Eu Disse Que Não Fumo

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— Se não te atinge, então você não se importa — disse o demônio.

Hope pensou em rebater, mas ele tinha razão. Thomás não havia se tornado um idiota da noite pro dia. Ele provavelmente já era um há muito tempo, mas ela não ligava porque não a afetava diretamente. Agora, com Brooke o tempo todo agarrada a ele, usando drogas e apostando corridas, Hope havia descoberto que o odiava, mas ele já havia feito aquilo com outras garotas e suas ações não causaram efeito algum na suicida. Ela poderia se considerar uma hipócrita?

— Claro — o demônio respondeu. — Todos da sua raça são hipócritas. Você não seria diferente.

Ele voltou a encarar a pista, pensando que se todos ali eram hipócritas então todos ali eram pecadores. Hipocrisia podia não ser um pecado, mas deveria. Em definição geral, significava ser falso, duas caras. O que era pior do que aquilo?

Uma buzina acordou Hope para o anúncio da corrida, e ela fincou os olhos na pista.

O carro que Thomás dirigia era o mesmo que Hope via chegar à escola todos os dias, mas ao contrário do habitual, dessa vez ele tinha a capota fechada. As máquinas estavam prontas, o ronco de dois motores reverberando no ar. Uma garoa fina começava a cair sobre a plateia, gelando e animando os espectadores. Naquele momento, quando uma garota se colocou entre os veículos e levantou uma bandeira, o demônio começou a assobiar ao lado de Hope. Era a música do baile, a que os dois dançaram juntos.

Hope sentiu um frio totalmente diferente do da chuva invadir seu interior.

— Pare com isso — pediu.

Ele sorriu, começando a cantar quando os dois carros deram partida:

— We were out on a date in my daddy's car. We hadn't driven very far.  

— Pare — pediu de novo. 

O demônio continuou fumando e cantando, e Barth gritou em torcida ao seu lado. Havia algo errado, algo estranho. Algo ruim. Hope procurou Brooke pela pista, vendo-a através do vidro fechado. Ela gritava com os braços para cima e Thomás a acompanhava inclinado sobre o volante. Na plateia, tudo o que Hope escutava era o vazio sufocante da voz do demônio.

(there in the road, up straight ahead)

Estavam indo rápido, muito rápido. A pista estava úmida. O céu nublado. O demônio não se calava. Sua voz era suave, calma, afinada como no rádio. Parecia uma piada dentro de um filme de terror. A música... 

(a car was stalled, the engine was dead)

... era sobre um acidente de carro, e, de repente, Hope entendeu que Brooke estava em perigo. Ela gritou com Damon, pediu para que parasse. A criatura a ignorou, cantando, às vezes sorrindo, em muitas ocasiões quase dançando.

(the screamin' tires)

Barth agora prestava atenção em Hope. Seus gritos eram abafados pela torcida, ninguém notando que o mau pressentimento exalado pelo demônio era real e podia dizer algo. Fazia frio por causa dele, mas todos só perceberam que o mal estava por perto quando um dos carros começou a deslizar, deixando marcas de pneu no asfalto.

(the bustin' glass)

— Pare com isso! Pare com isso! Deixe-a em paz!

Mas o demônio não parou. 

— Pare!

(The painful scream that)

— Por favor, pare!

(I)

— Brooke!

(heard)

— Deixe-a em paz!

Baby, Don't Go #1 (LIVRO FÍSICO)Where stories live. Discover now