Capítulo II - Jon

1.9K 129 35
                                    

Encarando o teto ele ouviu duas batidas secas na porta de madeira. Franzindo a testa levantou-se, jogou as cobertas para o lado e saiu da cama. Seus pés tocaram o chão frio e seu corpo inteiro clamou para que ele voltasse para o conforto das peles. Mas há muito o sol se pora, então o que quer que viesse na sua porta tão tarde merecia sua atenção e o sacrifício de se expôr ao frio cortante.

Assim, ele rapidamente pegou Garralonga e tocou a cabeça de Fantasma, mas o lobo já estava acordado observando o dono com seus brilhantes olhos vermelhos.

— Posso dormir com você? — A voz de Arya soava envergonhada e receosa, além de quase não passar de um sussurro.

Jon havia esperado muitas coisas, todos os tipos de ideias ruins sobre o que poderia ser necessário para alguém lhe incomodar à madrugada tinham permeado sua cabeça. Apenas não havia esperado Arya, muito menos aquele pedido.

Se ela fizesse tal pergunta há alguns anos atrás, ele não teria ficado surpreso. Teria rido e puxado a garota chorosa para dentro dizendo: "Claro, irmãzinha" e ainda teria assanhado-lhe os cabelos. Quando eles eram menores, era isso o que acontecia. Bran e Arya adoravam escutar as histórias que a Velha Ama contava, principalmente as assustadoras. Lady Catelyn não aprovava que suas crianças ouvissem coisas tão macabras, mas eles fingiam-se de valentes e ignoravam os avisos da mãe. Mais tarde, à noite, era comum que um deles viesse bater em sua porta, com os olhos molhados, procurando conforto no irmão mais velho. Arya com frequência, era mais comum que Bran fosse ter com Robb, mas a garota sempre o procurava para que ele espantasse os pesadelos.

Mas isso havia sido há tempos atrás, quando eles ainda não tinham deixado Winterfell. Agora eles haviam passado por muitas coisas, Arya em Braavos, pelo o que ele ouvira. Eram pessoas muito diferentes, e ele não sabia o que fazer com a garota parada na sua soleira.

— Arya... Você tem idade de casar agora, não acho que isso seria... Apropriado. — Era verdade, a honra dela poderia ficar manchada caso alguém soubesse daquilo, por mais que eles não fizessem absolutamente nada. E Jon queria que ela encontrasse um bom lorde para casar e tentar ser feliz um dia.

— Todos aqui sabem que eu fazia isso, e não importa o que aquela dragão diga, você é meu irmão e pronto. — Jon sorriu com esse comentário tipicamente dela, mas assim que lembrou-se da rainha, seu sorriso esmoreceu. Arya pareceu repentinamente interessada nos próprios pés que apareciam no fim da longa roupa de dormir. — E... Eu tive pesadelos. — Ela engoliu em seco com dificuldade. — Tenho tido pesadelos há muito tempo. — Levantou os grandes olhos cinzentos. — Por favor, Jon. Só hoje.

O ar frio da noite a fez tremer e aquelas palavras destruíram as barreiras que ele tinha criado nos poucos minutos que ela aparecera ali. Sendo vencido por três palavras de uma garotinha. Deixe seus inimigos descobrirem isso e você estará arruinado, Jon, reclamou consigo mesmo enquanto deixava a garota entrar.

Ela abaixou-se e acariciou o lobo dizendo-lhe palavras gentis. Fantasma fechou os olhos e inclinou a cabeça para mais perto dela.

— Onde está Nymeria? — Jon perguntou colocando a espada em cima do rústico móvel de madeira que usava para guardar suas roupas. Sua mente atirou as flechadas de perguntas, imaginando se realmente devia  ter deixado ela entrar.

— Caçando. Ela não saía desde a última tempestade, estava inquieta. — Arya levantou-se e, como se ainda fosse uma garotinha, subiu na cama dele, engatinhando para debaixo do cobertor aquecido. Ela percebeu que ele havia parado e estava encarando-a e franziu a testa. — O que foi?

Uma garotinha. Quem sabe ainda não consigo encontrar a minha irmãzinha de antes?, pensou e depois riu. — Nada. — Ele disse subindo na cama receoso, aquilo ainda lhe parecendo estranho.

Um Conto No InvernoTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon