Capitulo cinco

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• SEIS MESES ANTES

Meus pais ainda não falam completamente comigo, eles mal olham na minha cara para falar a verdade. As coisas não saíram como o planejado, eu não me adaptei, minha cabeça não melhorou eu sou uma merda de pessoa. Sou uma fodida isso mesmo.

Pesquisei sobre o caso que ocorreu em Kiuciém mas não dão muitos detalhes, apenas dizem que foi suicídio o que indica que nunca aprofundaram a investigação do caso pois se tivessem, achariam a minha pele em sua unha e teriam vindo atrás de mim mas isso não aconteceu. Eles não ligaram para o pobre homem, não deram bola para o que tinha acontecido mas o que se podia esperar de uma cidade tão pequena que ninguém se importa com ninguém. Meus pais me proibiram de falar sobre o caso, me levaram em alguns psicólogos e um psiquiatra me diagnosticou com Transtorno do Estresse Pós-traumático porém eu não disse o que havia acontecido, não de todo, não a parte que eu empurrei alguém e que um homem morreu. Depois que fui diagnosticada nunca mais voltei ao seu consultório.

Nós mudamos novamente, antes fui para Seattle e agora moro em Boston onde o custo não é tão caro como na outra cidade, é difícil me acostumar com tudo isso, eu não estou tentando, eu não quero sair do meu quarto e não deixo a dor passar, quando vejo algo triste eu sorrio; dou risada como se fosse algo bom mas quando vejo pessoas felizes a minha volta tenho uma vontade imensa de chorar, como se aquilo me machuca-se de uma grande forma e dói ver o sorriso dos outros enquanto luto para minha cabeça se calar de uma vez por todas.

Meu pai não gosta de ficar comigo, ele sente vergonha de mim e me olha com nojo, eu estraguei a merda da vida dele, entendo bem isso mas é difícil digerir. Não tomo remédios e fica muito ruim para conseguir dormir, tenho pesadelos e acordo aos prantos meus pais entenderam que aquilo era eu e desistiram de uma vez por todas correr até o meu quarto e me acalmar, agora eu fico ali esperando o susto passar e o meu coração acalmar. Me sinto sozinha, não falo com ninguém e tenho medo das pessoas que não conheço, como se soubesse o mal que as rondam. Eu me odeio.

Me deito na minha cama e fico esperando o sono começar a bater, canto uma música suave, fecho os olhos e na minha cabeça a vida que queria ter.

Eu danço, estou leve como uma pena, estou dançando sozinha fazendo uma coreografia tão linda de ver, eu sorrio e meus cabelos voam e batem contra minha pele, eu continuo dançando, a música acaba e escuto aplausos, esse é o meu sonho, ser dançarina então eu me despeço e saio feliz, estou conversando com alguém enquanto andamos pela rua úmida, dou risada alta. Quando chego em casa está tudo em paz, não a barulho e ninguém me perturbando, tomo um banho e me deito meus olhos se fecham rápido pelo cansaço e quando volto a abri-los no dia seguinte estou lavada de sangue, sinto um forte aperto nos meus braços mas não há ninguém, grito, peço pela a misericórdia de alguém mas eu estou sozinha, ninguém nunca entrou aqui a não ser eu, sinto o aperto no meu pescoço e vejo a garotinha rindo enquanto me sufoca o corpo de seu pai ao meu lado quando tento me soltar.
Você vai pagar pelo o quê fez, dizia.

Grito, acordo sobressaltada e me levanto tão depressa que caio no chão, batendo minha cabeça no criado-mudo, me arrasto até o canto da parede e fico encolhida ali esperando que o corpo e o sangue suma da minha cama. Abraço o meu corpo e faço o que venho fazendo para me distrair, rezo! Eu não acredito em Deus ou seja lá o que for, se ele existisse mesmo não deixaria tudo aquilo acontecer na minha vida. Vejo as sombras me rodeado esperando o momento certo para me levar à loucura, chamo minha mãe, depois meu pai mas nenhum aparece. Sinto minha cabeça pesar nos meus joelhos como se todos os meus problemas fossem pilhas e toneladas em cima de mim.

Mind | H.S.Where stories live. Discover now