Capitulo nove

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TEMPOS ATUIAS

Eu não sei bem o quão ruim sumir naquele dia foi mas sei que não foi apenas ruim, segundo minha mãe aquilo foi a gota d'Água e por isso meu pai foi embora, ele desistiu, nos abandonou com toda a merda. Eu sei que a culpa foi minha e minha mãe não faz questão de esconder o quanto me odeia por tudo o que eu causei. Eu sinceramente nunca achei que ele pudesse ir embora, achei que seria meu companheiro para sempre mas em um belo dia ele sumiu, nas primeiras semanas na hora dele chegar do trabalho eu ficava sentada na ponta das escadas esperando ele entrar pela porta, ele sempre foi a pessoa que estava no meu lado e achei que ele suportaria mais do que minha mãe mas isso só foi ilusão da minha cabeça e ele foi, apenas saiu e não voltou mais.

Harry me deu um diário onde escrevo para aliviar a dor e isso ajuda um pouco e agora eu preferia estar sozinha, gosto quando minha mãe sai, para aguentar as despesas da casa ela trabalha das seis da manhã as duas em uma padaria e das cinco as nove cuida de uma senhora aqui perto enquanto a filha dela está no curso eu acho, é bem puxado então ajudo arrumando a casa e fazendo os deveres, nós tentamos não discutir tanto mas virou rotina a gritaria, os choros, os tapas, a cada dia ela parece ainda mais machucada. É a minha mãe e eu a amo e faria tudo diferente se conseguisse.

"Mas você não consegue pois se pudesse seu pai estaria aqui e como pode ver você está sozinha." A voz asquerosa diz ao meu lado, ele está ali noite e dia, pronto para mais uma gritaria para assim ele poder gritar também.

Resumindo todo mundo me odeia e eu não sinto raiva por isso, só dói. Não posso dizer que Harry seja o meu amigo mas ele é bem próximo a isso, ele me ajuda e admiro muito todo o esforço que ele anda fazendo por mim, eu fico lisonjeada mas não sei como devo agradecê-lo.

* * *

Eu me sinto mal, não é só a minha cabeça que está doendo, meu corpo inteiro lateja e não consigo mesmo me levantar, é como se houvesse um peso sobre mim me impedido de se mover.

"Até que horas você vai ficar aí?" A minha mãe pergunta de braços cruzados em frente à minha cama. "Custa você levantar e fazer algo nessa merda de casa ou é demais para você também?"

"Eu já estou indo, são minhas costas que está doendo demais." Resmungo me virando de lado tentando achar uma boa posição para aliviar a dor.

"E você quer que eu faça o quê?"

"Nada mãe, eu não quero que faça nada." Ela sai batendo à porta com força e reclamando. Me levanto e tomo um banho deixando a água quente cair sobre as minhas costas relaxando um pouco mais.

"Esse é o peso da culpa. Dói não é mesmo." Ele fala através da cortina que o separa de mim. Isso não é real, repito para mim mesma mas já faz dois anos que digo isso e nada muda. Alguém chama o meu nome e resolvo ignorar, deve ser a minha mãe. O tempo parece passar mais devagar enquanto tomo banho, deixo a água quente escorrer pelo meu corpo como se aquilo fosse limpar todo o resto.

"Evie!" Um grito forte soa por todo o ambiente e quase caio de susto, pego a minha toalha e saio rápido do banheiro vendo Harry andar de um lado para o outro.

"O que foi? O que aconteceu?" Digo atordoada.

"Achei que tinha morrido lá dentro, que demora do caralho." Ele passa a mão no cabelo e me acalmo um pouco.

Mind | H.S.Where stories live. Discover now