Capítulo XXIII - Epílogo

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Ele arfou pesadamente quando dobrou à esquerda. À sua frente havia um lance de escada, mármore manchado em tons lustrados, e ele hesitou em subir – como hesitaria em pular de um abismo forrado com pedras afiadas. Apoiou uma mão na parede clara, pensando em dar uns segundos a si mesmo para respirar. Afinal, estava correndo há horas— bem, talvez estivesse exagerando – e precisava parar em algum momento. Mas quando ouviu passos nos patamares acima, recomeçou a correr. Seu coração batia rapidamente e seus músculos trabalharam para subir os degraus, usando apenas o peito do pé para não fazer nenhum barulho, mesmo que o solado da bota apenas sussurrasse contra o chão. Assim que avistou um relance prateado esconder-se rapidamente para trás de uma coluna, ele parou. Dobrou o tronco e colocou as mãos nos joelhos. Fingindo-se mais cansado do que realmente estava, respirou fundo e cambaleou de propósito para perto do material frio que encobria a coluna. Apoiou-se penosamente na pedra e esperou.

Esperou, esperou e esperou. Até que...

— Há! – Com um movimento ágil ele girou em torno de si, contornando rapidamente a coluna para agarrar uma pequena criatura que tentava fugir sorrateiramente.

— Ah! – Ela riu e debateu-se, agitando as saias até perceber que havia sido definitivamente capturada. Só aceitou a derrota quando ele a levantou e acomodou-a firmemente nos braços. – Assim não vale papai. Eu pensei que você estivesse cansado. – A menina amuou o rosto, com o lábio inferior levemente projetado para frente e as sobrancelhas franzidas. Ele sorriu e beijou-a na curva de seu pescoço que parecia cheirar a algodão macio. A barba curta e espetada provocou cócegas na menina, fazendo-a gargalhar. Rhaenya passou os bracinhos ao redor de seu pescoço e olhou-o com as íris cinzentas – a única parte sua na filha. Seu sorriso doce reluziu aos raios de sol, da mesma forma que seus cabelos.

— Vamos de novo? – Ela pediu, beijando-lhe a face em uma artimanha que quase acabava com todas as suas ressalvas. Jon prendeu um suspiro. Correr a Fortaleza inteira pela sétima vez?

— Por que não vamos perguntar a sua mãe se ela não quer brincar também?

A menina pensou por sábios três segundos. – Não. – Ela abanou a cabeça prateada repetidas vezes, com toda a certeza de seus três anos. – Mamãe vai dizer que não tem tempo. E depois vai dizer que você tem que ficar com ela. Não, não.

Jon não pode deixar de sorrir tristemente pela resposta da filha. Era verdade que Daenerys estava na maior parte do tempo ocupada com o governo; as maçantes reuniões do conselho, as intermináveis audiências e os pedidos da corte sempre engoliam suas horas. Era cansativo, mas ele via que ela se encaixava ali, havia realmente nascido para ser rainha. Ao contrário dele, que era capaz de subornar Tyrion para que ele ocupasse seu lugar no Trono, quando eram seus dias de sentar nas espadas de Aegon. A filha nesses poucos anos já demonstrava a mesma aversão do pai ao governo. Isso é bom, não a quero brigando com Eddarys por uma coroa estúpida.

O menino era mais interessado a isso, ou tão interessado quanto um garoto com seis dias de seu nome podia ser. Dragões – era o que ele realmente gostava.

— E por que não chamamos seu irmão? – Ele arriscou, mentalmente rezando para funcionar. – Poderíamos brincar de voar com ele. – Voar era metafórico. Consistia em levantar os filhos o mais alto que podia enquanto eles fingiam se aventurar sobre Drogon, Rhaegal ou Viserion. Isso sempre terminava com seus braços mais pesados que marfins de elefantes e ele quase não conseguia erguer a espada nos treinos do dia seguinte. Qualquer coisa deve ser melhor do que correr este castelo inteiro mais uma vez.

Jon poderia pegar a menina rapidamente, esticar as mãos assim que ela desse seus primeiros passos curtos. Mas ela não se divertiria assim, então ele fingia correr atrás, por toda a Fortaleza antes de agarrá-la pela cintura e erguer seu corpo para um abraço cheio de cócegas. Apenas para escutar seus risos ecoarem nas paredes sérias.

Um Conto No InvernoWhere stories live. Discover now