mesmo nas noites mais claras a floresta era um breu.

Era uma bela noite de lua cheia, sem nuvens, as estrelas brilhavam no céu Clarke olhou para uma clareira onde havia uma nascente. Ela passou o braço em volta do corpo de Keeran e o ajudou a andar até a clareira. Ele se sentou perto de uma árvore centenária. Clarke foi correndo até a nascente bebeu dela e depois encheu o cantil de água e o entregou para Keeran que estava exausto, ofegante. Ao fundo, o uivar dos lobos era uma canção terrível e assustadora.

Cuidadosamente ela tira Cerridwen de seus braços e a aconchega nos seus. A pequenina dormia pesado.

- Keeran – sussurrou Clarke – Você acha que vamos conseguir chegar em Greenhills?

Ele a olha com dor e sutileza tentando ter o tom mais encorajador possível.

- Nós vamos conseguir – Keeran disse sorrindo – Vamos fazer uma pequena pausa para comer e descansar. Não acho que seja seguro fazer uma fogueira, nem pedir abrigo aos viajantes. – Ele olha para o outro lado da nascente completamente exausto. – Não sabemos quem ou o que atacou nossa casa, teremos que responder à perguntas demais. – Ele volta o olhar para Clarke e sorri – Amanhã será um novo dia. Acredito eu que estamos a um dia de Greenhills, com sorte chegaremos ao anoitecer.

...

Cerridwen estava correndo, havia se perdido dos irmãos a uma hora atrás, eles a abandonaram, agora ela estava sozinha e corria. Sabia que estava sendo perseguida por algo, não ousara olhar para trás, não queria ver quem era seu perseguidor. Ela tropeçou nos gravetos e arbustos, ela já conseguia sentir o hálito pútrido da coisa atrás dela. Ela se virou e não viu nada além de uma grande sombra com olhos flamejantes que abriu a boca para atacar...

A irmã mais nova acordou de seu pesadelo com um grito que fez Keeran e Clarke acordarem com um salto. Keeran correu até a irmã mais nova que chorava ofegante.

- Ele estava atrás de mim, v-vocês tinham ido embora s-sem mim – Clarke se aproximou para consolar a irmãzinha. – Tinha olhos vermelhos, está nos perseguindo.

- Foi só um sonho Cer, vai ficar tudo bem. – Reconfortou Keeran – Precisamos ir agora.

- Mas nós mal descansamos, precisamos ficar aqui por mais tempo! – Interrompeu Clarke.

- Todos os predadores e bestas da floresta ouviram o grito da Cerridwen, seremos o jantar dos lobos se ficarmos aqui. – Keeran murmurou para Clarke.

Os três pegaram os pertences e correram de novo, estavam a duas horas do alvorecer. Keeran disse a Clarke que quando amanhecesse eles iriam fazer uma pausa para descansar e, talvez comer.

Assim, os irmãos Havenblade corriam, tropeçando nos galhos de árvores e pedras no escuro da floresta densa. Eles escutaram um rugido próximo que fez toda a floresta ficar em silêncio. Clarke parou e empalideceu.

- O que foi isso?

- Provavelmente um urso ou algo do tipo.

O urso os viu dois minutos depois, eles voltaram a correr o mais intensamente possível, mas não era suficiente, ele era muito mais rápido e se aproximava cada vez mais...

- Vamos subir em uma árvore! Ele não vai conseguir escalar! – Keeran gritou desesperado.

Keeran escalou a árvore e deu a mão à Cerridwen. Ela pegou a mão do irmão e se apoiou no galho. Ele subiu cada vez mais acima da árvore e a cada vez ele dava a mão para a irmã. Clarke estava no topo da árvore mais próxima quando Keeran e Cerridwen alcançaram o topo.

- Vamos descansar aqui e esperar ele ir embora. – Aconselhou Clarke.

- Vamos. Quando ele for embora desceremos.

Com isso os irmãos descansaram em cima das árvores, esperando o alvorecer.

FelipeTheWriter & Midoky

A Cidade da EscuridãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora