Capítulo 4

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O início da jornada...

Uma imensidão de verde e pequenos bosques, essa era a única definição que Nimbus conseguia dar a respeito da paisagem à beira da estrada de terra estreita em que estavam viajando havia alguns dias. Um deserto sem uma viva alma, a não ser um humilde mercador que, ao cruzar com eles na estrada, os cumprimentou com um aceno de cabeça e nada mais. Eles estariam sozinhos, se não fosse o som das folhas das árvores se agitando com o vento, do cheiro de flores desabrochando, da terra molhada na beira dos riachos e dos inúmeros animais que não se preocupavam com a presença humana.

Eles viajavam preguiçosamente a cavalo, com Lonios montado na sua égua adestrada para a guerra, Tempestade, e Nimbus no cavalo de carga Pretinho, animais dóceis, apesar de Pretinho ser um pouco teimoso talvez por não estar habituado a ser usado como montaria, ambos belíssimos animais.

Depois dessa semana de viagem e de tímidas conversas com seu mestre, Nimbus já estava começando a se habituar com o trotar do animal, cavalgar de seis a oito horas por dia não era fácil, principalmente para um iniciante, eles ocasionalmente paravam para descansar, comer a carne seca durante as refeições e pescar quando o seu gosto e textura de couro enjoava, isso quando nenhum coelho ingênuo o suficiente os permitia se aproximar demais e Lonios o alvejava com uma flechada.

A dor nos primeiros dias era insuportável, tantas horas no lombo de um cavalo sem estar acostumado era muito cansativo, causava feridas no seu traseiro. Em contrapartida, quando o garoto demonstrava que estava sentindo dores, Sãr Lonios apenas dava altas risadas e, com o passar do tempo, Nimbus começou a levar na esportiva e gargalhar também. E sempre que estavam em silêncio, como naquele momento, Nimbus relembrava o momento da sua partida.

Horas antes dele sair de Aldair, dona Zeliudes desabou em lágrimas e Nimbus ficou com o coração na mão ao ter de abandoná-la, mas esse era o seu destino, o seu sonho e ele estava se realizando, apenas isso bastava, isso e o bem-estar daquela senhora que lhe havia ensinado a ser o que ele era hoje, e principalmente o deixado seguir esse caminho.

Despedidas sempre são difíceis e aquela era a mais difícil de toda a sua vida, abandonar sua casa e sua mãe era complicado, mas sair da cidade onde viveu desde que se lembrava, era ainda mais complicado, o máximo que ele havia se afastado de lá era para ir até o porto e ainda junto às multidões que aguardavam os Viajantes do Éter, jamais sozinho e muito menos com um estranho que acabara de conhecer.

— Eu lembro quando você era um bebezinho e a sua mãe te colocou nos meus braços, tão pequenino e indefeso. — Dona Zeliudes chorava copiosamente apoiada na sua bengala e agarrada ao menino.

— Mãe, eu lembro um pouco desse dia, mas algo bem vago, acho que é a minha lembrança mais antiga — Nimbus estava sem saber como se portar, e segurando o choro, não queria parecer fraco perante seu novo mestre, mas não estava sendo bem-sucedido, uma lágrima teimava em escorrer do seu olho, "talvez o senhor Lonios pense que seja um cisco", pensou enquanto disfarçava e enxugava o olho.

— Boa memória — o cavaleiro comentou um pouco surpreso por o garoto se lembrar desse fato de quando era tão pequeno.

— Meu filho é um gênio, eu falei para o senhor.

— Isso nós veremos, dona Zelides, veremos. — O cavaleiro observou o menino e sorriu lhe passando a mão pela cabeça. — E não precisa fazer toda essa manobra eu sei que você está chorando, vá lá.

Nimbus não suportou e se juntou à idosa chorando copiosamente, no entanto após alguns minutos de recomendações por parte da senhora e do menino apenas concordando, o cavaleiro voltou a se manifestar.

— Está na hora de irmos, a estrada é longa e preciso chegar até a capital o mais rápido possível.

A ex-tenente Zeliudes terminou de atulhar o menino de recomendações e olhou profundamente para o cavaleiro.

— Se eu souber que você destratou o meu menino sem uma causa justa ou que você não está cumprindo o prometido, você vai se ver comigo, entendeu? — Ela beijou o menino na testa. — E se você deixar ele sofrer qualquer mal, eu juro que o persigo até o inferno se for preciso e então você vai se arrepender de não ter sofrido junto com ele.

Lonios não falou nada apenas confirmou com um gesto e montou em Tempestade, Nimbus seguindo o seu exemplo, mas bem desajeitadamente, pois montar ainda era algo novo para ele, afinal cavalos eram muito caros, dignos apenas dos ricos membros do alto escalão do governo. Enquanto eles cavalgavam se afastando da cidade, o garoto periodicamente olhava para trás observando sua mãe velha e chorosa na frente da casa antiga, primeiro a fachada da velha casa foi se distanciando da sua visão, depois as vielas foram aumentando até se tornarem largas avenidas e a favela também foi dando lugar a palacetes luxuosos, e então as muralhas da cidade se afastaram e por fim somente estradas eram a visão que o garotinho tinha quando olhava para trás, então ele falou para si mesmo.

— Da próxima vez que eu te ver Mãe, eu serei um Cavaleiro. Eu juro!

* * *


Nimbus e os Cavaleiros de CenferumWhere stories live. Discover now