the story❁

95 13 10
                                    

06 de setembro de 2013

11:30AM

Havia uma sala, uma sala repleta de crianças felizes e agitadas, uma sala onde apenas uma criança queria que todos parassem, parassem de serem felizes.

- Ei. - Chamou um pequeno menino de dentes tortos e cabelo amarelado de apenas 12 anos. - Você quer brincar?

Ele ignorou o chamado do menino e voltou a escrever coisas em sua carteira escolar.

- Ele é estranho. - Escutou uma menininha sussurrar atrás de si. - Ele nunca fala nada, será que é mudo?

- Não, ele era órfão. - Outra menina respondeu.

- Minha mãe me contou que no Dia das Mães desse ano ela viu dois homens de mãos dadas olhando os cartões que ele fez como se fossem pra eles. - Murmurou outro.

- E foram pra eles, seus idiotas. - Disse um menino de cabelos negros e olhos claros em alto e bom som. - Ele é criado por aquelas abominações humanas.

Abominações humanas. Abominações humanas. Abominações humanas. Abominações humanas. Abominações humanas. ABOMINAÇÕES HUMANAS.

Era assim que chamavam seus pais. Todos os dias. Todas as aulas. Por todos os momentos que passavam naquela escola.

- Professora, posso ir ao banheiro? - Ele perguntou se levantando da carteira e logo saindo de sala com o consentimento da mulher.

As lágrimas escorriam tão rápidas pelas suas bochechas e se encontravam tão depressa com o chão que foi quase impossível de impedir.

Ele encostou suas magras costas na parede gélida do corredor frio e vazio de sua escola, e se permitiu escorregar pela mesma enquanto o soluço e as lágrimas tomavam conta de si.

Eu me odeio. Eu os odeio. Eles me odeiam. Nós nos odiamos. E sempre iremos nos odiar. - Ele repetia em sua própria cabeça, e o pior de tudo, era tudo a mais simples e cruel verdade.

Vários alunos passavam por ele naquele corredor, alguns mais velhos, outros mais novos, mas todos, todos ignoravam a tristeza dele. Um funcionário até chegou a chamar a sua atenção mas um grito alto e rouco foi tirado de sua garganta assustando até mesmo quem estava em suas salas de aula.

Ele chorava, e pedia a Deus que nenhuma maldade ou trauma entrasse em sua mente. Ele sabia que a culpa não era de seus pais, eles só querem vê-lo feliz, mas mesmo assim ele recusava todo tipo de pedido que envolvesse conhecer mais pessoas da família, recusava ir em festas da família, jantares, qualquer coisa, naquela família ele conhecia apenas seus pais. Que aliás são ótimos pais, o tiraram daquela pobreza de orfanato e lhe deram lar, amor, estudo, proteção, paz, felicidade e acolhimento.

Ele sabe que estaria sendo ingrato se acusasse os pais pela opção sexual deles e o bullying. Ele só não queria ser igual a eles, ele com certeza não queria ser igual aquelas crianças desprezíveis, ele queria acabar com a felicidade de todas elas, pouco a pouco, ele queria que todos sentissem o que ele estava sentindo.

- Eu amo meus pais e não vou voltar pra aquele orfanato. Eu não vou voltar pra aquele orfanato. Eu não vou volta. Não vou. Não vou. - Ele repetia enquanto abraçava os próprios joelhos e sentia seus olhos arderem de tanto chorar.

Solidão.

Essa com certeza é a palavra que define a vida dele por inteira, 13 anos de vida sentindo a solidão corroendo pouco a pouco seu coração e sua pouca felicidade. As lágrimas que caiam cada vez mais comprovam que aquele corpo em crescimento não acolhia nem uma gota de felicidade.

- Por favor, pare. - Disse uma menininha diferente das outras crianças que ele normalmente costumava ver em sua escola. Uma linda menina de olhos tão escuros quanto o céu estrelado a noite, e com os cabelos tão negros que pareciam serem de mentira. Ela era a menina mais bonita que ele já havia visto. - Eu não gosto de ver as pessoas chorarem.

Por mais que a menina tivesse apenas 12 anos de idade, um ano mais nova que ele, ela possuía uma maturidade inacreditável para alguém da sua idade.

- Quem é você e o que quer aqui? - Ele perguntou enquanto limpava as lágrimas com a manga do moletom.

- Eu só quero que você pare de se torturar por aquelas crianças completamente ignorantes e insignificantes. - Respondeu segurando suas mãos.

- Eles me odeiam. Todos me odeiam.

- Eu não te odeio. - Ela respondeu, segundos depois o surpreendeu com um abraço apertado que alguns segundos depois foi retribuído na mesma intensidade. - E nunca vou te odiar.

- Promete?

- O que é uma promessa para você? - Perguntou ela.

- É quando você não pode quebrar algo que jurou cumprir. Nunca. - Ele respondeu torcendo para que a garota não zombasse do sentimentalismo dele.

- E significa muito para você?

- Infelizmente sim.

- Por que infelizmente? - Ela perguntou se levantando do chão e ajudando ele.

- Porque promessas são as únicas coisas que eu posso acreditar.

Minutos se passaram e ela o olhava e o tocava com medo de que fosse quebrar como um simples jarro.

- Eu prometo, nunca te odiar e nunca deixar que te façam mau. - Pronunciou ela.

- Eu prometo, nunca te odiar e nunca deixar que te façam mau. - Repetiu ele.

Logo depois dessas palavras, que por mais que sejam pronunciadas por crianças, tinham um grande peso, eles ficaram se olhando como se dependessem disso. Ele sabia o que estava acontecendo.

- Vem, vou te apresentar para o meu namorado. - Disse ela alegre o puxando pelo corredor vazio.

- Você tem namorado? - Perguntou ele um pouco, obviamente muito, desapontado.

- Bem, ele não sabe ainda que namoramos mas logo logo Alex saberá e formaremos um lindo casal. - Respondeu ela alegre provavelmente os imaginando com filhos, em uma casa grande e vários cachorros. Pensamentos de crianças. - Vocês poderiam ser amigos.

- Amigos? Ah claro, eu com certeza serei amigo dele. - Respondeu ele enquanto se permitia ser puxado por ela pelo corredor, com um vazio em seu pequeno coração infantil.

E foi aí que tudo começou, em um amor de infância não correspondido que foi ignorado a vida toda.

[...]

Tenho que admitir, esse é o meu capítulo da fanfic inteira.

ѕe vocêѕ não voтareм e coмenтareм vaι rolar тιro, ѕó avιѕo.

Et❁ 

Memories ❆GilinskyWhere stories live. Discover now