Uma tentativa

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Quando elas chegaram em casa, Manuela estava acabada, quase se sentou no jardim e dormiu. Alice também estava cansada.
[Alice] – Neném... – Disse enquanto tirava o salto de Manuela, que estava deitada na cama.
[Manuela] – Oi amor.
[Alice] – Pode parecer meio besta, mas te comprei alguns presentes.
[Manuela] – Vindo de você? Besta?
[Alice] – Pode ter certeza! Mas você vai gostar.
[Manuela] – Convencida! – sorriu – ME DÁAAAAAAA!
Alice abriu o guarda roupas e pegou uma caixa.
[Alice] – Como é o seu 23º aniversário... Você ganhou as 23 temporadas dos The Simpsons!

Manuela não conseguia parar de rir, não sabia qual reação ter. Rio até perder o ar. Alice cruzou os braços e esperou o ataque da namorada acabar.
[Alice] – Pronto?
[Manuela] – Sim. – Disse ofegante.
[Alice] – Também não vou dar o outro.
[Manuela] – Own amor, eu gostei dos presentes! – Manuela se levantou e a abraçou.
[Alice] – Abre a caixa.
[Manuela] – Quer assistir?
[Alice] – Uhum... – disse olhando para a caixa vermelha, cheia de corações.
Manuela abriu a tampa, havia uma caixinha, além dos dvds.
[Manuela] – Mais coisa?
[Alice] – Uhum.
[Manuela] – Sério? – Disse em estado de choque, olhando o que havia dentro da caixinha – É serio mesmo? Sério, sério, sério??? – Disse sorrindo estonteante, empolgada.
[Alice] – É só uma lembrancinha... – Disse brincando.
[Manuela] – Ai Meu Deus, você me deu um carro? É serio mesmo?
[Alice] – Não era o que você queria? Todo seu, lá na garagem.
[Manuela] – AI MEU DEUUUSS!! – Pulou na cama duas vezes e saiu correndo, puxando Alice pelo braço.
[Alice] – Calma amor, o carro não vai sair de lá. – Disse, enquanto corria junto.
[Manuela] – É meu, é Meu! Nossa! É tão meu... – Abraçou o carro.
[Alice] – Acho que você mereceu, depois de fazer duas vezes as aulas do CFC.
[Manuela] – AAAH! –Sorriu – Obrigada! – Abraçou Alice por longos minutos, depois a beijou... beijo quente, cheio de amor e desejo, praticamente saia faísca entre elas.
Alice abriu a porta do carro, e fez sinal para Manuela entrar.
[Alice] – Senhorita...
Manuela entrou.
[Manuela] – Ai Meu Deus! Tem até dvd! GENTE, que lindo... acho que vou dormir aqui hoje!
[Alice] – QUE? – Disse Alice realmente assustada.
[Manuela] – Ah amor, deixa?
[Alice] – Ah pronto, perdi minha namorada para um carro.
[Manuela] – Ah, só hoje?
Alice virou de costas e começou a andar em direção a casa novamente. Manuela checava cada milímetro do veículo, e mal percebei a ausência de Alice.
[Manuela] – Amo... Alice? AÁALIII???
Alice havia tomado banho, estava procurando seu pijama e logo dormir.
[Manuela] – Ô mô, por que você saiu de lá?
[Alice] – Ah, resolveu voltar pra casa?
[Manuela] – Uuuuhn, ta cheirosa. – Passou a mão sobre as costas de Alice.
[Alice] – É, eu estou e você não, então não encosta.
[Manuela] – Alice! O que te deu, Menina???
[Alice] – Nada Manuela, estou ótima!
[Manuela] – Nossa senhora! Que grosseria! O que eu fiz? Tudo isso, só por que eu disse que ia dormir no carro?
Alice, parou de procurar o pijama, se enrolou na toalha, cruzou os braços e ficou encarando Manuela.
[Manuela] – Oh amor, era brincadeira! Eu nunca trocaria uma noite com você, pra dormir toda torta, num carro.
[Alice] – Chata! – Disse emburrada.
Manuela sorriu. Alice deu um tapinha no braço dela. Manuela a abraçou.
[Alice] – Te amo, sua insuportável!
[Manuela] – Vou te enrolar com plástico bolha, você ta muito sensível hoje.
Alice sorriu e a beijou.

O dia nasceu, sem que Manuela percebesse. Alice havia preparado o café dela e colocado ao lado da cabeceira e foi para a gravadora, enquanto Manu dormia ainda.
Uma cantora de cabaré, queria lançar seu C.D. de covers e a filha dela estava tentando formar uma banda. Alice as recebeu e até simpatizou com a menina.
Depois de ouvir e gostar da voz da cantora, achou que isso poderia dar certo. A filha dela, se chamava Jéssica. Alice ficou pensativa, e logo passou um flash em sua memória.
" [Jessica] – Ui, gata selvagem! Qual seu nome?
[Alice] – Pra que você quer saber?
[Jessica] – Você só sabe fazer perguntas?
[Alice] – E você só sabe ser inconveniente?
[Jessica] – Não quer que eu te faça companhia?
[Alice] – Faz o que quiser, eu vou ver o show."

[Alice] – Você...
A loira sorriu, talvez envergonhada ou apenas confirmando que realmente o "você" era ela. Alice nada fez sobre o ocorrido, talvez tenha tentado esquecer. Ela estava lá por motivos profissionais e não emocionais, afetivos ou afins.
Manuela acordou, procurou Alice na cama como sempre fazia, mas não achou, obviamente. Pegou o celular automaticamente.

