Capítulo 29

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Isa...

Eu olho pro garoto e sinto uma pena dele, coitado.. mas fico com milhões de perguntas na cabeça. A Lice me olha e não diz nada, acho que ela também sentiu pena dele. Então eu olho pra moça da barraca e sorrio.

- eu quero três x-salada grande, três coca cola e três porções de batata frita todas grandes

- nossa fia - Lice diz rindo - a grávida aqui sou eu

- trouxa - a gente ri e o menino olha - qual seu nome?

- meu nome é Thiago

- Humm, Ata Thiago - eu digo e tomo coragem pra perguntar - onde estão seus pais?

- A minha mãe morreu e eu fui pras ruas

Eu e a Lice nos olhamos com a cara de coitado, Pq eu mesmo tenho um coração de manteiga e ela também ainda mais agora que tá grávida. A gente pega nossos lanches e vamos até a mesa e o JP não tá com a cara nada boa.

Deixo o menino sentar o meu lugar e antes que o JP fale alguma coisa chamo ele pra conversar. Ele levanta da cadeira pistola, e eu não entendo o pq de tudo isso.

- o que tu tava fazendo com aquele menor?

- a gente tava se pegando - eu digo com ironia mas o JP não tá pra brincadeira não e aperta meu pescoço com força - me solta porra

Ele me solta e passa a mão pelos cabelos em um gesto nervoso. Oshe, Pq ele tá assim.

- pq tu deu comida pro menor?

- pq o Thiago é uma criança como outra qualquer e ele tem o direito de aproveitar como todas as outras crianças..

- que merda tu tá falando?

- ele viu os amigos comendo e ele não tinha a mesma condição pra poder comer como os outros... até pq não tem pais pra isso

- tá, o que você tem a ver com isso?

- o que eu tenho a ver com isso? - digo brava - eu tava ajudando uma criança e sabe pq? Por que não custava nada pagar um lanche pra ele e era melhor do que deixar ele passando fome e vendo as outras crianças comendo e ele não

Saio dando as costas mas o JP segura meu braço e me puxa pra perto dele. Eu olho pros olhos escuros dele e sorrio, o JP sorri também e me beija na frente de todos ali. E um puta de um beijo pq eu senti o pau dele ficar duro. Sorrio entre o beijo e ele morde meu lábio inferior. A gente sai de mãos dadas em direção a mesa.

Eu sento no colo dele e observo o menino comer, é tão engraçadinho mas me dá um aperto no coração ao ver que esse sorrisinho bobo que ele faz quando tá comendo não é de sempre. Ele termina de comer e sorri.

- obrigada tia - ele diz - tava muito bom

- você quer mais? - ele não responde - se você quiser tem o meu, pode comer se quiser

- obrigada tia

Ele sorri e continua a comer, a Lice é uma pateta e já tá chorando. Mas realmente era de cortar o coração, ver uma criança sorrindo por tão pouco. Ele come as batatas e quando termina seu rosto da cheio de ketchup, então eu pego uns lenços de papel e limpo o rosto dele. E todos me olham estranho quando eu faço isso. Ele abre um sorriso tão fofo mas tão fofo que eu não aguento e sorrio também.

- aonde você vai depois do campeonato?

- pro barracão

Quando ele disse eu automaticemnte cravo as unhas na perna do JP e ele grita, eu não acredito que eu ouvi isso. Uma criança de 8 anos mora em uma viela onde nem tem uma cama e só tem usuários.

- você mora aonde?

- eu fico no barracão ué

Eu acho que meu coração de manteiga se derreteu de uma vez, eu levanto do colo do JP e vou pro banheiro correndo e eu desmorrono. Uma criança de 8 anos não merece passar por isso, meu Deus. Eu lavo meu rosto na pia do banheiro. E quando eu olho pra trás tá um JP me olhando sem entender o que aconteceu, saio correndo e abraço ele.

- tô sem entender oq aconteceu morena, qual foi?

- amor a gente tem que fazer alguma coisa, não da pra deixar aquele menino na rua

- Isabela não inventa, o menor tava bem.. não queira colocar..

- ele tava bem? - interrompo ele - não João Pedro a gente tá bem, você viu aquele menino sorrindo só pq eu comprei um lanche pra ele? A gente como lasanha é várias outras coisas e ele sorriu só por um lanche João Pedro.. tem noção de quanta criança passa fome?

- Isabela..

- JP ele fica no barracão, ali tem milhares de pessoas usando drogas.. Ele é uma criança, você mesmo não proibiu o uso de drogas no pagofunk por causa das crianças? Então, ver aquele menino daquele jeito me partiu o coração

- Isa não inventa não carai..

- EU NÃO ACREDITO NISSO JOÃO PEDRO

Eu saio do banheiro batendo a porta com força e secando as lágrimas. Quando volto pra mesa o Thiago tá fazendo embaixadinha com o LK. O sorriso do menino era outro, eu não podia deixar ele viver nas condições que ele tava. Era errado.

- Thiago - eu chamo ele e ele vem rindo - você conhece alguém lá no barracão?

- não...

- éeeh - digo prevendo a merda que eu me meti - você quer ir lá pra casa?

Nessa hora todo mundo para o que tá fazendo pra prestar atenção no que eu disse. O menino abre um sorriso que com certeza vai valer a pena ouvir xingo da minha mãe.

- a senhora deixa tia? - ele me olhou com os olhos brilhando

- deixo.. hoje você dorme lá e amanhã, a gente arruma outro lugar

A Lice me olha e me puxa pelo braço pra longe do menino.

- você tá ficando loka? Vai levar um menino que você nunca viu pra sua casa? Tudo bem, você compro o lanche pra ele mas levar ele pra sua casa já é demais

- eu vou arrumar um lugar pra ele ficar.. Ele não vai ficar na rua - eu digo - ele não merece passar por isso

Apaixonada Por Um TraficanteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora