Prólogo (Parte Final)

663 60 68
                                    

"Em Cenferum é assim, o nevoeiro vem acompanhado da morte, então tome cuidado quando se encontrar em um"

Ditado Popular 

Alguns segundos depois, da escuridão da neblina, um estrondo muito forte, como se uma montanha estivesse se abrindo ao meio, quase estourou os seus tímpanos e, furando a densa bruma, um pedaço enorme de pedra caiu do céu sobre um dos casebres ali ao lado, "pelo amor de Deus, que a casa estivesse vazia", o soldado pensou e, pelo formato da pedra, o guarda sabia a sua origem, era uma parte da muralha que protegia a cidade, muito provavelmente a criatura agora se encontrava dentro da cidade. Um segundo de silêncio se passou e, de repente, um tentáculo espinhoso, quase da altura de uma casa, caiu, rasgando a neblina e a escuridão, ficando ali atrás deles, atravessado no meio da rua. Suas proporções eram tamanhas que era impossível saber onde ele começava e onde terminava, parecia apenas um pedaço de carne pulsante semitransparente como gelatina, que agitava os espinhos que cobriam toda a sua extensão à medida que se movimentava pelos destroços da casa.

— Deus nos ajude — Hereni exclamou em um tom de desesperança.

O tentáculo do monstro se ergueu lentamente, espinhos de mais de um metro de comprimento e da largura de um galho de árvore brotavam da parte de baixo do membro para, segundos depois, desaparecer novamente nas brumas tão repentinamente quanto apareceu.

Aproveitando a oportunidade, várias pessoas saíram dos seus esconderijos e começaram a correr pela rua em meio à cerrada neblina, eles nem sequer olhavam para a senhora idosa e o soldado que estavam parados perplexos diante da cena, infelizmente nesses momentos de desespero os jovens esquecem os seus velhos, pensou o soldado. Por último, um casal surgiu de dentro da névoa corrosiva à sua frente, apesar de ali o éter estar mais forte, eles não aparentavam estar feridos nem com a pele avermelhada e muito menos com as roupas queimadas ou rasgadas pelo gás mortal. O soldado notou que ambos estavam envoltos em capas, assim como a que Dona Zeliudes usava, certamente confeccionadas de pele de monstros do éter abatidos, peças extremamente raras e caras, usadas especialmente por quem se aventura em expedições além da beirada. Quando se aproximaram, para a surpresa de ambos, a moça carregava sob a capa um bebê nos braços. Ao avistarem a dupla parada no meio da confusão eles tentaram puxar dona Zeliudes e o soldado, entretanto sem sucesso, porque a senhora idosa se livrava tão rapidamente quanto a seguravam.

— Vamos! Não podem ficar aqui, o monstro do éter está castigando a muralha, logo vai rompê-la totalmente.

Instantes depois, das profundezas da neblina, gritos apavorados ecoaram do lugar de onde o casal havia vindo e, logo após, estrondos como se algo grande e pesado estivesse sido destruído e arremessado, era como se as casas humildes do local estivessem sendo esmagadas, e sem aviso nenhum, outra pedra enorme caiu sobre a casa ao lado da senhora idosa, era outro pedaço da muralha, dessa vez ainda maior do que o anterior.

— A muralha deve ter caído, olha o tamanho dessa pedra — Hereni disse, assustado.

— Ainda tem muita gente lá. Não posso deixar esse monstro entrar na cidade, não agora. — O homem olhou para a moça.

— Você não vai voltar pra lá — a moça ralhou, chorando.

— Não se preocupe, você sabe que eu posso resolver isso. — O homem sacou uma espada que trazia sob a capa de couro, Hereni não sabia se era uma ilusão causada pela neblina, mas a lâmina parecia estranhamente avermelhada sob a luz do luar. — Vocês vão ficar bem, aqui o éter está menos intenso. Tenho que ajudar essas pessoas, você sabe que eu sou o único capaz. — O homem olhou fundo nos olhos da moça enquanto colocava uma das mãos sobre o seu rosto.

Nimbus e os Cavaleiros de CenferumWhere stories live. Discover now