Capítulo XIX - Daenerys

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A sensação implodiu em seu corpo adormecido apartir do baixo ventre. Devagar ela foi sendo içada de seu sono pela agradável pressão que esticava-se tão firme e contínua que ela não quis abrir os olhos para não acabar com o leve prazer a qual estava sendo agraciada por algum sonho. Contorceu o corpo sem pensar, deixando que as borbulhantes correntes fossem suas guias. E, como se estivesse realmente mergulhada em um devaneio quente de sua mente, levou a mão até o meio das pernas para dar sequência àquela comoção de suas percepções, afundando os dedos em fios macios e sedosos.

Abriu os olhos repentinamente, e o ar de seus pulmões paralisou-se a meio caminho de sair por sua boca, aberta em uma exclamação muda. Arfou profundamente, tomando golfadas para aplacar a fúria da descarga que percorria suas ligações em um rompante avassalador. Suas mãos agarraram-se aos fios, que ela acabara de reconhecer como o cabelo de seu esposo, e puxou sua cabeça para si, beijando-lhe os lábios cheios que haviam lhe proporcionado àquela pequena prova de que o paraíso existia.

Daenerys enlaçou as pernas na cintura do rei, afastando seu rosto para ver seus olhos reluzirem como o gume de uma espada às primeiras luzes do sol de inverno. – Essa deve ser a melhor maneira de acordar. – Sussurrou e ele sorriu, tocando seus lábios brevemente antes de se deixar cair nos travesseiros ao seu lado. A mulher espreguiçou-se, alongando os músculos ainda comprimidos pela noite de sono, depois virou-se, dando-lhe um último beijo mais profundo para se levantar da cama.

O homem segurou seu pulso, impedindo-a de sair. – Aonde vai?

— Chamar uma criada para me preparar um banho. – Respondeu e logo riu ao ver o brilho que perpassou pelo olhar de Jon Stark, batendo em sua mão em um estalo para afastá-lo. – Nem pense nisso. Eu realmente quero tomar banho desta vez.

— Nós sempre tomamos banho. – Ele murmurou, cruzando os braços ao se acomodar melhor no encosto da cama e soando extremamente contrariado.

A rainha balançou a cabeça, empertigando-se definitivamente para impedir alguma ação que a desviasse de seu plano e cobrindo o corpo com o fino penhoar de seda que repousava em uma cadeira acolchoada; o rosto contorcido em descrença. – Sim, com um pequeno atraso, variando de uma à duas horas.

Ele abriu a boca desenhada por espíritos luxuriosos, mas não pode emitir nenhum som que se assemelhasse a protesto, o barulho da porta escondida do quarto estrondou no cômodo calmo como um sino na madrugada. Dany encarou a pequena camareira que coloriu o rosto com uma rapidez impressionante ao avistar o rei despido na cama bagunçada. Em seu alvoroço envergonhado, a menina derrubou todas as peças brancas que trazia nos braços e abaixou-se no chão para apanhar as toalhas e lençóis quase em uma reverência desesperada. Escondendo o rosto nos tecidos, ela tentou juntar tudo o que deixara cair, mas terminava falhando miseravelmente.

— E-Eu... P-Perd-dão, vossa... V-Vossas... Eu n-não quis... Quero dizer q-que... – A voz pouco sonora denunciava uma filha dos portos da capital, provavelmente criada sem nenhuma comida descente até parar nas cozinhas reais. E suas mãos finas pareciam mínimas demais para recolher todos os panos, que escorregavam delas com peixes recém-pescados.

Daenerys mordeu o lábio fortemente, sem saber se ria da pobre garota ajoelhada ou do homem deitado, tão corado quanto uma virgem em seu leito nupcial, e tão soterrado em lençóis como se estivesse esperando o frio das Terras de Sempre Inverno. O riso conseguiu escapar-lhe pelo nariz, em um som muito pouco digno da realeza, mas ela respirou fundo e com uma ação merecedora de aplausos afastou o ataque de histeria que estava prestes a ter.

— O que está fazendo aqui, menina? – Perguntou com a voz surpreendentemente controlada para seu estado. A parte de sua mente que não estava tomada pela cena utopicamente ridícula que presenciava lembrou-lhe que as arrumadeiras não apareciam em seu quarto antes que ela se levantasse há tempos, não depois que se casara. Ela havia suposto que as mulheres houvessem subentendido que os monarcas precisavam de certa privacidade; vendo a menina apavorada na soleira de sua porta, percebeu que não.

Um Conto No InvernoWhere stories live. Discover now