Capítulo 3

273 32 22
                                    

O Cavalheiro andarilho...

No caminho enquanto as vielas se tornavam cada vez mais estreitas, ele refletiu. Lembrou sobre o ocorrido naquele dia, "e se as outras naves não voltassem? Levariam meses ou até anos para construírem outras, e tão logo não aconteceria outra expedição", isso era preocupante, talvez ele não pudesse se tornar um tripulante dessas naves tão cedo como havia planejado.

Perdido em seus pensamentos, Nimbus chegou a uma casa grande, com paredes de pedras caiadas de um branco desbotado pelo tempo, imponente e velha. Suas janelas estavam com a madeira podre em algumas partes e várias reformas improvisadas tinham sido feitas, inclusive por ele mesmo, suas paredes estavam com as rochas cheias de rachaduras, onde insetos se alojavam. Enfim, a casa apesar de ser grande, forte e bem construída, estava caindo aos pedaços devido à falta de manutenção, afinal Dona Zeliudes era muito pobre e tinha que gastar grande parte do seu ordenado em remédios caríssimos. Mas, apesar disso, ela se virava bem com o dinheiro extra que arrecadava tricotando e, mesmo assim nunca forçou Nimbus a trabalhar, mesmo quando ele havia insistido várias vezes sobre isso, segundo ela, ele devia estudar e se tornar um Doutor e agora ele havia recusado essa oportunidade.

Ao entrar na sala, ele viu que a Dona Zeliudes estava conversando com um homem de feições duras, cabelo até os ombros e uma barba cerrada, que escondia todo o seu rosto. Da sua cabeça e barba se sobressaiam muitos fios brancos revelando que o homem já tinha certa idade, mas apesar disso, não era tão idoso quanto Dona Zeliudes, que era uma anciã de idade muito avançada com grande dificuldade até mesmo para caminhar. Outra coisa lhe chamou a atenção, o homem tinha uma grande cicatriz no rosto que vinha desde a testa, saltando sobre o olho chegando até a metade da bochecha, usava uma calça de couro e uma camisa de seda branca, em cima de tudo isso vestia um sobretudo vermelho de couro pesado, a peça estava surrada e dava para notar vários cortes toscamente costurados, entretanto o que mais chamou a atenção do garoto foi que o homem carregava não só uma, mas duas espadas presas na cintura, lado a lado, no cinto de couro largo, uma estava completamente enfaixada e outra mostrava que tinha um cabo de madeira gasto pelo uso, ele também não era muito alto, assim como Nimbus, mas bem mais pesado e musculoso do que se esperaria de homem normal de Cenferum. A julgar pelo seu rosto, sua idade beirava os cinquenta, mas seu porte físico era de um homem bem mais jovem.

— É esse aí? — perguntou o homem.

— É sim — Dona Zeliudes respondeu.

— Não é o que eu imaginava – falou novamente — Ele é baixo pra idade e um pouco obeso também.

— Mas é muito inteligente e o que lhe falta de tamanho lhe sobra em engenhosidade, só deus sabe quantos problemas ele me causou com essas ideias malucas que sempre tem — rebateu dona Zeliudes.

— Posso apostar que ele não é muito rápido também. — O homem o mediu de cima a baixo. — Mas tudo bem! Vai ter que servir. — Ele tirou do bolso do casaco um pequeno saco com moedas, sacudiu algumas vezes o saquinho na mão para sentir o peso e o entregou a Dona Zeliudes.

"Ela está me vendendo? Não é possível! Será que eu sou um filho tão mau assim?" ele pensou.

Quando pensou em virar as costas e fugir, notou que era tarde demais, o homem já estava caminhando na sua direção. Quando se aproximou ele chegou bem perto, segurou o seu queixo e examinou dentro da sua boca, depois olhou para um olho de Nimbus de cada vez. Deu umas batidas nos seus ombros e braços.

— Você ainda tem todos os dentes dentro da boca, isso é bom, também não é só gordura que tem nesses ossos, você até que é bem forte para a idade e esses seus olhos castanho avermelhados, parece que você descende do continente da capital do império, Victórius. Esse seu parente não é distante, mas você também não é puro-sangue. Talvez seu pai ou sua mãe sejam de lá. Mas não se anime, averiguando pela história que sua tutora me contou, muito provavelmente sua mãe seja uma prostituta estrangeira vivendo por aqui, existem muitas nos bordéis daqui.

Nimbus e os Cavaleiros de CenferumWhere stories live. Discover now