Não chore mais

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As labaredas das chamas me tiraram o que eu chamava de amor. Levaram para longe um irmão. Caminhei desolado até o carro, se não fossem por Jonghyun e Onew, eu estaria junto às chamas. O calor me deixou frio e vazio. Pude ver Key com lágrimas em seus olhos, estava cobrindo com os dedos seus lábios que tremiam. Eu ainda não havia caído na realidade.

- Tenho.... eu tenho que tirar... tirar dali - o tom de minha voz trêmula era baixo, encarava Jonghyun e Onew enquanto as lágrimas escorriam.

Um grito silencioso tomou conta de minha mente, ele urrou e quando me dei por mim, estava ao chão sem saber o que fazer.

- Matei... eu matei...

E assim tomei a identidade de um assassino.

Aqui estou. Agora me restam apenas dois dias para decidir meu destino. A morte me cai bem. Não importava o quanto eles tentassem me fazer mudar de ideia, minha decisão foi tomada.

O segundo dia se estendia, Jonghyun resolveu vir dessa vez. Magro, ele estava muito magro e com grandes olheiras embaixo de seus olhos. Aquilo foi a coisa mais dolorosa que pude ver no dia.

- A culpa não é sua - ele foi direto - Não sei por que disse a eles que os matou. Você sabe muito bem que isso é mentira, assim como nós também - ele parecia cansado e esgotado.

Foi difícil encará-lo.

- Eu tomei duas vidas àquela noite por causa do meu egoísmo - minha voz estava tremula, não havia me recuperado das palavras deferidas por Onew e agora as de Jonghyun me torturavam.

- Taemin, você não tem direito nenhum de dizer que os matou - aquilo me pegou de surpresa - Olhe pra mim - ele estava chorando - Eu estou tão cansado... Taemin vamos pra casa. Minho e Hwayoung estão te esperando - meus olhos transbordaram.

Antes que eu pudesse respondê-lo, aquele policial desgraçado me tirou dali. Não importava o quanto eu lutasse em desespero para não me afastar do meu hyung, eu já estava de volta dentro daquela cela sucinta e solitária. Estava me arrependendo? Pouco à pouco passei a sentir algo que há muito não sentia. Medo.

O resto do dia fora completamente agonizante. Não sabia mais o que escrever, meu tempo estava acabando e o olhar de Jonghyun permanecia. Talvez eu tivesse feito a escolha errada, eu disse que não seria um covarde, mas estava apenas fugindo. Eu sentia falta deles, de todos eles, e no fim quem havia nos separado fora eu. Passei a folhear meu diário em busca de lembranças, apenas as boas.

Minho sempre esteve ao meu lado, não importava o que eu fizesse. Por vezes até levava a culpa por mim sem que eu soubesse. Meu melhor amigo, aquele que eu chamava de irmão. Como sinto sua falta. Eu sinto muito, eu tirei a coisa mais importante de você. O tempo.

Àquela noite parecia nunca ter fim, apenas fiquei ali sentado observando a lua, tão soturna quanto eu. Amanhã seria o último dia para eu traçar meu destino. Eu já estava repensando minha escolha, desistir seria uma fraqueza, mas voltar com a minha palavra feria meu orgulho. Mesmo que em longos, quase infinitos, minutos, a noite cessou. Devo ter dormido umas três horas quando Key resolveu me visitar cedo pela manhã. Tive receio de ir, como eu o iria encarar? Com aqueles olhos sinuosos, ele destruía quaisquer respostas que eu pudesse retrucar. Estava eu lá, frente à frente com Key. Era amedrontador.

- Não vai dizer nada? - eu estava inquieto e apertava minhas mãos uma contra a outra sem encará-lo.

- Não vou te impedir nem te obrigar à ir embora - de fato o olhei apavorado - Mas quero que saiba de uma coisa: Minho sempre acreditou que você não fosse um covarde, muito menos um homem que não cumpre com sua palavra - quis sair correndo no momento em que o mais velho citou o nome dele, entretanto todo o meu corpo se manteve paralisado - "Que tudo mude, menos nós" - minhas lágrimas caíram - Cumpra com o que começou. Ele pode ter lhe dado tudo o que tinha, mas você não tem o direito de fugir e tirar sua paz. Faça o que tem que fazer - em momento algum ele fraquejou, seu olhar amargurado me fez ter certeza do quão egoísta eu podia ser.

- Estou com medo... - já não me importava mais de chorar em frente à Key.

Minha voz demonstrava desespero enquanto eu apoiava meu rosto em minhas mãos.

- Por favor, me tirem daqui...

- Finalmente você entendeu? - mesmo sorrindo, se tornava claro que nenhuma felicidade vinha dele, apenas alívio e um coração perturbado.

Parece que apenas eu acreditava que minha vida terminaria com o julgamento. O dia se foi e um novo nasceu. Foi então que em frente de todos ali, minha inocência foi provada, até mesmo para mim. Acidentes acontecem e pessoas morrem todos os dias. Dessa vez perdi meu melhor amigo e a mulher que eu amava, mas sinto como se eles nunca tivessem partido. A culpa já não me aterrorizava como antes, eu não estava sozinho, nunca estive, apenas acreditava que sim.

Os corpos de Minho e Hwayoung foram cremados e Onew decidiu nos levar à uma cachoeira de águas cristalinas e calmas.

- Uma vez ele me disse que queria ser livre como um pássaro - Onew hyung parecia feliz relembrando os momentos que passou junto à Minho - Não precisava saber voar, ser uma pétala de Melissa voando ao vento também servia - ele sorriu com os olhos marejados - Como ele era sonhador.

- Aqui os dois poderão, juntos e para sempre, ter a vida que sempre quiseram - Jonghyun já estava com os olhos avermelhados, mas não chorou, apenas sorriu melancólico.

- MINHO! É MELHOR NÃO SE PREOCUPAR COM A GENTE! ESTAMOS BEM E VAMOS FICAR DE OLHO NO TAEMIN. ENTÃO A PARTIR DE AGORA, VIVA POR VOCÊ! - Key estava chorando, mas em momento algum deixou de sorrir - HWAYOUNG, É MELHOR VOCÊ TOMAR CONTA DELE!

Aos poucos fomos espalhando as cinzas de ambos pelas águas enquanto elas dançavam sobre o vento. Por algum motivo, senti a presença deles e que eu fora perdoado. Assim que os vimos irem junto com a corrente, o céu passou a chorar. A tempestade desperdiçou sua água em nós e meu coração estava livre.

- Adeus...

Uma vez, um certo alguém alto e moreno, gentil e orgulhoso me disse:

"Eu sei que nós podemos nos curar com o tempo"


FIM

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