Capitulo vinte

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É tão ruim quando temos que abrir mão de algo que amamos não é mesmo? Fica uma sensação de angustia e medo dentro do coração, a saudade aperta até mesmo antes de dizer adeus, mas eu nada seria sem a esperança que me preenche como fogo, quando disse para ele ir não pensei que esse momento seria assim, cai na real uns dias depois, quer dizer, ainda sim falta um mês para Harry ir porém já estou sentindo ele longe de mim. Há uma correria enorme porque tudo foi em cima da hora e tivemos que fazer diversas coisas.

Quando contei à minha mãe que Harry irá passar dois anos em outro país e que decidimos manter nosso relacionamento seu maior medo aparente foi como eu iria seguir sem ele aqui, esse também era um medo meu mas depois de pensar percebi que está mais do que na hora de abrir minhas asas e voar sozinha.

Quando olho para suas lindas esmeraldas concentradas na televisão, sorrio, ele xinga o cara que por um acaso ele que esta controlando no videogame, fecho meu livro e me viro para ele. "O que você acha que combina comigo? Quero dizer profissionalmente." Ele me olha de relance e volta a focar na televisão deixando-a em pausa logo em seguida.

"Não sei, acho que poderia fazer qualquer coisa, mas acho que se fosse direcionado para a arte combinaria mais, não imagino você com aquelas roupas formais com a cara entediante atrás de uma mesa." Ele pega o controle outra vez e volta a jogar freneticamente. De repente sinto uma vontade louca de descobrir uma profissão que seja a minha cara mas a preguiça de um domingo a tarde é maior e deito de novo. A mãe de Harry entra no quarto com uma bandeja e agradeço por ela ter lembrado disso pois Harry aparentemente esqueceu de tudo ao seu redor desde que ligou a praga da televisão. As nove vou para minha casa que está escura e mamãe dorme no sofá.

Tento não fazer barulho enquanto tomo um banho e arrumo as coisas para o dia seguinte, é bom conseguir andar em casa sem estar com medo de uma sombra atrás de mim, de vez em quando me sinto sendo observada e o procuro com receio de que esteja escondido esperando o momento oportuno para me atormentar, as vezes sinto que ele não se foi, que o pesadelo voltará em breve, que esse é apenas um momento de paz e que a guerra recomeçará, sinto que isso possa acontecer quando Harry não estiver mais aqui para me proteger, o mais estranho é ele ter que me proteger de mim mesma. Leio um pouco antes de dormir a história de Maxon e America me prende de tal forma que eu não consigo explicar, a forma e as palavras que Kiera Cass escreve é tão incrível que prende a atenção de qualquer um. Minha mãe entra no quarto de fininho e pergunta se já comi alguma coisa, diz que está saindo e só volta amanhã, antes de fechar os olhos e mergulhar na escuridão de um sono tranquilo meu coração se sente vazio, como se alguma coisa ainda estivesse faltando... E o sono tranquilo é substituído por saudades do meu pai.

"Você esta bem minha pequena garotinha?" Papai me pega no colo depois que caio da bicicleta, o capacete e os acessórios de segurança parecem inúteis agora com o braço ralado, ele faz um bico engraçado e quando vejo o rosto da menina não sou eu... é como se eu estivesse de longe apenas observando a relação de pai e filha. "Você quer um chocolate?" A menina acena e ele sorri satisfeito.  

De repente estou na casa da vovó, a família está sentada conversando e brincando uns com os outros, me sento da escada e olho para tudo o que eu tinha e sinto falta da criança que eu era, a menina passa correndo atrás de uma borboleta, estou com um vestido amarelo e um laço prende o meu cabelo, sorrio vendo a minha versão mais nova, me lembro deste dia, acabei rasgando o vestido quando cai e quando fui para casa o sujei de sorvete, minha mãe tinha ficado brava porque estraguei o vestido preferido dela e papai me deu banho naquele dia, brincamos que a banheira era um rio e os patinhos de plásticos seres encantados do mar. Eu fui uma criança feliz té então e queria poder voltar para lá, saio do banheiro aonde estava vendo os dois se divertirem e deixo um bilhete na mesa.

(Não abandone sua filha, ela precisará mais de você do que você pode imaginar.)

Quando solto a caneta, tudo muda, o ambiente se torna frio e está mais escuro, a menininha chora, baixinho enquanto vê seu pai correndo de um lado para o outro fazendo as malas, ele sai, bate a porta com muita força e a deixa sozinha...

Acordo sobressaltada, estou suada e com dor na cabeça. "Não adiantou." Digo para mim mesma, o medo de Harry ir e me abandonar é tanto que faz isso, não estou preparada, é isto. Levanto correndo e saio de casa pelos fundos, tranco a porta e só me apercebo que ainda está de madrugada quando Harry demora demais para atender o telefone enquanto estou na porta da sua casa, de pijama e com frio.

"O quê aconteceu?" Ele parece assustado, entro e fecho a porta atrás de mim.

"Nada, posso dormir aqui?" Ele resmunga algo antes de me puxar pelo braço, quando deitamos ele já esta dormindo de novo, o braço está embaixo do meu pescoço e aperto sua cintura com força, volto a dormir depois de alguns minutos pensando em tudo o que eu não deveria.

Acordo atrasada, como de costume, corro até minha casa para me trocar e ir até a lanchonete, saio tão de pressa que esbarro na minha mãe que por um acaso está voltando agora. "Trouxe um lanche para você." Ela grita depois que deixo um beijo rápido na sua bochecha e continuo correndo, paro e volto o trajeto para pegar o pacotinho.

"Te amo!" Ela ri, e continuo correndo, meu coração está acelerado e me sinto uma bagunça quando chego na porta junto a Mari.

"Bom dia meu anjo." Ela me abraça apertado e tento me ajeitar um pouco. "Noite animada foi?" Ela balança as sobrancelhas para mim e sinto meu rosto ficar quente, ela sorri e olho para o chão envergonhada. A imagem do meu namorado semi nu preenche os meus sentidos e fico animada demais para quem está trabalhando, passo a manhã atendendo pessoas, umas simpáticas e educadas outras nem tanto mas estou trabalhando no que me afeta e isso não é mais um problema, aprendi a não ficar tão chateada quando as pessoas são assim, parei de pensar que a culpa é minha. Na hora do almoço ligo para a minha mãe para saber sobre o seu encontro noturno, ela não me da tantas informações quanto gostaria mas me diz alguns detalhes que eu não preferia saber como a cor da lingerie que ela estava usando no apertamento do cara, pergunto quando o vou conhecer e ela me da a volta antes de desligar o telefone dizendo estar ocupada com algo. Ligo para Harry logo depois, Mari senta do meu lado na mesa e tira o telefone da minha mão assim que ele atende, coloca no viva voz e sorri quando me olha.

"Olá Harry gato barra da minha amiga porque não me conheceu antes." Ela pisca e ele ri.

"Ah claro, até porque você é o ser mais maravilhoso da terra."

"Eu sei, eu sei, agora falando sério, o que você fez com a Evie hoje hein? Minha bichinha chegou aqui toda excitada, você não tem vergonha? ficar fazendo ela trabalhar com tesão o dia inteiro?" Engasgo com a minha própria saliva enquanto Harry e um dos meninos que trabalha com a gente gritam o quê em uníssono. puxo o telefone de sua mão enquanto ela ri. 

"Não da bola para o que ela diz, essa garota é louca!" Ele ri e jogo um papel em Mari. Estou bufando internamente.

"Não tem problema amor, eu sei que sou excitante." Sorrio. "Posso ir te buscar hoje? Estou com o carro e se você não se aguentar podemos ir a um motel." Ele ri e desligo o telefone. Só pode ser brincadeira ter que aturar esses dois.

"Eu te amo fofa!"

Mind | H.S.Where stories live. Discover now