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Eunjin saia da lanchonete com um sorriso enorme nos lábios enquanto um milhão de fogos de artifício explodiam nos céus. E foi tão fácil ignorar o barulho quando, em sua mente, o coração jazia descansado em uma paz invejosa, aquela pela qual procurara em todos os outros natais. Finalmente. Gyunjin não se sentia tão diferente, a bonança após a tempestade.

Ao se aconchegarem no carro novamente, Gyujin deu partida e deixou que Eunjin dissesse alguma coisa dessa vez. Com a oportunidade, revelou ter aulas de piano desde os sete anos. A avó possuía um belo piano preto no canto da sala de jantar que também servia de refúgio para as mágoas e lágrimas de Eunjin quando brigava com seus primos e irmãos. Tocar sempre foi um escape.

Quando perdera a visão, sentiu-se incapacitada de muitas coisas, mas, com muita persistência, conseguiu criar músicas para seus sentimentos. Criou músicas no precioso piano da casa de vovó que significava mais do que seus primos e irmãos não foram capaz de compreender, afinal, eram crianças. Mas, para Gyujin, por alguma razão, sentiu como se pudesse agarrar as notas dedilhadas no ar, dizer que entendia absolutamente todas suas dores e preocupações.

Enquanto a voz de Eunjin passava por cima da baixa música na rádio e Gyujin prestava a devida atenção, despercebido entre as brechas, o milagre de Natal acontecia. O destino tardiamente os convidando à nostalgia.

E isso era mágico.

Gyujin compreendia, a noite se revelando boa e...um vazio gelado. A neve pesada.

Eunjin não compreendia, mas a noite se desfazia sob os céus, esperanças agarradas ao ar. Era só esticar o braço.

Depois de um tempo, quando as casas começaram a aparecer ao fundo, Eunjin iniciou todo o seu discurso de gratidão.

— Gyujin.

— Diga.

— Eu queria agradecer.

— Não precisa — observou de soslaio, sorrindo minimamente. A verdade é que ele também queria agradecer.

— Não, é sério — de repente Eunjin pareceu séria demais. — Você fez com que eu pensasse em coisas que jamais pensaria.

— O que exatamente você está querendo dizer com isso?

— Que estou realmente agradecida, e, ah, meu Deus, eu sei que isso parece uma loucura, mas você também não sente que isso tudo fez toda diferença?

— Se você estiver pensando sobre as mesmas coisas que eu, talvez sim.

— Desculpe se não posso simplesmente explicar — sorriu nervosa.

— Você sabe que não deve explicações — estacionou o carro. A lavanderia do outro lado da rua. — Sinceramente, eu quem deveria agradecer. De alguma forma, há algo incrível em você que paralisa. E, como disse, isso tudo pode sim ser uma loucura e...não sei se eu também entendo. — Pensou por um momento, procurando palavras com cuidado. — Não tenho muitos problemas, embora essa sensação foi como se tivessem me retirado de uma profunda tempestade de neve e aquecido meu corpo com a lareira mais reconfortante do mundo.

— Muito obrigada, Gyujin — Eunjin se emocionou, e, pela primeira vez naquela noite, olhou diretamente nos olhos de Gyunjin. A sensação foi tão grandiosa que sentiu milhares de estrelas natalinas atingirem seu estômago. — Eu não preciso te ver para te enxergar e saber que você é incrível. Não sei se sabe, mas há uma diferença muito grande entre essas duas coisas.

Já do lado de fora, madrugada, de frente um para o outro, sem pensar, Gyujin beijou sua testa num silêncio de mil significados.

E, no mais puro da palavra, aquele era um amor descomunal, revelando-se por causa de um milagre de Natal. Você acredita?

Antes de partir, entregou algo nas mãos de Eunjin; ela o segurou com força para que não fosse.

— Vovó me espera, Eunjin — dizia com certa tristeza na voz também. — Feliz Natal.

Feliz Natal — não pareceu doer tanto assim.

E, então, sumiu na nevasca, levando embora todas as estrelas, sonatas e segredos do mundo.

O tempo estava escondido por um segredo misterioso.

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GRITO VÉSPERa

ㅡ love before the first sight. up10tion + dia ! a christmas gift.Where stories live. Discover now