Capítulo 21 - A Rainha das Sereias

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No dia seguinte, partiram muito cedo. Sua jornada estava finalmente chegando ao fim. Em breve estariam nas terras de Drea e depois disso encontrariam o Cigano que tanto procuravam. Héricles estava ansioso. Pelo que pôde perceber, apesar de estarem brigadas umas com as outras, todas as Musas ainda respeitavam e pareciam ter carinho por Drea. E todas não paravam de agradecê-lo apesar de ele não saber exatamente o que tinha feito por elas. Isso só podia ser um bom sinal, não? E se todas as Musas tinham algum apreço por ele, certamente não iriam lhe negar ajuda se precisasse.

Ele se agarrava a isso como uma esperança para conter o monstro em seu interior. Desde que entrou em Alátria não o sentia. Só o viu no espelho no Templo de Mena, mas não sentiu que ele reagia como das outras vezes. E agora tinha recebido a pedra de luz, que não tinha tirado de seu bolso desde que ganhou. Sentia-se mais seguro com ela.

Aos poucos eles foram notando a mudança no cenário. A primeira foi à brisa. Uma brisa suave e morna que soprava em direção a eles. E depois o calor. Como eles sentiram falta do calor! Depois de passar pelas montanhas geladas e escuras de Menes, era um alívio entrar numa terra com clima tão agradável. E as florestas! Estavam de volta. O território de Drea era o único onde as cinco Musas ainda conviviam juntas.

Aos poucos eles foram despindo os blusões e os ânimos se renovaram. Quando pararam para uma refeição ficaram incrivelmente felizes ao conseguirem acender uma fogueira, era a primeira refeição quente em dias! Não seria um grande banquete, mas só de ser quente já era um grande avanço. Enquanto Nova ajudava Mari e Jiae a cozinhar, Zira observava Ambaris. Ele permanecia calado. Ela não conseguia esquecer a expressão dele quando ela recusou o seu toque. Imaginou que a sua expressão na sacada do quarto dele devia ter sido algo bem próximo daquilo. Precisava tomar coragem e ir pedir desculpas. Mas ele nem sequer olhava para ela. Estava perdido em seus próprios pensamentos. Ela não sabia como reagir àquilo. Ele já tinha passado por essa situação. Ela não. Acabou desistindo de tentar iniciar uma conversa. Ficou se culpando por ser tão medrosa e infantil, onde estava sua autoconfiança?

Héricles estava treinando um pouco. Fazia tempo que ele não se alongava e nem se exercitava de verdade e suspeitava que os últimos dias sobre o cavalo tinham entortado suas pernas. Começava a se imaginar andando como se ainda estivesse montado. Enquanto, se alongava Beto se aproximou.

- Juro que se eu conhecer Drea pessoalmente eu vou dar um beijo nela – disse Beto. – Sonhava com calor desde as terras de Tulek.

- Somos dois. Não aguentava mais aquele frio e a escuridão. Mas eu aposto que esse seu sorriso de palerma não é só por causa do calor – brincou Héricles. – Eu vi você indo para a barraca da Bruna ontem.

- Não tive alternativa! – esquivou-se Beto – Eu usei a haste da minha barraca para fazer a tala na asa da Zira, não tinha onde dormir.

- Aham, sei. E aconteceu algo que eu deva saber?

- Nada. Mas olha... Vontade não me faltou.

- Sabia que ia dar nisso. – Héricles riu – Cuidado hein? Se não tiver certeza do que quer ou se for só fogo no rabo então nem tente nada, fui claro?

- Sim, senhor – brincou Beto. – Claro e repetitivo. Mas fique tranquilo, nunca faria nada para magoá-la. Sabe que adoro aquela pentelha. Foi só um momento e já passou.

- Eu to falando muito sério, tampinha.

- Cala a boca, estou quase maior que você.

- No seu mundo imaginário, talvez.

- E o monstro? Nada?

- Graças a Uliah. Nada. Nem um sinal dele desde que entramos em Alátria.

As Espadas de Cristal - A Saga da Legião Branca - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora