Capítulo XII - Jon

1.5K 88 106
                                    

O metal fez um ruído abafado ao se encontrar com a madeira. Ele não costumava beber sem nenhum motivo, mas deu uma taça de folga a si mesmo, os deuses sabiam o quanto ele estava precisando. Seus olhos foram para as dúzias de cartas que se amontoavam sobre sua mesa, aquelas trazidas por corvos enroladas em si mesmas para esconder seu conteúdo. A maioria não era boas notícias, apenas mais problemas dos lordes que marchavam para o Norte, como se ele não tivesse complicações suficientes. Mas uma carta o fizera abrir o odre de vinho escuro e encher um cálice. Seu cavaleiro chegara naquela manhã, com uma bandeira branca às suas costas, mas ele só tivera tempo de ler seu conteúdo agora, tarde da noite. Havia quebrado o selo monotonamente, o sono enevoando seus olhos e mal o deixando perceber o sigilo gravado na cera vermelha. Lera as linhas que a preenchiam, de uma caligrafia trabalhada, rapidamente. Mas a leitura nem valera o esforço, era apenas mais um exército anunciando sua vinda para a Muralha.

- Ao menos não pedem carne... Eu tenho cara de açougueiro? - Perguntou para Fantasma que aproveitava as últimas ondas de calor das brasas incandescentes da lareira. O lobo mal ergueu as orelhas para ele, escancarando a boca em um bocejo repleto de dentes afiados. - Também estou com sono. - Murmurou ao jogar a carta para o lado. Por algum capricho dos deuses, uma brisa gelada entrou pela janela, fazendo o papel virar a parte escrita para a mesa, deixando o lacre à mostra. Jon franziu a testa ao ver o desenho brilhando ao fogo das velas. Apanhou rapidamente a carta e baixou a visão para o remetente e sua assinatura. "Rainha Daenerys, da Casa Targaryen."

A carta ao estava lá. Em cima de todas as outras, mas ele não a leria mais, não precisava. Já havia a relido até que as palavras começaram a ficar borradas e a correr juntas. Passou a mão pelo rosto. O que ela quer aqui? Na verdade sabia o que ela queria. O Norte sendo o último país que restava para seu domínio era lógico que ela subisse para reclamá-lo. Ele apenas havia imaginado uma chegada mais hostil da sua tia. Jon fechou os olhos e estremeceu quando aquela palavra apareceu em sua mente. Não, pensou levando a taça à boca e sorvendo o último gole. Não pense nisso agora. Há coisas mais importantes.

De fato havia, e uma delas bateu em sua porta naquela noite. Arya segurava um rolo de papel, tão fino como seu dedo, enrolada no antigo manto do irmão, e sorria fracamente.

- Estão lhe chamando lá embaixo. - Disse afastando fios soltos do cabelo que voltava ao tamanho que ele se lembrava. O rei no Norte abriu a boca para discordar, diria alguma desculpa sobre trabalho a ser feito, quando ela ergueu o papel e bateu em seu braço rapidamente como um bote de cobra dornesa. - Eu não viria se não fosse importante, então não recuse.

Ele sorriu, se desculpando. Agarrou as luvas e pôs o manto que Sansa lhe dera por cima dos ombros. Fantasma ergueu-se nas patas e se espreguiçou assim que percebeu que ele iria sair. - Não precisa vir, rapaz. - Mas o lobo o ignorou e passou pela porta aberta roçando o corpo ao dele como se o apressasse. Não estranhou isso, o lobo gigante não o deixava por muito tempo só, a não ser quando saía para caçar, desde que ele retornara do outro lado.

Eles desceram as escadas de seu novo quarto. Edd Doloroso Tollett não aceitara que o Rei no Norte dormisse atrás do arsenal, e inventara que seu antigo quarto estava cheio de lã. "Muita lã. Você se sentiria uma ovelha se entrasse lá." Tudo para instalá-lo na Torre do Rei.

A neve era nova e o ar fresco quando eles chegaram ao pátio. Arya o guiou para além dos limites de Castelo Negro, para onde muitos haviam montado seus acampamentos. Levou-o por entre as inúmeras tentas, onde muitos provavelmente dormiam, até que parassem em frente a grande locação do Lorde Manderly, onde um estandarte de tritão tremulava.

A garota pôs o dedo indicador sob os lábios. - Faça silêncio. - E, não dando tempo para que ele perguntasse "por quê?", empurrou-o panos adentro. O ambiente era abafado e estava cheio de pessoas, com uma lareira lutando para espalhar o calor a todos e uma mesa abarrotada de bacias d'água turva. Mas a primeira coisa que ele viu foi o sangue. Uma mulher deitava-se em meio às cobertas e o cheiro metálico invadiu suas narinas, fazendo-o se lembrar da visão que Bran lhe mostrara recentemente. "Prometa-me, Ned..." Piscou para afastar o eco e a sensação ruim. Pensou em perguntar por que infernos haviam deixado a pobre mulher naquela situação, quando viu o bebê. A pequena criatura aninhava-se nos braços do pai, o enorme Lorde Manderly, que sorria para o embrulho de panos como um tolo.

Um Conto No InvernoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora