Capitulo onze

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Os dias passam como uma cascata, rápidos e sem graça, as coisas pioram assim como nos filmes de terror e o final esperado, feliz e que tudo dá certo não chega. Porém, a cada dia uma continuação pior ainda aparece.

Os meus demônios estão cada vez mais presentes, as vozes e os gritos ficam mais altos e cada dia parece um obstáculo a vencer. Eu não aguento isso, não fui criada para suportar essa dor. Tenho pesadelos constantes e realmente sinto eles me batendo. Minha mãe a cada dia que passa fica mais desanimada quanto a minha melhora, ela está tentando me ajudar mas ela também não está bem. Ela frequenta uma psicóloga agora, que ela diz que a ajuda muito, eu tentei, tentei diversas vezes voltar ao psiquiatra mas eu não consigo, simplesmente não consigo sair de casa e enfrentar todo mundo.

Ao passar dos meses as vindas de Harry diminuíram, ele diz que começou a trabalhar com o seu pai porém acho que está com medo de ficar perto de mim e isso me machuca. Mas quando ele vem no fim de tarde fica até a hora que a minha mãe chega, às vezes até mais tarde. Ele tem se tornado um grande amigo, o meu porto seguro. Quando ele está aqui dentro, os monstros somem mas as vozes ficam mais baixas, como se tivessem medo dele e eu gosto disso.

Nos finais de semana tento ler um livro ou me distrair com a televisão mas fica tudo pior, as vozes se misturam e eu não faço ideia de qual delas eu tenho que temer. Minha auto estima não existe mais e sei que estou horrível quando vejo o meu reflexo, tento não me olhar no espelho mas é cada decepção... eu não me iludo mais em tentar ao menos ficar apresentável porque eu não faço mais questão de cuidar da minha aparência quando a minha alma está estraçalhada.

"Você agora é apenas o meu objeto." Sua voz soa calma e áspera. Tampo meus ouvidos e fecho os olhos.

"É mentira! É mentira." Sussurro pra mim mesma. Isso não existe. Minha cabeça dói constantemente e os remédios que tinha aqui em casa acabaram, os mais fortes minha mãe escondeu e trancou no seu quarto com medo que eu tentasse me matar outra vez.

Não está sendo fácil para ela aguentar tudo sozinha mas de um tempo para cá, está mais compreensível. Anne tornou-se sua confidente, como melhores amigas, não me lembro dela ter uma amizade assim, que a ajudasse de verdade, acho que foi o ponto de partida dela para tentar superar a dor que papai deixou. Teve um dia aí que ela ligou para a minha avó, elas conversaram bastante e de supetão ela perguntou a ela se ele tinha passado por lá, com muita vergonha sem querer admitir que ele nos abandonou.

Agora percebo que ele tinha uma escolha, e ele escolheu ir embora e largar a mulher e a filha na merda. Parei de fazê-lo como vítima, não superei mas também não penso tanto no que poderia ter sido se ele não tivesse ido embora.

"Evie, o almoço está pronto, vem comer." Minha mãe pega minha mão e me levanto do sofá a acompanhando. "Você está melhor?"

"Sim, mas ainda não consigo dormir." Isso é um grande problema, dormir, tem semanas que eu não faço ideia do que seja uma boa noite de sono, tenho pesadelos frequentemente e acordo sobressaltada, correndo e deitando com a minha mãe. São tão reais que não me sinto segura no meu quarto.

"Você deveria ir na consulta, isso ajudaria bastante." Ela diz enquanto põe a minha comida, apenas afirmo, mas sabemos que isto está bem longe de acontecer.

"Talvez um dia eu vá." Dou de ombros e me sento, tenho me acostumado a ficar na varanda, é o máximo que saio de casa e também ninguém me vê lá, fica na parte de trás da casa, o máximo que alguém pode me ver é a família da Anne que a casa fica ao lado, e depois só tem mato e árvores para toda parte.

Mind | H.S.Where stories live. Discover now