Capítulo 9

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Treinamento intensivo...

Blam, esse era o barulho ensurdecedor de duas espadas se chocando, som que naquele momento invadia e tomava todos os pensamentos de Nimbus. Ele vivia pelas e para as regras desse metal, e a espada a esse momento era como se fosse uma extensão do seu próprio corpo, no entanto isso não era o suficiente para o garoto sequer rivalizar Lonios em combate, era uma tarefa impossível e ainda, para complicar, ele agora tinha que responder perguntas difíceis entre um choque e outro de lâminas.

— Quais são os dez mandamentos dos cavaleiros? — Lonios perguntava para seu aprendiz enquanto o atacava sem dó.

— Primeiro, sempre respeitar e defender todos os indefesos — Nimbus respondia, defendendo-se entre um golpe e outro. — Segundo, defender os oprimidos contra a injustiça e o mal.

Fez-se silêncio quando Sãr Lonios segurava sua espada a centímetros do rosto de Nimbus e ele estava vermelho e bastante suado, enquanto Lonios não parecia nem sequer ofegante.

— De novo, você ainda não está com o pensamento tão afiado quanto a sua maestria com a espada — o cavaleiro repetiu pela milésima vez naquele dia.

As espadas se chocaram novamente, como relâmpagos anunciando uma tempestade.

— Quais os dez mandamentos de um cavaleiro? — Lonios novamente avançou contra seu aprendiz.

— Primei...

— Não! Continue a partir do mandamento em que você parou. — O mestre avançou novamente, forçando Nimbus a rolar no chão para escapar de um golpe certeiro.

— Terceiro mandamento, Sempre cumprir sua palavra — o garoto gritou, quando contra-atacou, ainda no chão. — Quarto, jamais recusar um pedido de ajuda. — Dessa vez Lonios o desarmou enquanto Nimbus repetia a frase e praticamente no mesmo movimento já apontava a espada para o seu pescoço. — Quinto mandamento, nunca atacar um oponente indefeso — o garoto recitou e Lonios apenas riu enquanto baixava a espada.

— Outra vez. Você tem que pensar mais rápido, num combate real, você terá de criar estratégias enquanto se defende e ataca. Vamos!

— Sexto mandamento, amar o seu povo — Nimbus recitou, dessa vez ele avançando contra seu mestre, mas cada vez mais vermelho e ofegante. — Sétimo, buscar a perfeição física, mental e espiritual — recitou enquanto defendia outro ataque de seu mestre, que terminava em um giro. — Oitavo, nunca roubar, trapacear, mentir ou desobedecer as leis. — Ele fez uma pausa e disse, ofegante, em um tom de ironia enquanto contra-atacava: — Não é mesmo, mestre?

Lonios executou uma finta e fez o menino cair no chão enquanto apontava a espada para o seu rosto e o fitava, visivelmente furioso.

— Não fale sobre o que não tem conhecimento menino, a sorte não tem sorrido para mim ultimamente. — Ele baixou a arma — Se levante. De novo, em posição.

Lonios circulou inquieto pelo local em que treinavam há algumas horas, praticamente não havia mais grama, ela tinha sido arrancada pelos giros, rolagens e golpes no chão, formando um círculo quase perfeito de terra e barro, dessa vez o cavaleiro correu em direção ao garoto e atacou sem piedade.

— Nono, ser Justo e Valente na guerra e Leal na paz — Nimbus recitou quase sem fôlego enquanto defendia o golpe que quase o levantou do chão.

Lonios executou outra finta, fazendo o menino imaginar que ele iria atacar em um lado e depois atacou em outro, por fim o garoto perdeu o equilíbrio e pela última vez o cavaleiro parou sua espada a centímetros da testa do menino.

— CHEGA... Chega mestre, não aguento mais, vamos parar por hoje, desse jeito eu acho que nunca vou conseguir te derrotar, cada vez o senhor me surpreende de forma diferente. — Agora Nimbus estava com as mãos apoiadas nos joelhos e ofegando muito.

— Décimo mandamento, nunca demonstrar fraqueza, um cavaleiro deve ser a fonte que irá inspirar os exércitos, que irá encorajar os seus subordinados. — Lonios baixou a espada.

— Ultimamente você vem ficando cada vez mais ousado, isso é bom porque você precisa superar essa sua timidez e falta de confiança. Mas mesmo eu lhe dando certas liberdades, eu não lhe permiti que me julgue assim, se eu tenho dívidas e me envolvo com agiotas isso é um problema meu. Apenas se foque em aprender tudo o que eu estou lhe ensinando.

— Mestre o que o senhor quer que eu pense? — Nimbus falou quase gritando. — Você não fala nada! Há semanas estamos viajando fora da estrada principal, e semana passada fugimos de agiotas, feito ladrões. O senhor me faz pensar que eu estou sendo treinado por um criminoso enquanto minha mãe está lá sozinha, talvez sem o seu remédio. O que ela iria pensar de mim se soubesse o que andamos fazendo?

— Garoto eu entendo você, mas se eu me envolvi ou me envolvo em jogos de azar, quero que você saiba que eu não estou quebrando o meu código com isso. Mas mesmo assim eu me arrependo de coisas do meu passado, e escapar desses agiotas é minha penitência. Ninguém é perfeito, todas as pessoas têm os seus defeitos e devemos aprender a conviver com eles. Um dia você entenderá isso, o caminho que você tem a percorrer será longo e árduo, e você terá que ser forte para suportar tudo que ainda irá enfrentar.

Nimbus apenas ficou quieto de cabeça baixa, refletindo sobre o que seu mestre havia falado.

— Mas não fique triste, você já está se desenvolvendo, não notou? Cada vez que eu uso uma manobra contra você, não consigo usá-la novamente pois você já a decorou, você está se desenvolvendo com maestria Nimbus, logo não terei mais manobras para te ensinar e lutaremos de igual para igual, explorando os erros um do outro — O cavaleiro guardou sua espada e abraçou Nimbus, que tentou se desvencilhar do afeto de seu mestre como nunca havia feito. Isso fez Lonios se afastar.

— Eu ainda não sou tão bom assim, o senhor me derrota com tanta tranquilidade.

— Isso é porque eu treino desde os seis anos de idade, a experiência me deu a sensibilidade de saber o que cada homem vai fazer no momento em que ele levanta a sua espada para desferir o golpe, é como e fosse algo instintivo, um micro movimento do pulso do oponente ou um leve ângulo na posição da espada já é o suficiente para eu saber como inimigo vai se comportar, você também vai desenvolver isso com o tempo, somente continue avançando. — O cavaleiro parou. Não olhava para Nimbus, apenas para o horizonte.

Novamente o garoto ficou em silêncio. Mas Nimbus ainda não estava convencido sobre o passado misterioso do seu mestre e agora ele havia comentado sobre a sua infância, ele nunca havia feito isso, então o garoto começou a juntar as peças no seu pensamento e descobriu que se seu mestre treinava desde criança, ele nunca poderia ter sido treinado por outro cavaleiro andarilho, mas sim por um em um castelo, ele até poderia ser um nobre, porque ele escondia o seu passado?


Nimbus e os Cavaleiros de CenferumWhere stories live. Discover now