[Alice] – Oi Manu.
[Manuela] – Onde você pensa que está, dona Alice Bauer Hernandez Boa morte?!
[Alice] – Manuela Lambertine Costa de Souza d'Avila, estou na gravadora, onde mais?
[Manuela] – Por que não me acordou?
[Alice] – Vem cá. Tem gente querendo te ver. – Alice olhou para Jéssica – Deixa, eu passou ai depois.
Mas a desconversa de Alice apenas instigou a curiosidade de Manuela.
[Manuela] – Não, eu vou ai agora, Alias... não exatamente agora. Combinei de almoçar com a Lisbella. – Mentiu.
[Alice]- Ah, então ta bom.
Manuela sentiu um alívio na voz de Alice, que não gostou. Desligou o celular, tomou banho, se maquiou um pouco, coisa que não fazia normalmente, pegou uma blusa " Mais colada impossível", uma saia até o joelho e um salto que combinava com a roupa, mas não com a ocasião. Enquanto isso Alice e o produtor ouvia Jéssica acompanhar uma música na bateria. Depois que ela terminou de tocar, eles chamaram ela numa sala e lá ficaram conversando sobre várias coisas.
Davi se levantou e foi pegar café para eles. Manuela estacionou seu carro novo, calçou o salto e pegou o elevador. Alice ficou encarando a menina, que aparentemente tinha a mesma idade dela. Jessica leu um sms que não gostou, ficou triste. Alice percebeu e segurou nas mãos dela em cumplicidade ao momento. Imaginavam que estavam sozinhas. Alice olhou para o lado, viu Manuela virar de costas e trombar com Davi que levava os cafés, depois saiu correndo atrás dela.

[Alice] – Manu! Espera! – Disse Alice sem entender o que havia acontecido.
Manu entrou no escritório de Alice e lá ficou de braços cruzados até Alice a encontrar.
[Alice] – Oh amor, o que foi aquilo?
[Manuela] – Não me chama de amor! De novo ela? QUEM É ELA AFINAL???
[Alice] – Oh Neném, foi só conhecidencia. Eu não conheço ela.
[Manuela] – Então também foi conhecidencia eu aparecer na porta e você estar quase se agarrando com ela? Se vai me trair, faça num lugar onde eu não possa ver, dói menos!
Manuela respirava forte e balançava a perna esquerda, sem parar. Alice ofereceu a ela seu melhor sorriso. Encostou a mão no rosto dela, mas Manuela se esquivava. Alice fez de novo e de novo, até Manuela não ter mais pra onde andar. Encostada entre duas paredes, Alice a olhou profundamente e disse:
[Alice] – Eu não tenho motivos e nem um caráter duvidoso para fazer isso. – Disse calma – Eu tenho mais do que eu preciso com você, mais do que eu poderia querer. – Começou a dizer lentamente – Por favor, não desconfie de mim. Meu coração é absolutamente seu, tão seu que ele salta de dentro de mim quando eu te vejo, e não duvido que dê para ouvi-lo da esquina. Te amo muito. Tanto.

O problema é que mais uma vez elas não estavam sozinhas. Um repórter, que ia fazer uma entrevista com Alice, filmava tudo e reproduzia via internet.
Elas estavam se abraçando, até que Alice olhou para a porta e o viu. Num reflexo, soltou Manuela que talvez olhou para a porta. O repórter ficou sem reação por alguns segundos. Alice tomou frente.
[Alice] – O que você fez?
[Repórter] – Reproduzi ao vivo essa linda cena. – Disse orgulhoso do feito.
[Manuela] – Ta satisfeito já?
[Repórter] – Não.
Manuela jogou o cabelo para trás, adorou de novo seu sorriso irônico e foi até a porta. Os celulares de Alice e Manuela não paravam de tocar. Desligaram-nos.
[Manuela] – Prepare-se para ser promovido.
Alice franziu o cenho.
[Alice] – Manu... o que...
[Manuela] – Não tem outro jeito. Somos adultas, né?! Vamos assumir isso logo publicamente. Tudo bem? – Virou-se para o repórter - Espera, eu quero ver o que você gravou.- Pegou a câmera e apertou play.
O áudio estava incrivelmente bom.
[Manuela] – Eu quero uma cópia. – Sorriu sarcasticamente.
O repórter pegou a câmera e começou a entrevista.

[Repórter] – Há quanto tempo vocês namoram?
[Manuela] – Uns cinco meses. Bom, na ultima vez.
[Alice] – É, a gente ainda não terminou. De novo.
Sorriram.
[Repórter] – Como seus pais reagiram, quando ficaram sabendo?
[Manuela] – A entrevista é sobre mim, não sobre eles. Mantenha o foco.
[Repórter] – Seus pais não sabem então?
[Manuela] – Sabem. – Se limitou a dizer.
[Repórter] – Como vocês se conheceram?
A conversa fluiu amigavelmente, no dia seguinte estava estampada em 3 revistas e em dois jornais. Como o repórter não era "bobo", faltava apenas uma semana para acabar o contrato dele numa empresa e sabia que aquela entrevista ia valer muito, muito dinheiro. Ele editou o vídeo, cortou em várias partes e vendeu cada uma, para uma mídia diferente.

Amantes sem fingimento - LGBTWhere stories live. Discover now